Ex-coordenador de tecnologia gravou conversas com diretor administrativo. TCU apura suspeita de favorecimento a fornecedores no órgão
O diretor de administração da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Francisco José Nunes Ferreira e um funcionário da área de tecnologia tiveram conversas gravadas, as quais indicam a tentativa de favorecer empresas em contratos com o órgão. As informações são do jornal O Estado de SP.
Os aúdios foram gravados entre setembro e outubro de 2017. Neles, Francisco José pede ao coordenador de tecnologia da informação à época, Bruno Rebello, um direcionamento nas compras da Funai para empresas determinadas, na área de informática.
Rebello foi o responsável pela gravações e pela denúncia ao Tribunal de Contas da União (TCU), onde o processo está em andamento. Franklimberg Ribeiro de Freitas, presidente da Funai na ocasião, também recebeu a denúncia pelo coordenador. Ele deixou o cargo em abril de 2018. Bruno Rebello foi exonerado do seu cargo no mesmo mês.
Nas gravações, Francisco Ferreira liga os pedidos à empresas ligadas à parlamentares, que de acrodo com ele, têm relação com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e com o senador Romero Jucá (RR), presidente do MDB. Outro nome ligado à operação é o do deputado André Moura (PSC-SE). Este era a peça chave para manter Ferreira no cargo e garantir sua autonomia nas decisões, na ausência do presidente Franklimberg. Procurado pela reportagem, Moura confirmou o pedido. Francisco nega as acusações.
Em outro diálogo, Ferreira fala em atendimento a um “grupo” do Congresso e pede a Rebello que compre um equipamento no valor de R$ 1,58 milhão. “Deve ser esse aí, precisa ver na área técnica. Sei que é esse produto aqui, R$ 1,58 (milhão) que eles falaram”, afirma Ferreira. Segundo o coordenador, havia outros processos de compra de produtos em andamento no setor, mas o diretor ignora a informação e pede a Rebello para anotar todos os itens a serem comprados, preocupado com o prazo para “arrumar a casa” e fazer as aquisições.
“Resolve isso aí pra mim. Sabe por quê? Eles… A gente tem que afinar com esses caras (políticos), porque a gente não vai ficar muito tempo aqui não”, afirma Ferreira na gravação.
O aúdio também sugere uma espécie de ameaça à Rebello, sugerindo estar sendo pressionado a trocá-lo. Em resposta, ele afirma estar convencido da colaboração do coordenador com “o grupo”.“Me deram um currículo pro teu lugar. Eu falei, “Não… O cara lá é bom. O rapaz lá é bom”. Ele (parlamentar não identificado) disse, “Deixa eu ver se ele trabalha com a gente mesmo”. Eu disse, “Trabalha, tem nenhum problema não. O general (Franklimberg) é que ficou jogando intriguinha entre mim e os coordenadores, mas a turma toda é meu amigo”, diz Ferreira.
Na sequência, o diretor da Funai afirma ter recebido um pedido para liberação de R$ 338 mil para instalação de uma “fábrica de software” para funcionar no Ministério da Justiça. Quando Rebello diz não acreditar na eficácia do projeto, Francisco pede para ele “ir junto com a gente, que vai se dar bem”.
Pressão Em outra conversa gravada, no dia 21 de setembro, Ferreira cobrou a conclusão das transações e diz ser pressionado pelos parlamentares para o fechamento dos contratos. Em um outro diálogo, Rebello demonstra preocupação com a falta de recursos da Funai para bancar as compras. O diretor afirma estar tudo previamente acertado com Jucá. “Então é só ele (presidente da Funai) assinar e o Jucá libera o recurso?”, questiona Rebello. “Libera, pode ficar tranquilo. Isso aí tá tudo organizadinho”, responde Ferreira.
O diretor, em uma das conversas, insiste na adesão de uma ata de preços para compra de “canetas digitalizadoras”, mesmo sem a existência de uma demanda. O objetivo era aumentar a quantidade de produtos da ata, beneficiando a empresa fornecedora. O pedido, de acordo com Ferreira, se tratava do pedido de um parlamentar ligado a Padilha.
As canetas digitais não se enquadram como produtos de tecnologia da informação, e sim na categoria de itens comuns, afirma Rebello. Ferreira, então, insiste na adesão à ata, mesmo admitindo não saber a real necessidade de utilização do produto. Segundo o diretor da Funai, as 100 unidades a mais das canetas solicitadas por ele custariam R$ 780 mil à instituição. A compra não foi efetivada.