Operação Câmbio Desligo, que ocorre em seis Estados, Paraguai e Uruguai, mira bando suspeito de crimes financeiros e lavagem de dinheiro
A PF (Polícia Federal) iniciou a operação Câmbio, Desligo, desdobramento da Lava Jato, na manhã desta quinta-feira (3). As investigações apontam a existência de um sistema chamado Bank Drop, composto por 3.000 empresas offshores em 52 países, e que movimentava US$ 1,6 bilhão.
Os alvos são doleiros, clientes desse sistema e usuários finais do esquema. Um dos mandados é contra o doleiro Dário Messer, que tem residência tanto no Rio de Janeiro quanto no Paraguai.
A operação foi deflagrada com base na delação dos doleiros Vinícius Vieira Barreto Claret, o Juca Bala, e Cláudio Fernando Barbosa, o Tony. Ambos trabalhavam em esquema que envolvia o ex-governador Sergio Cabral (MDB).
As ações ocorrem nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Brasília, além do Paraguai e do Uruguai.
Prisões e buscas
A polícia cumpre 43 mandados de prisão preventiva no Brasil e seis no exterior, quatro de prisão temporária e 51 de busca e apreensão.
Os mandados foram expedidos pelo juiz federal Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.
A ação investiga um grupo especializado em crimes financeiros e evasão de divisas, responsável por complexa estrutura de lavagem de dinheiro transnacional, ocultação e ocultação de divisas.
Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, a operação conta com o apoio de autoridades uruguaias para o cumprimento de mandados no local.
Dário Messer
Principal alvo da operação, Messer é um antigo doleiro do Rio de Janeiro que após o caso Banestado - maior escândalo de lavagem de dinheiro da história do Brasil — mudou sua banca para o Uruguai e para o Paraguai.
Messer seria o nome por trás do operador Vincius Claret, o Juca Bala, apontado pela Lava Jato do Rio de Janeiro como um dos responsáveis por lavar o dinheiro desviado pelo grupo do ex-governador Sergio Cabral (MDB). Na delação dos executivos da Odebrecht, Juca Bala é apontado como um laranja de Messer no Uruguai.
Na primeira delação de Alberto Youssef, em 2004, o doleiro aponta Messer como um dos "doleiros de doleiros", responsável por dar "cobertura de mercado" a outros operadores financeiros menores que atuavam no dólar-cabo e em outras transações para lavagem de dinheiro.
Em um depoimento dado em 2004 ao juiz Sergio Moro e aos procuradores da força-tarefa CC5, Youssef disse que naquela época eram poucos "doleiros de doleiros" no Brasil e que um deles, além do próprio Youssef, era Messer.
"Bom, um era eu, a Tupi Câmbios, a Acaray, Câmbio Real, Sílvio Anspach, o Messer do Rio, o Rui Leite e o Armando Santoni. O Antônio Pires, eu nunca negociei com ele, então o meu relacionamento com ele era praticamente zero, eu conheço de nome e sei com quem ele operava, mas nunca assim", disse Youssef.
Operador de uma das contas da Beacon Hill — conta-ônibus no JP Morgan Chase, de Nova York, no qual vários doleiros brasileiros mantinham sub-contas, Messer foi um dos alvos da operação Farol da Colina, sob tutela do até então desconhecido juiz Sergio Moro. Somente na Beacon Hill, as autoridades encontraram movimentações de US$ 13 bilhões provenientes de brasileiros.
Quando os investigadores do Banestado chegaram a Messer, ele se mudou, segundo Youssef, para o Uruguai. "A mesa do Messer foi para o Uruguai, eles estão trabalhando lá com sistema de call back, o Juan Miguel que é do Integracion também está no Uruguai, também estão trabalhando com o sistema call back. Sobrou o pessoal do Rio que está lá, estão quebrados, mas ainda continuam no mercado operando um pouco", afirmou o doleiro que deu origem à Lava Jato.