Amigo do presidente, Coronel Lima teria se juntado ao "quadrilhão do MDB" para cometer vários delitos e arrecadar propina em diversos órgãos
O coronel João Baptista de Lima Filho intermediou o recebimento de R$ 1 milhão de propina para uma organização criminosa em nome do presidente Michel Temer, que foi paga pelo grupo J&F, afirmou o MPF (Ministério Público Federal) de Brasília ao aditar denúncia contra o chamado "quadrilhão do PMDB da Câmara" em acusação sigilosa, que foi obtida pela Reuters.
Para o MPF, o coronel Lima, como é conhecido, agregou-se ao núcleo financeiro da organização criminosa para cometer vários delitos, em especial contra a administração pública, para a arrecadação de propina em diversos órgãos.
"Seu papel na organização criminosa era o de auxiliar os demais integrantes do núcleo político na arrecadação da propina, em especial seu líder, Michel Temer, conforme já narrado na peça acusatória", afirma o MPF, na acusação feita no dia 21 de março.
Em nota, o advogado Cristiano Benzoto, que defende o coronel, afirmou ao R7que só irá se pronunciar após ter acesso ao inteiro teor dos autos do processo. Ele diz que "Lima nega veementemente a prática ou participação em qualquer conduta irregular ou ilícita".
Também em nota, o Planalto diz que "todas as atribuições do coronel João Batista Lima Sobrinho em campanhas do presidente Michel Temer sempre foram pautadas pela legalidade, lisura e correção".
"Essa velha acusação volta a ser requentada hoje pelas autoridades sem que haja provas reais. Depoimentos continuam repletos de contradições e incoerências", afirma o texto.
O comunicado ainda diz que a manifestação do MPF se trata de "ficções em série" e tem o objetivo de "manter campanha difamatória contra o presidente sem que as investigações produzam fatos reais".
Nesta segunda-feira (9), a Justiça Federal de Brasília aceitou denúncia por organização criminosa contra o coronel Lima, o advogado José Yunes, ambos amigos de Temer, e outros envolvidos.
Recentemente, Lima e Yunes chegaram a ser presos de forma temporária por determinação do ministro Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), no âmbito da Operação Skala, um desdobramento do inquérito que investiga o próprio Temer por recebimento de propina na edição de um decreto que alterou regras em concessões portuárias.
O caso do "quadrilhão do MDB" é desdobramento na primeira instância da denúncia feita pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer e outros aliados no ano passado. Essa acusação criminal foi barrada pela Câmara, mas o Ministério Público Federal pediu o desdobramento do caso em relação a pessoas que não detinham foro privilegiado.
Em março, procuradores da República da força-tarefa da operação Greenfield confirmaram a denúncia feita por Janot e ainda acrescentaram novos acusados e fatos a partir de documentos coletados pela operação Patmos, deflagrada em maio do ano passado e que teve como principal alvo Temer.
A denúncia aditada cita relatos de delatores da J&F, grupo que controla a JBS que apontam o coronel Lima como o receptor da propina em nome de Temer. Na busca e apreensão feita em um endereço do coronel, descobriu-se uma série de papéis que o relacionaram ao presidente.
"Tais elementos indicam que João Baptista Lima Filho faz a gestão do recebimento dos recursos e doações de campanha para Michel Temer há décadas e corroboram tudo o quanto exposto acerca das condutas mais recentes do coronel Lima no âmbito da organização criminosa", cita o MPF.