Desconhecimento de economia básica e ausência de plano de governo, além da truculência gerariam desconfiança nos investidores
Após uma traumática recessão econômica de dois anos, o Brasil parece ter entrado em um ritmo de retomada mais robusto. Com juros e inflação em quedas históricas, indústria e comércio começam a ficar mais otimistas com a recuperação do crescimento. O mercado financeiro também elevou ligeiramente suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) nesta semana. A expectativa saiu de uma uma alta de 2,83% para 2,89%, segundo relatório Focus. O ano de 2018, no entanto, traz um ingrediente que pode desmoronar qualquer previsão atual: as eleições presidenciais.
Na avaliação de Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria Tendências, o cenário positivo esperado para este ano possui todos os fundamentos para se materializar, mas depende de um panorama em que o candidato favorito a ocupar a presidência tenha uma agenda a favor de reformas liberais e de controle de gastos do Estado. "O que segura um pouco o crescimento de 2,8% é a incerteza eleitoral", disse Ribeiro em evento da Câmara Espanhola de Comércio nesta quinta-feira. Na projeção atual da consultoria Tendências, um candidato de centro-direita tem 60% de chances de ganhar as eleições deste ano.
O economista e ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nobrega, também concorda que hoje vivemos no campo da expectativa e não há nenhum tipo de blindagem na economia brasileira. "Se amanhã o [Jair] Bolsonaro aparecer com 40% nas intenções de voto, tudo despenca: a Bolsa, o câmbio vai para 4 reais, a confiança diminui e o risco do crescimento de 3% cair é grande. Temos uma reversão rápida do cenário atual", disse em palestra.
As chances de que Bolsonaro (PSC) ou que outro candidato "populista" vença o pleito não passam de 20%, de acordo com Nobrega. "Para a eleição de um populista, seria preciso algum fato novo ou de um centro muito fragmentado. O mercado financeiro criou uma bolsa de apostas e o Bolsonaro está ganhando. Mas seria uma catástrofe, ele não tem nenhuma habilidade. É um fenômeno das redes sociais", explica. O economista ressalta que é ilusório os agentes de mercado pensarem que Bolsonaro será uma ótima solução para o país apenas porque ele escolheu para comandar a pasta da Fazenda Paulo Guedes, um economista de corte liberal. "O mercado é muito superficial em análise política, ele muda rapidamente de opinião, porque vive no curto prazo", diz Nobrega. "Se Bolsonaro for eleito, será o terceiro impeachment da democracia brasileira recente", completa o ex-ministro da Fazenda.
Pesquisa Datafolha, do fim de janeiro, mostrou que Bolsonaro aparece em primeiro lugar no principal cenário sem o ex-presidente Lula (PT), com 18%. Ele supera Marina Silva(Rede),Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). Nobrega acredita, no entanto, que o pré-candidato do PSC pode encolher bastante quando a campanha eleitoral começar efetivamente. "Bolsonaro não terá tempo na propaganda da TV, possui uma baixa inteligência emocional. Reage sempre mal a qualquer tipo de provocação", diz.
Papel das redes sociais
Ainda que haja um consenso de que em 2018 as redes sociais tendem a ter um papel bastante relevante nas campanhas, Nobrega aconselha cautela ao olhar os números desse segmento. Ele questiona, por exemplo, o impacto do aplicativo de mensagens WhatsApp, que possui 120 milhões de usuários. "Uma grande parte dos usuários são de jovens que não votam. Hoje, segundo pesquisas, 69% da população brasileira ainda se informa sobre política pela TV aberta. Só 57% dos brasileiros tem acesso a internet e 99% ao rádio e TV", ressalta.
Segundo um levantamento da empresa Zeeng no fim do ano passado, Jair Bolsonaro é o pré-candidato mais forte nas redes sociais com números absolutos. Dos doze nomes analisados pela pesquisa, o Bolsonaro lidera em todos os aspectos como número de seguidores, reações no Facebook, curtidas no Instagram, engajamentos no Twitter e busca de campo no Google.