Aos 18 anos, ele foi preso com maconha e alegou “estar desempregado”; ninguém sabe quem apadrinhou o jovem que não tem nenhuma graduação no cargo
Aos 19 anos de idade, Mikael Tavares Medeiros trabalha como gestor financeiro de Recursos Logísticos no Ministério do Trabalho. Em bom português, é ele o responsável pela liberação do dinheiro público para os contratos assinados pela pasta.
Para se ter uma noção da responsabilidade de Mikael, os pagamentos autorizados pelo seu cargo a fornecedores do Ministério do Trabalho giram em torno de R$ 473 milhões por ano. Para assumí-lo, porém, o jovem não precisou nem de experiência na área, nem de graduação completa.
Mikael é filho do delegado da Polícia Civil de Goiás Cristiomario de Souza Medeiros, que preside o PTB em uma cidade próxima a Brasília. O Delegado Cristiomario, como se apresenta aos eleitores de Planaltina de Goiás e região, é aliado do deputado Jovair Arantes (GO), líder do partido na Câmara.
De acordo com o jornal O Globo , que contou a história do jovem nessa quinta-feira (8), ninguém assume a paternidade da nomeação de Mikael ao cargo que ele ocupa hoje.
A trajetória do estudante – que entrou na faculdade recentemente – na pasta começou em outubro do ano passado, quando foi nomeado coordenador de documentação e informação pelo então ministro Ronaldo Nogueira, do PTB. Seu salário inicial era de R$ 5,1 mil bruto por mês.
A nomeação dele para o cargo de gestor financeiro do ministério foi assinada dois meses depois, em dezembro, pelo então secretário-executivo da pasta, Helton Yomura – hoje, ministro interino do Trabalho.
De acordo com a reportagem, o jovem tornou-se apadrinhado do presidente nacional do PTB, o ex-deputado federal e condenado no Mensalão Roberto Jefferson, desde que a nomeação da deputada federal carioca Cristiane Brasil, filha de Jefferson, foi interrompida. No Twitter, porém, Roberto Jefferson afirmou que desconhece o adolescente.
Mesmo com o suposto apadrinhamento, a indicação de Mikael para o cargo teria tido a participação de seu pai, diz o jornal.
Ainda de acordo com o O Globo , a mãe do rapaz não vive com o pai dele, é diarista, beneficiária do Bolsa Família e tem outros três filhos. Segundo ela, o adolescente não mora com a família há meses e nem ajuda nas despesas da casa – o que lhe garante o direito ao recebimento do benefício.
Questionado pelo jornal, o pai de Mikael negou ter sido o responsável pela indicação do filho ao cargo que ocupa hoje. “Não sei qual cargo ele ocupa lá. Sei que ele esteve passando por gabinetes e participou de reuniões comigo no PTB. Eu inseri ele no partido. Sugeri a ele sair procurando. Talvez tenha conseguido alguma amizade”, destacou.
Segundo o delegado Cristiomario, seu filho não é filiado à legenda. Entretanto, segundo registros no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Mikael está filiado ao Partido da Mulher Brasileira (PMB) desde março de 2016.
“Não me perguntaram em momento algum sobre o cargo. Nem eu liguei para ninguém para que a nomeação ocorresse. Ponho meu filho para trabalhar desde os 16 anos de idade. Aqui na cidade ele era vendedor de óculos numa loja”, disse o delegado Medeiros. Nos últimos meses, segundo a reportagem, sua vida passou por mudanças rápidas.
Afinal, em abril de 2017, foi levado à Justiça por policiais militares por porte de 13,6 gramas de maconha. No episódio, ele tinha 18 anos de idade e informou estar desempregado. O emprego como vendedor de óculo foi o único de Mikael antes do Ministério do Trabalho.