Desconfiados da estimativa, revelada por uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), de que cerca de 12% dos estudantes universitários brasileiros sofrem com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), um grupo de pesquisadores, liderado pelo psiquiatra Paulo Mattos, do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), decidiu experimentar pequenas alterações no método de diagnóstico atualmente utilizado. O resultado do estudo, publicado na Revista Brasileira de Psicologia, sugere que os diagnósticos de TDAH poderiam ser menores.
— Uma das razões para que estejam ocorrendo tantos diagnósticos equivocados é a forma como são feitas e compreendidas as perguntas. Muitos indivíduos respondiam “sim”, o que confirma o TDAH. Mas quando pedíamos para que as pessoas dessem exemplos sobre aquilo que elas tinham acabado de afirmar, eles não batiam.
O estudo foi realizado com 726 estudantes universitários, que responderam a 18 perguntas do K-SADS, principal ferramenta para diagnóstico do transtorno. Pouco mais de 30% dos participantes foram submetidos também ao questionário modificado.
No fim da pesquisa, 8% do total de estudantes foram diagnosticados com TDAH baseado no K-SADS e apenas 4,5%, quando era preciso dar um exemplo para a resposta.
— Um diagnóstico errado implica em orientações que não respondem às demandas do paciente, além da possibilidade de ele utilizar uma medicação que não corrige as alterações cerebrais decorrentes do seu transtorno. Ainda há a possibilidade de exposição a efeitos colaterais desnecessários — comenta Bruno Palazzo, pesquisador da UFRJ.