Marcar horário para fazer ligações para pessoas que moram distante. Isso parece coisa de antigamente, mas acontece até hoje. Com as filhas morando longe, uma em Brasília e outra na Espanha, o aposentado morador de Bangu, Jonas Francisco de Oliveira, de 65 anos, só se comunica com elas por telefone fixo e tem horário certo para isso. Jonas faz parte de um grupo de 63 milhões de brasileiros que não acessam a internet, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, coletados em 2016.
Como ele, a maior parte dos brasileiros que não usavam a internet naquele ano não o faziam por falta de conhecimento. Cerca 23,9 milhões de pessoas não se conectaram no período do levantamento porque não sabiam usar a rede mundial — um contingente de 37,8%.
— As minhas irmãs falam com minhas filhas pelo computador, mas eu só falo com elas com horário marcado por ligação comum. Meu celular é caidinho — conta Jonas. — Acho que seria muito difícil aprender usar a internet agora porque já estou idoso. Todo mundo da minha família usa, menos eu.
A dificuldade de usar a internet era seguida de perto pela falta de interesse (37,6%) na lista dos principais motivos para a desconexão. Este é o caso da doméstica Mônica Lopes, de 52 anos. Ela acha que o número de malefícios é maior que o de benefícios.
— Não tenho vontade alguma de mexer na internet. Existem até algumas coisas boas que ela oferece, mas eu prefiro não usá-la. Minha sobrinha insiste, mas eu acho que isso só traz desgraça. Minha amiga morreu quando foi assaltada porque estava usando o celular na rua, o médico deixou de atender meu filho doente para ficar mexendo no celular. Eu já tenho muita preocupação.
Conversas são as campeãs
Pela primeira vez, o IBGE estimou quais as atividades mais populares entre os brasileiros na internet. A resposta não poderia ser diferente: no país do WhatsApp, 94,5% afirmam que se conectam para trocar mensagens por meio de aplicativos. Assistir a vídeos em plataformas como YouTube e Netflix aparece na segunda colocação, com 76,4% das respostas, enquanto chamadas de voz e vídeo — outra função dos apps de comunicação — vêm em seguida, com 73,3%. Trocar e-mails é o que menos se faz : 69,3% afirmaram que usam esse serviço, que já foi um dos principais motivos para se conectar à web.
— Isso tem uma explicação. É a história do WhatsApp, de ficar mais barato mandar mensagem. Basta estar com WiFi que você resolve sua situação — destaca Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
As opções indicadas na pesquisa não se excluem. Ou seja: quem respondeu que usa a internet para trocar mensagens pode também ter dito que assiste a vídeos. Por isso, os percentuais superam 100%.