A possibilidade foi discutida como Ideia Legislativa e recebeu, até o início de fevereiro, 22.667 apoios da população
A intensidade dos sintomas da endometriose varia entre as pacientes. Mas existem grupos para os quais as dores, que vão de cólica menstrual intensa a dor pélvica crônica, são geralmente incapacitantes. Para elas, está em discussão no Senado Federal a possibilidade de a doença ser reconhecida pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Assim, no caso de uma mulher cuja endometriose traga sintomas incapacitantes, ela poderá ter o direito ao afastamento da vida produtiva sem maiores prejuízos.
A possibilidade foi discutida como Ideia Legislativa e recebeu, até o início de fevereiro, 22.667 apoios da população. A partir do apoio número 20.000, a ideia passa a ser uma sugestão legislativa, e será encaminhada à Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado. Lá, serão debatidas e convertidas em Projetos de Lei ou Propostas de Emenda à Constituição. Quem desejar pode acompanhar a discussão pelo site do Senado.
Como os sintomas são muito diferentes entre as mulheres, especialistas na área questionam a generalidade da proposta. “A endometriose é uma doença de espectro muito grande. Vai desde mulheres sem nenhum sintoma até aquelas com diminuição na qualidade de vida importante no período menstrual”, explica Rodrigo da Rosa Filho, médico ginecologista obstetra e especialista em reprodução humana, diretor clínico e sócio-fundados da clínica de reprodução humana Mater Prime, em São Paulo.
Além disso, uma vez em tratamento, boa parte das mulheres tende a ter um bom controle clínico da doença, segundo William Kondo, médico ginecologista e cirurgião geral do hospital VITA Batel e do Centro Médico Hospitalar Sugisawa. “Para uma parcela, a doença pode, sim, afetar muito, mas o tratamento normalmente promove um restabelecimento satisfatório dessa qualidade de vida”, reforça o especialista. Dos tratamentos, o uso de medicamentos, com ou sem a necessidade de cirurgia, são os mais comuns.
“O princípio mais importante do tratamento cirúrgico é que a doença deve ser removida o mais completamente possível, o que muitas vezes necessita de procedimentos mais extensos, principalmente nas endometrioses profundas com acometimento do trato intestinal e urinário”, diz Kondo.
Sete anos de endometriose
Por achar que as dores são comuns e fazem parte do processo, muitas mulheres com endometriose chegam aos consultórios com a doença em fase avançada e, geralmente, com os sintomas mais severos – embora não seja sempre o caso.
“Nos exames, às vezes vemos uma endometriose profunda, mas que a mulher não tem muitos sintomas. E o contrário também acontece. Uma endometriose mais leve, com desconforto muito grande para a paciente”, explica Rosa Filho.
Sete anos é o tempo que geralmente leva para a mulher receber o diagnóstico da endometriose, desde o início dos sintomas, por achar que as dores menstruais são normais.
Doença comum
Cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva têm endometriose, mas nem todas têm a manifestação da doença. Trata-se de uma doença comum, porém subdiagnosticada e o diagnóstico é feito, principalmente, a partir da história clínica da paciente.
A endometriose é uma doença ginecológica que surge quando há presença do tecido semelhante ao endométrio em órgãos fora do útero, segundo informações da Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva. O endométrio é a camada de tecido que recobre, internamente, a cavidade do útero. A menstruação é o próprio endométrio descamado ao fim do ciclo menstrual.
Dos sintomas mais comuns da doença, estão a cólica menstrual, dor profunda na vagina ou na pelve durante relação sexual, dor pélvica contínua não relacionada a menstruação, diarreia no período menstrual ou obstipação intestinal, dor para evacuar, sangramento nas fezes, dor para urinar, sangramento na urina e infertilidade. No caso desses sinais, procure um especialista, pois podem indicar outras doenças ginecológicas.
“Se há cólicas com piora ao longo do tempo, dor durante a relação sexual e infertilidade, a suspeita recai sobre a endometriose”, diz Rodrigo da Rosa Filho, médico ginecologista e obstetra.