A Polícia Federal intimou novamente o ex-coronel João Batista Lima, da Polícia Militar de São Paulo, a depor no inquérito que apura suposto favorecimento de empresas no setor de portos com um decreto assinado pelo presidente Michel Temer em 2017.
A suspeita do Ministério Público Federal é de que executivos da Rodrimar pagaram propina para que a empresa, que atua no ramo portuário, fosse beneficiada com a edição do decreto. Temer e a companhia negam.
A PF tenta ouvir Lima desde 2017, mas o ex-coronel da PM alega motivos de saúde para não comparecer ao interrogatório. Como o blog publicou em janeiro, Lima foi intimado no final do ano passado, mas informou à PF que não compareceria porque o estado de saúde dele estava "bastante delicado".
Na última terça-feira, dia 30, no entanto, o delegado Cleyber Malta Lopes, responsável pelo inquérito que investiga Temer e aliados, pediu que Lima seja intimado novamente, "tendo em vista a importância do depoimento do investigado para esclarecimentos dos fatos apurados na presente investigação".
Lima é apontado pela Procuradoria Geral da República (PGR), com base na delação da JBS, como um dos intermediários de propina que supostamente seria paga ao presidente no caso do decreto de portos.
Mensagens telefônicas
Em relatório anexado ao inquérito, ao qual o blog teve acesso, a PF analisa mensagens telefônicas trocadas entre Lima e uma pessoa não identificada pelos investigadores chamada Maria Helena. Na mensagem, no dia 30 de abril de 2017, o coronel Lima diz: "amiga, nessas condições ainda tenho esperança de receber as 'gorjetas' que você não me deu".
Diz a PF: "a conversa chama atenção pelo fato de o coronel aparentemente fazer uma cobrança, utilizando o termo gorjeta".
Os investigadores querem que Lima esclareça em interrogatório do que se trata a conversa.
A conversa ocorreu no mesmo período em que Rodrigo Rocha Loures foi flagrado recebendo uma mala de dinheiro da JBS em uma pizzaria. O encontro do ex-assessor de Temer com a JBS foi em 28 de abril, dois dias antes da conversa citada acima.
Outra conversa citada pela Polícia Federal no inquérito é uma troca de mensagens entre Lima e um interlocutor chamado Miguel de Oliveira. No diálogo, também no dia 30 de abril de 2017, lê-se: "recebeu pouco. Nas minhas contas deveria ter recebido R$ 120 mil. Estão 'garfando' o coitado".
Diz a PF: "A conversa aparentemente remete a um pagamento feito a alguém, que teria sido enganado, pois o valor pago deveria ter sido maior".
Lima e Rodrimar
Os investigadores também querem esclarecimentos sobre a relação do amigo de Temer com os executivos da empresa Rodrimar. Em depoimento em dezembro de 2017, no âmbito das investigações sobre o setor de Portos, o diretor da Rodrimar, Antonio Celso Grecco, afirmou à Polícia Federal que mantinha relações com Lima.
No interrogatório, ao qual a Globonews teve acesso, Grecco disse ter sido apresentado a Lima por Eduardo Neves, que chegou a ocupar a presidência do conselho de administração do grupo Rodrimar. Neves possuía uma empresa de projetos, a MHA, que "prestava e presta" serviços à Argeplan, que tem como sócio o coronel Lima. "Desde então, eventualmente encontrava-se com o coronel Lima para almoçar".
Grecco negou aos investigadores que tenha realizado qualquer negócio ou transferido valores a Lima e afirmou que o coronel "nunca comentou sobre qualquer vínculo com o presidente Michel Temer ou mesmo se teria qualquer negócio com o presidente".
O último contato entre o diretor da Rodrimar e Lima, segundo o depoimento, foi há cerca de quatro anos.
Desde domingo, o blog tenta contato com o advogado de Lima, Cristiano Benzota, mas não obteve retorno até a publicação deste post.
A defesa de Rocha Loures também não retornou os contatos do blog.