Memorando, encomendado por republicanos, coloca em xeque o futuro do procurador especial Robert Mueller.
A tensão entre o governo de Donald Trump e a principal agência de segurança dos Estados Unidos, o FBI, chegou a novo patamar nesta sexta-feira.
Alvo de disputa entre o presidente e políticos republicanos, de um lado, e diretores da agência e congressistas democratas, de outro, um memorando que acusa o FBI de "abuso de poder" e conspiração contra a campanha de Trump foi divulgado com o consentimento do presidente no fim da manhã desta sexta, em Washington, contrariando recomendações expressas da agência de segurança - o FBI seria o equivalente à Polícia Federal no Brasil.
Encomendado por políticos republicanos, o documento teve sua classificação de segurança rebaixada para a divulgação. O texto afirma que o FBI usou fontes e informações tendenciosas para justificar sua "espionagem" contra um membro da campanha de Trump.
Questionado por jornalistas sobre o conteúdo, o presidente afirmou que "muita gente deveria se sentir envergonhada" pelas ações descritas no memorando.
Pelo Twitter, na manhã desta sexta, Trump antecipou a divulgação do documento, dizendo que diretores da agência de segurança e do departamento de Justiça americano politizaram suas investigações para prejudicar seu governo e o Partido Republicano, favorecendo seus rivais democratas.
"Isso seria inimaginável pouco tempo atrás", escreveu Trump.
A divulgação coloca em xeque o futuro do procurador especial Robert Mueller, principal responsável pela condução no FBI das investigações sobre uma eventual interferência da Rússia nas eleições americanas - e desafeto de Trump.
Segundo a imprensa americana, o conteúdo do memorando pode ser usado como justificativa para a demissão de Mueller. Ainda de acordo com veículos nos EUA, o diretor do FBI, Christopher Wray, pode pedir desligamento da agência como resposta à divulgação.
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A divulgação do documento indica um racha definitivo entre o governo Trump e os principais diretores do FBI e do Departamento de Justiça dos EUA.
Em quatro páginas, o memorando acusa os dois órgãos de omitirem que a fonte para o pedido de monitoramento de Carter Page, um auxiliar de Trump na campanha presidencial, seria um dossiê produzido, em grande parte, por encomenda dos rivais democratas.
Page virou alvo do FBI após uma série de viagens para a Rússia em 2016, quando trabalhava como conselheiro de política externa da campanha Trump - ele nega qualquer aliança entre republicanos e russos.
Produzido pelo ex-espião britânico Christopher Steele, o dossiê que teria servido como base para a autorização de monitoramento de Page pelo FBI recebeu recursos de membros da campanha de Hillary Clinton.
O objetivo dos democratas com a encomenda do dossiê seria encontrar novas informações sobre o suposto apoio de russos ao republicano durante as eleições.
Segundo o texto do memorando, a omissão da fonte representaria "uma quebra preocupante dos processos legais estabelecidos para proteger o povo americano de abusos".
O documento recém-divulgado descreve ainda Steele como alguém "desesperado" para que Trump não vencesse - tornando, na opinião dos republicanos, o material politicamente tendencioso.
Atrapalhar investigações
Para democratas, o objetivo dos republicanos com a divulgação do documento seria atrapalhar as investigações sobre um suposto conluio entre Trump e autoridades russas durante as eleições, contra a então adversária Hillary Clinton.
O FBI, em um raro comentário público sobre este tipo de controvérsia, disse durante a semana que estava "seriamente preocupado" com a divulgação do memorando, que em sua visão omitiria informações importantes sobre a investigação para criar uma impressão equivocada sobre a atuação da agência.
Até a publicação desta reportagem, a agência não havia comentado a divulgação do texto, nem as críticas feitas por Trump pelo Twitter.
Pela mesma rede social, o ex-diretor do FBI James Comey, que foi demitido por Trump já em meio às investigações sobre os russos, em maio, a divulgação do memorando "destrói a confiança" do povo americano na agência de inteligência americana.
FONTE: BBC BRASIL