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BOMBA DO DIA: Escombros do Petrolão - plataformas de petróleo novinhas são vendidas como sucata



Os cascos de duas plataformas para exploração de petróleo que estavam quase prontas viraram sucata no Estaleiro Rio Grande (RS). As 152 mil toneladas de aço das plataformas P-71 e P-72 foram vendidas por R$ 70 milhões para a siderúrgica Gerdau. Os cascos estão sendo desmanchados na base do maçarico há três meses. A empresa Ecovix, braço de construção naval da Engevix, entrou em recuperação judicial após a Operação Lava Jato e não conseguiu cumprir o contrato firmado com uma subsidiária da Petrobras, a Tupi BV.


Dois integrantes da cúpula da Engevix, Gerson Almada e Antunes Sobrinho, foram condenados pela Justiça Federal em primeira instância por envolvimento no escândalo do petrolão, que apurou o pagamento de propina a políticos a partir do superfaturamento de obras contratadas pela Petrobras.


O Estaleiro Rio Grande atingiu o seu auge em 2013, quando chegou a contar com 24 mil trabalhadores. Naquele ano, estava concluindo o casco da plataforma P-66, destinada à exploração de petróleo no Campo de Lula. Os recursos para a infraestrutura do Polo Naval saíram do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal.


A cidade viveu um boom econômico com a geração de empregos, investimentos imobiliários e a chegada de técnicos com alto poder de consumo. Mas as consequências da Lava Jato impediram a entrega dos três primeiros dos oito cascos contratados. O serviço foi concluído por outras empresas. Hoje, restam 1,5 mil metalúrgicos trabalhando no estaleiro.

O Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande tentou durante meses uma engenharia técnico-econômica que permitisse, pelo menos, a conclusão da P-71 e P-72. Mas a Petrobras optou pela venda do material como sucata. “É uma lástima, um crime de lesa-pátria. Compraram o aço a preço de ouro e estão vendendo a preço de lixo”, afirmou o presidente do sindicato, Benito Gonçalves.


A decisão do modelo de venda

A Petrobras informou à Gazeta do Povo que os contratos para a construção dos cascos foram encerrados em dezembro de 2016, “em razão dos inadimplementos contratuais e atrasos da Ecovix, que se mostrou incapaz de concluir as obras para as quais fora contratada. Após a rescisão, a Ecovix ficou responsável pela destinação dos bens atualmente estocados no Estaleiro Rio Grande”.


Sobre a venda dos restos dos cascos como sucata, a Petrobras disse que “a decisão pelo modelo de venda destes materiais buscará o melhor resultado financeiro para a Tupi BV [empresa contratante]. Por questões de ordem técnica e econômica, a alternativa de aproveitar os blocos já fabricados não é a que melhor atende os interesses da Petrobras e de seus parceiros”.


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A Petrobras afirma, porém, que não é responsável direta pelos contratos. Informou que a Tupi BV é uma empresa formada pela Petrobras Netherlands BV (65%), BG Gas Netherlands BV (25%) e Galp-Sinopec (10%). “Os contratos para construção dos cascos mencionados foram firmados entre as empresas Tupi BV e Petrobras Netherlands BV com a empresa Ecovix, não sendo a Petrobras parte nestas relações contratuais”.

A estatal destaca, ainda, que a Tupi BV tem valores a receber da Ecovix decorrentes do encerramento contratual, como compensação por prejuízos, e os custos adicionais para concluir os cascos deixados incompletos pelo braço naval da Engevix. “No entanto, como a Ecovix está em recuperação judicial, a forma de pagamento à Tupi BV será definido no âmbito daquele processo”, diz nota da empresa.


Sindicato muda de estratégia

No final do ano passado, o Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande chegou a conseguir uma liminar na Justiça para interromper por um mês o corte das chapas de aço. Até agora, foram desmontadas apenas 6 mil toneladas. Nesta quarta-feira (17), porém, o presidente do sindicato anunciou a decisão de mudar a estratégia.


Segundo relatou, numa reunião em Brasília, foi informado que a decisão da estatal é irreversível: “A Petrobras está licitando a P-71 fora do país e está desconsiderando totalmente o término aqui. E a P-71 está dentro do dique seco, que é o segundo maior dique do mundo, e tem várias empresas internacionais interessadas nesse dique. Isso pode gerar emprego aqui. Só que essa plataforma lá dentro se torna um entrave. A gente está fazendo um movimento ao inverso para tentar acelerar esse corte, para ver se gera empregos imediatos”.


Gonçalves já manteve uma reunião com a empresa que está cortando o aço, buscando prioridade para os metalúrgicos de Rio Grande, que estão desempregados. “Se for um mês ou dois de corte, podemos chegar a 700 homens. Para quem está desempregado, 30 ou 60 dias de trabalho é dinheiro no bolso”.


Mas o presidente do sindicato ainda acha que o melhor seria concluir a montagem da plataforma: “sai mais barato concluir o casco. O que falta está ali do lado. É só colocar para cima e soldar. Na P-71, os 73 blocos estão prontos. A P-72 já tinha 70 blocos prontos, faltavam três para completar. O que eles estão fazendo é um imenso crime com o município de Rio Grande e com o dinheiro público”, lamenta o sindicalista.


Gonçalves afirma que o envolvimento da Engevix na Lava Jato foi decisivo, mas aponta contradição na decisão da Petrobras: “Esse é o principal questionamento da Petrobras. Só que eu falei na última reunião: a Ecovix está envolvida porque é da Engevix e não pode concluir o projeto. Mas, no Rio de Janeiro, três ou quatro empresas que estavam totalmente envolvidas na Lava Jato tiveram o perdão da Petrobras via Justiça, podem licitar e estão concluindo as plataformas. Por que somente aqui no Sul não pode?”.

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