A maior parte das pistolas e revólveres que vão parar nas mãos de facções criminosas, principalmente do Sudeste do Brasil, vem do Paraguai. Os rifles e fuzis, por sua vez, têm origem nos Estados Unidos. Isso é o que mostra o rastreamento de 9.879 armas apreendidas pela Polícia Federal (PF). Bolívia, Argentina e Uruguai vêm em seguida na lista das principais origens.
O rastreamento começou a ser feito em 2014 com a criação de um centro específico para esse trabalho e atingiu, nos últimos dois anos, o recorde de unidades monitoradas. A maior parte das armas foi rastreada a partir de apreensões na cidade do Rio de Janeiro – 99% das unidades entram no país por fronteira terrestre.
O tráfico de armas ocorre sobretudo na Tríplice Fronteira, nas cidades de Foz do Iguaçu (PR), Ciudad del Este (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina). De acordo com o relatório da PF, as principais rotas terrestres começam “em lojas nas cidades fronteiriças do Paraguai, passando pelo Paraná ou por Mato Grosso do Sul e depois são distribuídas em São Paulo e Rio de Janeiro”.
Nesses estados, diz a PF, os grupos criminosos usam as armas para proteger áreas do tráfico ou negociá-las (por meio de venda, aluguel ou empréstimo) com outras facções para roubos a bancos, cargas ou resgate de presos. Os fuzis americanos normalmente são usados em assaltos.
O relatório ainda aponta as fronteiras com a Bolívia (em Rondônia), Colômbia (no norte do Amazonas) e a fronteira com o Suriname como outros pontos de entrada de armas. A PF observou ainda uma rota que utiliza também pequenos aviões vindos da Bolívia e do Paraguai, que transportam drogas e armas com destino ao interior de São Paulo e de Minas.
Segundo a PF, além da Tríplice Fronteira, as outras principais vias de entrada são Ponta-Porã (MS) com Pedro Juan Caballero (Paraguai), Guaíra (PR) com Salto del Guaíra (Paraguai); Corumbá (MS) com Porto Suarez (Bolívia) e Santana do Livramento (RS) com Rivera (Uruguai).
Controle
Após a apreensão, a PF instaura uma investigação, que faz o caminho contrárioaté chegar às lojas em que as armas apreendidas no Brasil foram compradas. O objetivo é que sejam punidos não só os compradores, mas também os fornecedores de armamentos
Responsável pelo diagnóstico sobre o tráfico de armas no Brasil, o delegado Luiz Flávio Zampronha defende, além da melhoria da fiscalização nas fronteiras, uma atuação integrada entre os países do Mercosul — incluindo um sistema informatizado de controle para responder aos pedidos de rastreamento.
Para ele, esse trabalho já está avançado em relação a países da União Europeia e aos Estados Unidos. Nesses casos, assim que a PF rastreia uma arma apreendida dessas localidades, o país é acionado para buscar o fornecedor.
Zampronha também aponta a necessidade de controle dos estabelecimentos comerciais de armas de fogo em regiões de fronteira e a troca de informações sobre furtos e roubos de armas de arsenais públicos. Por fim, o relatório vê necessidade de diminuição nos limites de importação de pistolas, fuzis e munições e pede norma que limite o acesso e venda dessas armas à população .