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EXTRA: Aposentados do Brasil pagam a conta da corrupção





O presidente Michel Temer tem defendido com veemência a aprovação da Reforma da Previdência. Em entrevista exclusiva à coluna, chegou a afirmar que, caso isso não ocorra, será necessário cortar pensões e vencimentos de servidores.


Mas o que Temer não diz é que os aposentados vão acabar pagando o pato pelo roubo dos políticos aos cofres públicos.


Um levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo revela que o buraco da corrupção no País é muito maior que o da Previdência (veja mais no quadro abaixo).


Só para efeito de comparação: enquanto o ministro Henrique Meirelles projeta uma economia de R$ 48 bilhões anuais com a reforma, a Fiesp apurou que as práticas corruptas drenam dos cofres públicos assombrosos 2,3% do PIB brasileiro. Assim, considerando os R$ 6,266 trilhões responsáveis por toda a riqueza que produzimos, em 2016, teríamos R$ 144,1 bilhões destinados à bandidagem.


Dito de uma maneira mais direta: o dinheiro tungado pelos corruptos é, exatamente, o triplo do que Temer e Meirelles pretendem economizar com a reforma da Previdência.


Isso mesmo.


O triplo.

Na bandalheira com a coisa pública, as cifras nunca são acanhadas.

Vejamos o caso do Rio de Janeiro. Lá, o delegado da Polícia Federal, Alexandre Ramagem, que integra o grupo da Operação Lava Jato, estipula que o esquema montado por Sérgio Cabral, deputados estaduais e grandes empresários fez com que o Estado deixasse de arrecadar inacreditáveis R$ 183 bilhões nos últimos cinco anos.

Mais uma vez, a economia com a reforma da Previdência perde de lavada para a corrupção.

Aliás, no Brasil, Previdência e corrupção sempre andaram de mãos dadas. O caso mais célebre foi o da ex-advogada Jorgina de Freitas. Na década de 80, em conluio com servidores, promotores e juízes, ela surrupiou R$ 2 bilhões, do INSS, em valor atualizado.


Jorgina acabou condenada e presa, mas quantas outras Jorginas gozam a vida por aí, enquanto milhões de trabalhadores perdem o sono?

Só os que costumam almoçar com a Fada do Dente podem imaginar que a corrupção na própria Previdência é coisa do passado.


Parece óbvio que a angústia provocada pela eventual reforma da Previdência seria desnecessária caso o combate à corrupção fosse uma política de governo.


Calcula-se que, em 2017, o déficit nas contas da Previdência poderá ultrapassar os R$ 200 bilhões, um aumento substancioso em relação aos R$ 149 bilhões de 2016, que já era bem mais parrudo do que os R$ 85,81 de bilhões de 2015.


Ministro da Previdência Social com Lula e depois com Dilma, Carlos Gabas reconhece o desastre dos números, mas diz que a proposta da reforma está equivocada, e que antes dela é preciso fazer a tributária. "Não se pode sacrificar o peão e deixar quem ganha um milhão por mês sem pagar nada", destaca.


Para Gabas, falta "transparência" ao Governo, que não teria coragem de tocar em privilégios incrustados no serviço público, como o pagamento de R$ 4,37 mil para os juízes a título de auxílio-moradia, e deixar que "97% do Ministério Público ganhe acima do teto".


A numeralha exposta pelo Governo assombra qualquer contador de esquina, mas será que a reforma da Previdência é, de fato, a única alternativa para acabar com esse rombo crescente?

Acredito que não.


Sejamos francos, o dinheiro roubado pelos larápios de colarinho branco é muito maior do que aquele que o Governo pretende tirar a fórceps do bolso da peãozada, como disse Gabas.


A corrupção é a grande doença social. Desde tempos imemoriais, ela impede o nosso crescimento e nos condena a permanecer eternamente deitados em berço esplêndido.


Portanto, é na caça aos corruptos e não aos aposentados que o Governo deve se concentrar.

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