Fernando Segovia, recém-nomeado chefe da instituição, critica ainda os vazamentos de apurações em andamento e operações espetaculosas como a Carne Franca
Fernando Segovia, de 48 anos, usa dois aparelhos celulares. Em um, responde a dezenas de mensagens. No outro, acompanha as notícias, sobretudo aquelas que o mencionam. E não são poucas. Desde que tomou posse como diretor-geral da Polícia Federal, há um mês, Segovia vem dando o que falar. Foi apontado como apadrinhado do ex-presidente José Sarney e se envolveu numa polêmica ao dizer que “uma única mala” de dinheiro não era prova suficiente para incriminar o presidente Michel Temer. Em 22 anos de carreira na instituição, já foi da tropa de elite da PF e da adidância na África do Sul, mas se considera “100% policial”. Agora, planeja tornar a corporação “ainda mais republicana”, atendendo a um pedido de Temer. Em entrevista a VEJA, ele acusa o ex-procurador-geral Rodrigo Janot pelos resultados pífios da investigação sobre o presidente e critica as ações “com um certo viés político” adotadas pela instituição que agora chefia.
O seu nome não estava entre os mais cotados para comandar a PF. Como e por que o senhor foi escolhido? Havia uma lista de nove candidatos a diretor-geral. Esses nomes circularam entre associações e chegaram ao gabinete do ministro da Justiça, que começou a fazer algumas consultas. Num dado momento, o presidente me convidou para uma reunião. Ficamos conversando durante duas horas e pouco. Depois disso, o ministro da Justiça me convocou. Ao término desse encontro, ele disse que o presidente queria me convidar e que ele estava dando o aval.
O presidente Michel Temer lhe fez alguma recomendação? A única coisa que ele falou foi sobre a necessidade de uma polícia republicana. Eu respondi: “Lógico, presidente, a PF tem de seguir a Constituição, as leis do país. Pode estar certo de que, se eu for escolhido, vou fazer da Polícia Federal uma polícia republicana”.
A PF, então, não é republicana? A Polícia Federal é republicana, mas tem alguns problemas. A gente vê, de vez em quando, desvios de conduta e ações com certo viés político.
O senhor pode citar exemplos? Uma das coisas sobre as quais conversamos, eu e o presidente, foi a questão do vazamento. Qualquer vazamento que houver, vamos apurar. Isso é desvio. Soltar informação de uma investigação que ainda não foi concluída pode formar um prejulgamento.
A investigação que envolveu o presidente Temer pode ser considerada um desvio? Era a investigação mais sensível da história do país. Nunca um presidente da República havia sido investigado cometendo um suposto crime de corrupção no exercício do cargo. A operação estava fluindo. Houve a primeira conversa nebulosa de Joesley Batista com o presidente. Depois, encontros do empresário e de um executivo da JBS com o assessor de Temer, Rodrigo Rocha Loures, quando se vê a corrupção claramente. Faltava o quê? O elo com o presidente. Dizer que a ligação é o fato de o Rocha Loures ser assessor do presidente é leviandade. Numa investigação tão sensível, precisávamos de provas contundentes.