País ainda tem o 3º maior número de assassinatos de mulheres
O Brasil tem o maior número de mortes violentas registradas no mundo. O alerta faz parte de um novo informe publicado nesta quinta-feira pela entidade Small Arms Survey, considerada como referência mundial para a questão de violência armada. Em termos absolutos, a entidade aponta que a situação no Brasil supera a violência na Índia, Síria, Nigéria e Venezuela.
Gergely Hideg, autor do estudo, indica que seus cálculos chegaram a conclusão de que 70,2 mil pessoas foram vítimas de mortes violentas no Brasil em 2016. "O número é superior ao que as autoridades afirmam", disse o pesquisador, cuja instituição é financiada pelo governo da Suíça e seus dados usados como base em programas da ONU. Segundo ele, o número inclui as estatísticas oficiais de homicídios, mas também as mortes violentas não intencionais e mortes em intervenções legais.
O tamanho da população certamente tem um impacto nesses números. Mas, por si, só não explica a dimensão da violência. De uma forma geral, Hideg aponta para três fatores que estariam levando ao cenário de mortes: a falta do estado de direito para uma parcela da população, a cultura da violência e o crime organizado.
Em termos de homicídios, o estudo aponta para 58 mil mortes no Brasil em 2015. Não há dados disponíveis sobre 2016. "Em cidades como o Rio de Janeiro, a violência de gangues, o uso excessivo de força pelo estado, um sistema de Justiça criminal corrupto, a militarização de certas áreas e o acúmulo social de violência - onde violência gera mais violência - é o que marca as taxas extremamente elevadas de homicídios", diz o estudo.
"Traficantes de drogas, grupos de extermínio e milícias que promovem a extorsão de residentes de áreas inseguras, junto com a polícia e outros funcionários públicos que oferecem proteção a esses grupos, são centrais para a maioria dos crimes violentos que ocorrem no Rio", constata.
Com armas de fogo, a violência aumentou no Brasil entre 2015 e 2016. Hoje, mais de 20% dos homicídios são cometidos com essas armas.
Outra constatação do levantamento é de que o Brasil tem o terceiro maior número de mortes de mulheres no mundo. De acordo com o estudo, 84% das vítimas de mortes violentas são homens no planeta. Mas meninas e mulheres somaram ainda assim 87 mil mortes.
Em termos absolutos, foram 10,7 mil mortes de mulheres na Índia, 6,4 mil na Nigéria, 5,7 mil no Brasil e 4,4 mil no Paquistão.
Média
A entidade estima que, em 2016, 560 mil pessoas foram mortas pelo mundo de forma violenta. Isso representa um assassinato a cada minuto. Sozinho, porém, o Brasil representa mais de 12% dessas vítimas.
A taxa de 7,5 por cada 100 mil habitantes no mundo é um pouco mais baixa que os registros de 2014 e 2015. Mas, desse total, 385 mil foram homicídios intencionais, número que registrou a primeira alta desde 2004. Entre 2015 e 2016, a taxa subiu de 5,11 homicídios para cada 100 mil habitantes para 5,15.
O informe também constata que a maioria das mortes violentas não ocorre em países em guerra. Em 2016, mortes resultantes de conflitos representaram apenas 18% do total de mortes violentas no mundo. Dos 23 países mais perigosos do mundo, apenas nove sofrem com guerras.
Em campos de batalha, o número de mortes foi de 99 mil em 2016, abaixo dos 119 mil em 2015.
Se o Brasil lidera o ranking mundial em termos absolutos, é a Síria que tem o maior número de mortes por habitantes. Ela é seguida por El Salvador, Venezuela, Honduras e Afeganistão.
Nesse caso, a taxa no Brasil subiu entre 2015 para 2016. Ela era de cerca de 26 para cada 100 mil pessoas e passou para cerca de 30. Por esse critério, o País é o 16o mais violento do mundo, ainda assim superando países como Guatemala, Colômbia e República Centro Africana.
Se essa realidade não mudar, a ent
idade estima que, até 2030, 610 mil pessoas serão alvos de mortes violentas no mundo a cada ano.
O estudo ainda estima que 1,35 milhão de vidas poderiam ser salvas até 2030 se governos reconhecessem a dimensão do problema. Só em termos de homicídios. 825 mil deles poderiam ser evitados com medidas de controle e prevenção. A América Latina seria a região do mundo que mais se beneficiaria de uma mudança do comportamento de governos, com 489 mil vidas salvas até 2030.