Recessão de 2014 a 2016 deixa de ser a mais aguda do país, segundo IBGE
A diferença está na casa depois da vírgula, mas importa para o registro histórico: com a revisão de números feita pelo IBGE, a recessão de 2014-16 deixou de ser a mais aguda já medida no país.
Essa marca havia sido estabelecida pelo Codace, um comitê de economistas abrigado na Fundação Getulio Vargas que se dedica a determinar a duração e a intensidade dos ciclos econômicos.
Em outubro, o grupo calculou que a crise mais recente havia durado 11 trimestres –igualando o recorde de 1989-92– e provocado uma queda do Produto Interno Bruto de 8,6%, um pouco maior que os 8,5% de 1981-83.
O percentual foi apurado com base na série histórica de evolução do PIB divulgada um mês antes. Esses dados, porém, passam por reavaliações e ajustes periódicos, como aconteceu agora.
MENOS TRÁGICO
Com as novas contas do IBGE, o desempenho do Brasil no ano passado passou a parecer ligeiramente menos trágico –uma queda do PIB de 3,5%, em vez dos 3,6% medidos anteriormente.
No início de novembro, também já havia mudado a medida da retração de 2015, de 3,8% para 3,5%.
Dessa maneira, as novas estatísticas oficiais apontam que, do segundo trimestre de 2014 ao último de 2016, a produção e a renda do país encolheram 8,2%.
Mesmo antes dessa revisão, o epíteto de "maior recessão da história" já se mostrava questionável.
Em primeiro lugar, porque só há valores do PIB detalhados por trimestre a partir dos anos 1980. Mesmo cifras anuais só começaram a ser calculadas na década de 1940.
Adicionalmente, a metodologia de apuração passou por consideráveis mudanças nos últimos anos, tornando as comparações imprecisas.
Por fim, na recessão de 1981-83, provocada pela explosão da dívida externa brasileira, a taxa de crescimento da população era bem superior à atual –ou seja, a queda da renda por habitante era igualmente mais acentuada.
É indiscutível, de todo modo, que quatro grandes recessões se destacam na história do país desde o século 20.
A de 1930-31, decorrente da Grande Depressão norte-americana, enfraqueceu a oligarquia agrária e marcou o fim da República Velha.
Na crise da dívida externa, intensificaram-se as pressões pelo encerramento da ditadura militar; as contrações de 1989-92 e 2014-16 contribuíram decisivamente para a derrocada dos governos de, respectivamente, Fernando Collor e Dilma Rousseff.