O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo e um dos principais no segmento de carne suína.
A suspensão temporária de importações de carnes bovina e suína do Brasil pela Rússia tende a ser revertida em breve e deve ter impactos limitados para a indústria nacional e a imagem do produto brasileiro no exterior, disseram nesta terça-feira (21) uma associação de exportadores e um analista de mercado.
A agência de segurança alimentar da Rússia, importante importador do produto nacional, informou na segunda-feira (20) que o país restringirá temporariamente as compras das proteínas brasileiras, a partir de 1º de dezembro, alegando a presença de ractopamina em alguns carregamentos - o aditivo é proibido na nação euroasiática.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa a avicultura e a suinocultura do Brasil, disse ter recebido com preocupação a decisão russa, mas aposta no trabalho do governo brasileiro para "o pleno e rápido esclarecimento, retomando em breve os embarques".
"As agroindústrias associadas à ABPA respeitam a legislação sanitária da Rússia... O setor está seguro sobre as características de seu produto e garante que a produção de carne suína embarcada não utiliza ractopamina", afirmou a ABPA em nota.
A Rússia respondeu por cerca de 40% das vendas brasileiras de carne suína no acumulado do ano até setembro, segundo dados da ABPA, enquanto os russos representaram cerca de 11% das exportações de carne bovina do país até outubro, de acordo com outra associação, a Abiec.
O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo e um dos principais no segmento de carne suína.
A produtora e comercializadora de carne Minerva confirmou nesta terça-feira que as vendas da proteína bovina do Brasil para a Rússia serão temporariamente suspensas, e disse que a empresa exportará para a Rússia por unidades da companhia situadas em outros países.
'Efeito mercadológico'
Na mesma linha da associação de exportadores, o analista de mercado Aedson Pereira, da Informa Economics FNP, indicou que o anúncio russo deve ter efeito limitado sobre os embarques brasileiros, uma vez que as compras russas nesta época do ano já são sazonalmente menores dado o congelamento de alguns portos por causa do frio intenso.
"O que coincide com esse bloqueio temporário é que o Brasil exporta pouco para lá (nesta época), porque frio congela a estrutura portuária", disse ele.
"É provável que isso não seja prorrogado, acredito que o Ministério da Agricultura e autoridades do governo devam agir com celeridade para diagnosticar o cenário e fazer um acordo para que isso não se prorrogue", afirmou, lembrando que a Rússia ainda é dependente das carnes brasileiras.
Ele comentou ainda que o embargo temporário se segue a um aumento da alíquota de importação da carne brasileira por aquele país, numa tentativa de proteger a indústria local.
"Nos bastidores, vê-se uma ação para socorrer a cadeia produtora de lá... A carne brasileira estava chegando ao mercado russo muito competitiva. Estávamos observando nossa carne ganhando mais mercado. Então existe aí uma decisão de efeito mercadológico para proteger a indústria nacional (russa)", avaliou o analista.
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Para Pereira, o caso "não é danoso" à imagem da proteína brasileira no exterior, uma vez que a ractopamina, utilizada como um ingrediente à ração animal, é autorizada em outros países.
Procurada pela Reuters, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), que representa o setor de carne bovina, disse que não se pronunciará por ora.
A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) e o Ministério da Agricultura não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.
Na segunda-feira, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse em entrevista coletiva que as restrições da Rússia à carne bovina e suína do Brasil se referem apenas a algumas empresas e que essas companhias devem corrigir o problema identificado. "Se alguma empresa fraudou, deixou passar ou não conseguiu controlar isso, cabe a eles fazerem essas adequações", afirmou.