Fernando Segóvia substituiu Leandro Daiello, que comandou a PF por 6 anos. Novo diretor-geral prometeu 'continuidade' de operações especiais, como a Lava Jato, e defendeu harmonia com MP.
O delegado Fernando Segóvia assumiu oficialmente nesta segunda-feira (20) o posto de diretor-geral da Polícia Federal (PF) em uma solenidade de trasmissão de cargo realizada na sede do Ministério da Justiça, em Brasília. Ao discursar na cerimônia, o novo diretor-geral afirmou que o combate à corrupção continuará sendo prioritário no trabalho da corporação.
Em meio a sua fala, Segóvia também disse que trabalhará em harmonia com o Ministério Público no período em que estiver à frente da Polícia Federal. Nos últimos anos, PF e MP protagonizaram diversos episódios de disputa que geraram mal-estar, como na ocasião em que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot questionou a possibilidade de a PF negociar delações premiadas.
“Buscaremos o combate incansável à corrupção no Brasil, que continuará a ser agenda prioritária na Polícia Federal, tendo como premissa a continuidade de operações especiais, tais como Lava Jato, Cui Bono, Cadeia Velha, Lama Asfáltica e tantas outras em andamento nos inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal e nas varas da Justiça Federal Brasil afora” (Fernando Segóvia)
O delegado também chamou a atenção para o enfretamento do crime organizado, especialmente o tráfico de drogas e armas, crimes ambientais e eleitorais. Disse que nas eleições de 2018, a PF terá “papel republicano” e trabalhará com “isenção” na investigação de irregularidades.
“Coibindo qualquer tipo de crime, independentemente de partido político, garantindo assim a lisura no processo eleitoral e que a vontade do eleitor prevaleça a qualquer tipo de ação criminosa”, afirmou Segóvia ao assumir oficialmente o comando da corporação.
Quanto à relação com o Ministério Público, Segóvia reconheceu uma disputa de poder da PF com o órgão, responsável pela acusação em processos e também apto a realizar investigações.
“Há uma infeliz e triste situação de disputa institucional de poder entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Mas confio muito no espírito de maturidade institucional e profissional dos membros dessas instituições", ressaltou.
"Neste momento, tenho a oportunidade de escrever um novo capítulo dessa história, deixando de lado a vaidade e a sede de poder, buscando equilíbrio e entendimento em nossas ações em prol de toda a nação brasileira. Quem se beneficia mais da disputa é o crime organizado”, complementou o novo diretor-geral.
O presidente Michel Temer – que indicou Segóvia para o comando da PF – participou da cerômonia. O chefe do Executivo federal não discursou durante o evento. Depois de deixar a solenidade, Temer publicou uma mensagem no Twitter desejando "sucesso" ao novo diretor-geral.
O peemedebista também usou a rede social para agradecer o trabalho desempenhado por Leandro Daiello ao longo de 6 anos e 10 meses no cargo de diretor-geral da PF.
Além de Temer, também prestigiaram a solenidade, entre outras autoridades, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli.
Trajetória na PF
Há 22 anos na PF, Fernando Segóvia foi nomeado para o cargo de diretor-geral da corporação no dia 8. Ele substitui o delegado Leandro Daiello, que comandou a Polícia Federal durante quase 7 anos, período no qual foi deflagrada a Operação Lava Jato.
Apesar de ter assumido oficialmente o comando da PF nesta segunda-feira, Fernando Segóvia já havia sido empossado no cargo administrativamente no dia 10. Desde então, ele passou a montar sua equipe, trocando peças-chave da gestão do antecessor.
Daiello pediu aposentadoria da PF um dia após ser destituído da chefia da corporação. A aposentadoria dele foi publicada na edição desta segunda-feirado "Diário Oficial da União".
Antes de assumir o cargo mais alto da PF, Fernando Segóvia pertenceu a um grupamento de elite da corporação, o Comando de Operações Táticas (COT). Ele também já atuou como superintendente da PF no Maranhão, adido policial na África do Sul e coordenador, pela PF, da Campanha do Desarmamento.
Daiello
Se aposentando da carreira de delegado, Daiello falou dos sacrifícios necessários aos policiais. “A carreira de policial não é fácil, não lhe garante uma vida fácil”, disse Daiello, lembrando, por exemplo, do afastamento da família.
“Para vencer cada batalha, todos nós tivemos que abrir mão de muitas coisas das nossas vidas pessoais. O que me faz agradecer hoje não só a minha família, mas a família de cada um dos nossos colegas, pelo estimulo, pelo carinho, por tudo que fizeram para garantir que continuássemos em frente. A carreira de policial não é uma carreira fácil, não lhe garante uma vida fácil, mas é um privilégio”, discursou o agora ex-diretor-geral da PF.
Daiello é o segundo diretor-geral que mais tempo permaneceu no cargo (seis anos e dez meses, entre 2011 e 2017) – só ficou menos que Moacyr Coelho (11 anos, entre 1974 e 1985).