Os casos de armas dentro de escolas só costumam chegar aos jornais quando acontece uma tragédia. Como no caso do Colégio Goyases, em Goiânia, onde um aluno de 14 anos matou dois e feriu quatro com uma pistola .40.
Ou no chamado “Massacre de Realengo”, no Rio de Janeiro, em 2011, em que o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira entrou armado na Escola Tasso da Silveira, matou 12 adolescentes e depois cometeu suicídio.
Histórias como essa fazem reacender o debate do acesso às armas e do que podemos fazer para evitar que novos casos se repitam. Mas casos de alunos que levam armas para dentro das escolas acontecem com frequência muito maior do que se poderia esperar.
De acordo com o 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, só em 2015 (dado mais recente disponível) foram 4.225 situações em que alunos frequentaram a escola portando arma de fogo. As informações são de pesquisa de Avaliação Nacional do Rendimento Escolar de 2015 realizada pelo Inep. O levantamento se baseia no relato dos diretores das instituições de ensino.
“Para mostrar para os colegas”
Em 2010, no Colégio Adventistas de Embu, na Grande São Paulo, um menino de nove anos foi baleado a queima roupa dentro da sala de aula e morreu. Quem atirou foi um aluno da mesma idade. Segundo informações da época o menino teria pegado a arma do pai para mostrar na escola.
Episódios em que professores e diretores têm de recolher armas em posse de alunos se repetem. Com uma simples pesquisa no Google é possível encontrar casos como o da Escola Municipal Borges de Sá, em Manaus, em que um aluno de 12 anos levou um revólver calibre 38 “para mostrar aos colegas”, no dia 21 de março deste ano.
A 712 quilômetros de distância, no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé, no norte do Paraná, a situação se repete. Dessa vez uma adolescente de 16 anos foi para a aula, no dia 23 de outubro, portando arma calibre 32 e uma caixa com 20 projéteis também “para mostrar para as amigas”.
Também no Paraná, dois adolescentes de 13 e 15 anos foram pegos com uma pistola calibre 38, com duas balas, no Colégio Olinda Truffa de Carvalho, em Cascavel. De volta a Manaus, dessa vez na escola Escola Estadual Antônio Lucena Bittencourt, um aluno de 20 anos disparou acidentalmente um tiro de uma arma calibre 38 dentro da instituição, em maio deste ano.
Esses são poucos exemplos – dos muitos – que aconteceram apenas neste ano.
Curitiba
O vereador Professor Silberto (PMDB) trabalhou por 20 anos no Colégio Estadual Professor Teobal Leonardo Kletemberg, no bairro Sítio Cercado, em Curitiba. Foram 12 anos como professor e oito como diretor da instituição. Nesse período o vereador afirma que construiu uma relação de respeito e confiança com alunos e pais.
Essa confiança foi determinante para que o então diretor conseguisse, em duas ocasiões, retirar armas que estavam com alunos. Segundo ele, os alunos se sentiram seguros para denunciar essas situações de risco e os portadores das armas as entregaram sem grande confusão.
Os casos ocorreram em turmas do sétimo e oitavo anos. Brigas e ameaças fora da escola são normalmente os motivos. “Na escola a gente faz um papel pacificador, de chamar e conversar”, diz Professor Silberto sobre a importância que vê em manter o diálogo com os alunos.
Projeto quer flexibilizar o acesso às armas
O Projeto de Lei 3722/2012, de autoria do deputado federal Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC) revoga o Estatuto do Desarmamento e flexibiliza a venda de armas.
Veja como era o Brasil antes do estatuto no El País: Como era o Brasil quando as armas eram vendidas em shoppings e munição nas lojas de ferragem
Atualmente somente pessoas com mais de 25 anos podem comprar armas, o projeto pretende diminuir a idade para 21 anos. Na prática, crianças e adolescentes já conseguem ter acesso a armas de fogo, como revela a pesquisa do Inep. E o mais importante: as 4.225 ocasiões registradas no anuário foram as vezes e, que diretores e professores ficaram sabendo do ocorrido. E só nas escolas que participaram do levantamento.
Se aprovada, a proposta permitirá apenas uma única validação do porte de armas: hoje ela deve ser feita periodicamente. Em 2013, dez anos depois do lançamento do Estatuto do Desarmamento, uma pesquisa feita pelo Ipea mostrou uma diminuição de 12,6% na taxa de homicídios no país.
Enquanto se discutem formas de facilitar a compra e o porte de armas, continua sendo “fácil” entrar com armas e fogo em escolas, públicas e particulares. Só aumentar a segurança das instituições, obviamente, não é a resposta.