Tumor é o tipo mais comum em homens e a 2ª maior causa de morte deles
O câncer de próstata é o tipo mais comum entre os homens e a segunda maior causa de morte no sexo masculino. De acordo com o INCA (Instituto Nacional do Câncer), foram estimados 61.200 novos casos em 2016 e 2017 no Brasil e, atualmente, cerca de 20% dos diagnósticos são feitos em estágios avançados. Para conscientizar a população masculina a cuidar da saúde e prevenir doenças como o câncer de próstata, inicia-se nesta quarta-feira (1º) a campanha Novembro Azul, e o R7 fará uma série de reportagens sobre o tema.
Dados da SBU-SP (Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo) mostram que a doença ocorre principalmente nos mais velhos. Cerca de seis em cada dez casos são diagnosticados em homens com mais de 65 anos, sendo raro antes dos 40 anos. A média de idade no momento do diagnóstico é de 66 anos, e a taxa de incidência é maior nos países desenvolvidos em comparação aos países em desenvolvimento.
Segundo o urologista e presidente da SBU-SP, Flavio Trigo, 80% eram diagnosticados já na fase avançada. “Às vezes, se fazia o diagnóstico pelas metástases. O paciente chegava com dores ósseos, emagrecimento e, quando se procurava o foco, encontrava o câncer. Hoje em dia, 80% dos cânceres são diagnosticados em fase inicial e o paciente tem possibilidade de cura.
O especialista ainda explica que o panorama de câncer de próstata no Brasil ainda não é o ideal, mas afirma que o acesso ao diagnóstico melhorou. Se a doença for diagnosticada logo no início, aumenta-se em 90% as chances de cura. Por isso, a detecção precoce e o cuidado em geral com a saúde são essenciais, já que na fase inicial o paciente não apresenta sintomas.
— O cenário mudou bastante por conta das campanhas de conscientização, principalmente, em relação ao exame de toque a à intervenção das parceiras, que cobram que eles se cuidem da mesma forma que elas. Os homens começaram a fazer mais consultas de rotina, tanto na rede pública quando na rede privada, e a fazer os exames preventivos.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda que homens a partir dos 50 anos façam os exames de próstata e de PSA [exame de sangue] anualmente. Estudos revelam que a incidência de câncer de próstata aumenta consideravelmente com a idade, chegando a 80% aos 80 anos, enquanto que entre os 20 e 30 anos é de apenas 2% a 8%. Já os homens negros ou que têm histórico na família devem iniciar estes cuidados aos 40 anos, explica Trigo.
— Homens da raça negra têm predisposição ao câncer de próstata e os de raça amarela têm menos, por questão genética, e não social. Nos EUA, onde o acesso à saúde é mais igualitário que no Brasil, há predomínio na raça negra nos casos de câncer de próstata.
Nem sempre tem sintomas
Segundo a SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica), na fase inicial, muitos pacientes podem não apresentar sintomas. Alguns podem ter sinais semelhantes aos do crescimento benigno da próstata, como dificuldade de urinar, necessidade de fazer xixi mais vezes durante o dia ou à noite. Já na fase avançada, podem surgir jato urinário fraco ou interrompido, sangue na urina ou no líquido seminal (sêmen), disfunção erétil, fraqueza ou dormência nas pernas ou pés e dor nos ossos, como ombros, quadril e coxas.
Trigo recomenda que os homens não esperam aparecer os sintomas para procurar atendimento médico. “O melhor é diagnosticar o problema antes de chegar na fase dos sintomas, pois o câncer pode estar avançado. Com o diagnóstico na fase inicial, o índice de cura é superior a 80%”.
Os tratamentos indicados para o câncer de próstata são cirurgia e radioterapia quando o tumor está localizado apenas na próstata. Já a hormonioterapia, costuma ser utilizada quando o câncer está mais avançado e consiste em bloquear a produção da testosterona, o hormônio masculino. “Quando tudo isso falha, usamos a quimioterapia”, explica Trigo.
Mesmo com o diagnóstico precoce, é bastante comum pacientes não terem o devido tratamento por conta da demora no SUS (Sistema Único de Saúde), denuncia o oncologista e presidente da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica), Gustavo Fernandes.
— A disponibilidade dos tratamentos não é rápida pelo SUS. Por isso, muitos médicos acabam fazendo hormonioterapia para “segurar” este paciente até que se possa fazer o tratamento mais adequado e definitivo, mesmo que ele tenha sido diagnosticado precocemente. Em Brasília, por exemplo, nós convocamos pacientes com câncer de próstata que estão há um ano esperando para se tratar e, neste tempo, muita coisa pode acontecer.
Medo das sequelas
As sequelas mais comuns do câncer de próstata são disfunção erétil, popularmente conhecida como impotência sexual (20% e 40% dos casos), e incontinência urinária (5% a 10%).
— O medo mais comum dos pacientes é de morrer em decorrência da doença. Quando se fala em tratamento, muitos temem ficar impotentes, mas a maioria tem medo de desenvolver incontinência urinária. Quanto mais velho ele for, mas chances ele tem de ter sequelas.
No entanto, não é necessário ter medo porque a maioria das complicações é de caráter temporário, tranquiliza o urologista. “Muitas delas se revertem entre três meses e um ano. Se não melhorarem, é possível tratá-las”.
Já o caso da hormonioterapia, a sequela mais comum é a perda de libido. “O homem deixa de ter vontade de manter relações sexuais e, na maioria dos casos, tem disfunção erétil, além de perda óssea e muscular.
Outra complicação da doença é a infertilidade, explica Trigo.
— Toda vez que se remove a próstata automaticamente o homem se torna infértil porque se remove também as vesículas seminais, que fornecem nutrientes para os espermatozoides. O homem deixa de ter ejaculação, mas não para de ter orgasmos. Se o paciente ainda quiser ter filhos ele pode congelar o sêmen em clínicas especializadas.
A maioria destes tumores cresce de forma tão lenta (leva cerca de 15 anos para atingir 1 cm³) e não chega a dar sinais durante a vida e nem a ameaçar a saúde do homem, segundo o INCA. "Em casos em que o tumor é bem pequeno e pouco agressivo, o paciente pode adotar a chamada conduta de vigilância ativa, que consiste em fazer exames periódicos sem retirar a próstata nem tomar medicamentos, principalmente se ele quiser ter filhos biológicos.", completa o especialista.