O câncer de bexiga é o nono mais frequente na população. Fumantes têm até cinco vezes mais chances de desenvolver a doença
Quando uma pessoa fuma um cigarro, está flertando com cerca de 50 doenças diferentes, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Considerando-se somente o câncer, são 12 tipos diferentes causados pelo tabagismo e, embora o de pulmão seja o mais comum, outros órgãos e sistemas do corpo podem ser afetados, inclusive a bexiga.
Embora não seja muito divulgado, o câncer na bexiga é um dos dez tipos de câncer mais frequentes na população, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cancerologia. “Muitas substâncias tóxicas são absorvidas pela corrente sanguínea e também eliminadas por ela. Como a urina é armazenada na bexiga, essas substâncias podem causar alterações crônicas no órgão, inclusive o câncer.” A explicação é do oncologista e membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) André Sasse. Ele afirma que a incidência de câncer de bexiga é cinco vezes maior em pacientes que fumam.
Um dos principais sintomas pode ser, também, o responsável pela taxa de mais de 90% de cura: sangramento na urina. Sasse avalia que expelir sangue ao urinar assusta muitos pacientes, o que possibilita um diagnóstico precoce. Quadros de dor acompanhando o sangramento são menos frequentes, mas também podem ocorrer.
Esse tipo de câncer é mais frequente em homens que em mulheres. Segundo o Inca, das 3.642 pessoas que morreram pela doença em 2013 em todo o Brasil, 2.542 eram homens. “Geralmente são homens que fumam desde a infância. A doença aparece por volta dos 60, 70 anos de idade. Isso quer dizer que essas pessoas tiveram uma exposição intensa e por muito tempo ao cigarro”, diz o oncologista.
O especialista ainda destaca que, em muitos casos, o paciente já parou de fumar quando desenvolve o câncer na bexiga. “O cigarro é prejudicial desde o começo. Mesmo pessoas que conseguiram interromper o tabagismo ainda carregam lesões no corpo que serão carregadas pelo resto da vida.”
Diagnóstico e tratamento
Diagnosticar o câncer na bexiga começa com uma cistoscopia. O exame é feito pela uretra e avalia se há lesões sugestivas de tumor. Se a doença for superficial, o tratamento consiste na retirada do tumor e uma raspagem no órgão.
Nos casos de doença infiltrativa é necessário retirar a bexiga e fazer uma derivação urinária para o paciente. Combina-se, então, a cirurgia com sessões de quimioterapia.
Em casos mais raros pode-se fazer uma bexiga artificial, mas, para isso, é preciso que o paciente esteja em bom estado geral. Trata-se de um procedimento complicado e pouco frequente.
Histórias de superação
O oncologista André Sasse cita alguns bons casos que passaram por suas mãos. “Houve um paciente que não quis fazer a retirada da bexiga por causa da derivação. Então fomos fazendo as resseções. Ele desenvolveu uma metástase óssea, mas foi tratado com quimioterapia e teve remissão completa da doença.” Ele explica, no entanto, que esse foi um dos raros casos em que a cura se deu por meio da quimioterapia.
“O cigarro é um grande vilão não só pelo contato da fumaça com o pulmão, a boca e a garganta. Nosso corpo precisa trabalhar muito para eliminar esses detritos e esse processo pode causar muitos danos.”
João Carlos Behrens, 68 anos, fuma desde os 10. Tanto tempo de exposição ao cigarro foi um dos principais fatores para que ele fosse diagnosticado com câncer na bexiga há um ano. “Eu sabia que podia causar muitos problemas, mas da bexiga eu não tinha conhecimento.” Mesmo com o tratamento em curso – ele passou por uma cirurgia e tem feito terapia intravesical -, ele não deixou o vício.
Para Marina Guimarães, oncologista do Instituto de Hematologia e Oncologia Curitiba e responsável pelo tratamento de João, esse seria um passo fundamental para garantir que o tumor não volte. “Ele é um caso clássico de câncer de bexiga, pela idade e período como fumante. Conversamos muito sobre a importância de deixar o cigarro, mas até agora ele não conseguiu.”