Presidente tem maioria, mas base aliada na Câmara demonstra sinais de rebeldia
Embora o presidente Michel Temer conte com confortável maioria para derrubar a segunda denúncia na Câmara, a base aliada vem demonstrando sinais de rebeldia, e o governo deve contabilizar menos votos desta vez. As perdas poderão ser debitadas na conta do próprio governo, que não conseguiu contornar os problemas acumulados entre seus apoiadores. Alguns partidos ligados ao Palácio do Planalto já admitem que menos gente votará para arquivar a acusação do Ministério Público de que Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral) participaram de uma organização criminosa e obstruíram a Justiça. É o caso do DEM, que está em pé de guerra com o PMDB por conta da disputa por filiações partidárias, e o PSD, insatisfeito com o fato de o Planalto não ter retaliado os partidos infiéis.
— O governo saiu da primeira denúncia e não se renovou em nada, os problemas continuam. Os ministros só tentam salvar sua pele. O salve-se quem puder aumentou muito, e isso enfraquece o comando do governo. Tudo leva a crer que o governo tem maioria, agora toda batalha precisa ter unicidade de comando e isso não está acontecendo — diz o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA).
EXPECTATIVA DE MAIS TRAIÇÕES
A tendência é que Temer compute menos votos tanto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde a denúncia será votada na semana que vem, quanto no plenário, cuja votação está prevista para o dia 24. Para o líder do PSD, deputado Marcos Montes (MG), o governo tem que ficar em alerta nas próximas duas semanas. Ele diz que ainda não sabe precisar, mas que certamente haverá mais traições a Temer desta vez.
— Houve ao longo desses meses tratamento diferente entre os que estiveram juntos e os que não tiveram. O que ajuda a situação é que a denúncia é frágil e também a gente sente que o mercado quer que nada aconteça. Mas a insatisfação é grande. No meu partido ele perde alguns votos — afirma Montes.
Além dos problemas com a base, há o desdobramento da saída do PSB do governo, anunciada pouco depois da revelação das gravações da JBS, em maio, mas que gerou uma divisão no partido. Apesar da posição oficial, uma ala do PSB permaneceu apoiando Temer e votando em seu favor. Agora, a sigla resolveu endurecer com os dissidentes e decidiu expulsá-los. Com isso, só na CCJ Temer perde dois votos. No plenário, perderá ainda mais. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) acredita que o presidente vence na comissão por um placar de 37 a 27 votos. Na primeira denúncia, após 17 trocas de membros, o governo ganhou por 40 a 24.
No plenário, para arquivar as investigações, Temer precisa ter pelo menos 172 deputados a seu lado, votando ou se ausentando. Quando a denúncia por corrupção passiva foi enterrada, no último dia 2 de agosto, o placar foi de 263 a favor do presidente contra 227. Para a investigação prosseguir e ser analisada pelo Supremo Tribunal Federal são necessários 342 votos. Delgado diz que o mapa de votos está hoje em 250 a favor da aceitação da denúncia.