Projeto permite que os contratos de concessão da telefonia fixa sejam transformados em simples termos de autorização
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou nesta quinta-feira (5) que o Senado analise imediatamente projeto de lei que muda as regras de telecomunicações e que ainda não foi sancionado pelo presidente Michel Temer. Em fevereiro, Luís Roberto Barroso decidiu em caráter liminar (provisório) que o Senado deveria retomar as discussões. A decisão contrariou a vontade de Temer e do então presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). O Senado, no entanto, não analisou o caso. Agora, a decisão de Moraes é definitiva. "Conforme reconhece a própria autoridade coatora, os três recursos foram interpostos, mas, todavia, não houve nenhuma decisão formal sobre as irresignações, encontrando- se em mesa para deliberação sobre o recebimento ou indeferimento", escreveu Moraes. O texto já havia sido aprovado de forma conclusiva em comissões, sem passar pelo plenário da Casa, e remetido à Casa Civil para ser sancionado. Mas, após forte repercussão negativa, o Senado pediu a devolução do projeto -o que ainda não havia sido feito pela pasta. O pedido de liminar foi feito por um grupo de senadores da oposição, liderado por Lindbergh Farias (PT-RJ) e Vanessa Grazziotin (PC do B-AM). O ministro cita o número de assinaturas em recursos para que o Senado rediscuta o assunto, -em três recursos diferentes, ou pouco menos de um quarto do total de senadores- e pendência de "análise dos requisitos formais" na análise do projeto. Controvérsia O projeto permite que os contratos de concessão da telefonia fixa, único serviço prestado atualmente em regime público, sejam transformados em simples termos de autorização. Se assim for definido, a telefonia fixa funcionará como os demais serviços -celular, internet e TV paga- hoje prestados em regime privado. No regime privado, as teles não têm obrigação de levar o serviço em locais que dão prejuízo. Com o projeto, elas teriam essa liberdade na telefonia fixa somente nos locais onde já existe competição. Nos demais municípios, as regras de investimento e cobertura seriam definidas e monitoradas pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), como funciona nos contratos de concessão. Outra mudança controversa é a possibilidade de que as operadoras que aceitarem migrar de concessão para autorização incorporem os bens usados na prestação do serviço de telefonia fixa. Esses bens seriam devolvidos à União ao término dos contratos de concessão, em 2025. A oposição diz que esse patrimônio (edifícios, centrais de telefonia e de dados, cabos, entre outros) vale cerca de R$ 100 bilhões. A Anatel vai calcular esse valor, mas estima-se que o total do patrimônio chegue a algo em torno de R$ 20 bilhões, considerando a depreciação desde a privatização, há quase duas décadas. Os críticos do projeto também questionam a renovação automática das autorizações. Caberá à Anatel decidir se haverá algum tipo de óbice à renovação dessas licenças. Somente nesse caso uma nova licitação será definida. O governo se defende dizendo que nada será dado de graça às teles. Elas terão de pagar pela renovação, reinvestir o valor incorporado dos bens na expansão da internet em áreas carentes como parte de um plano nacional de internet que será lançado assim que o projeto for sancionado pelo presidente Temer. Os senadores de oposição afirmam que não é possível permitir essas mudanças sem que haja mecanismos previamente definidos pelo projeto que garantam o cumprimento das novas regras.