Nova tecnologia permite enxergar áreas desmatadas de até 1 hectare. Em agosto, 21% do desmatamento foi feito em pequenas propriedades
O Brasil tem um dos melhores sistemas de monitoramento do desmatamento por satélite do mundo. Mas os boletins mensais contavam com um problema. Eles não usavam imagens com as melhores definições. Áreas equivalentes a até dez campos de futebol eram invisíveis por satélites e acabavam sendo detectadas apenas uma vez por ano nos dados oficiais do sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Essa situação deve mudar a partir de agora. O Imazon, uma organização ambiental que monitora a cobertura florestal da Amazônia por satélite, passou a usar um novo sistema de processamento e imagens de satélites que enxerga com mais precisão a cobertura florestal. Ele permite identificar um desmatamento que ocorra em apenas 1 hectare (um campo de futebol). Ao aplicar esse sistema, o Imazon identificou que uma parte importante do desmatamento está ocorrendo em pequenas parcelas – e descobriu uma nova geografia do desmatamento. Os dados serão divulgados nesta terça-feira (26), e ÉPOCA publica os números com exclusividade.
Segundo o Imazon, a Amazônia perdeu 184 quilômetros quadrados de florestas em agosto. Destes, 39 quilômetros quadrados, ou 21%, foram feitos em áreas menores de 10 hectares e, portanto, permaneceriam invisíveis não fosse o novo sistema. Se essa proporção se mantiver nos próximos meses, isso vai indicar que uma parte considerável do desmatamento não estava sendo detectada pelas análises mensais e só apareceriam na avaliação anual.
Os dados mostram que o desmatamento “pequeno” ocorre em uma área diferente do mais tradicional. Eles se concentram no Acre e sul do Amazonas, em Rondônia, e no Pará, incluindo a região da Calha Norte, considerada menos afetada pelo desmatamento, como mostra o mapa abaixo.
“É um padrão que ainda precisamos estudar melhor”, diz Carlos Souza Jr., pesquisador do Imazon. "Temos de investigar mais a fundo para entender as causas. Mas algumas coisas já chamam a atenção.” Segundo ele, o novo padrão pode indicar um problema com desmatamento em assentamentos da reforma agrária nessas regiões.
A derrubada de florestas em áreas de pequenos produtores e assentamentos é um problema que desafia as autoridades ambientais. É difícil de ser detectado e não se resolve com fiscalização. Muitas vezes, os assentados têm pouco conhecimento e tecnologia para produzir sem desmatar. Programas de assistência técnica e financiamento podem fazê-los produzir de forma sustentável, como ÉPOCA já mostrou em uma reportagem especial.
Uma boa notícia
Além dos desmatamentos pequenos, o boletim de agosto também reporta sobre os desmatamentos maiores. Ao todo, os satélites detectaram 184 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal. Os números são positivos. Eles mostram uma redução de 75% no desmatamento em relação ao mesmo mês do ano passado. Também na degradação florestal houve redução, mas menor – uma queda de 37%.
Os números de agosto indicam uma continuidade da tendência de queda no desmatamento já registrada no mês passado. Essa tendência foi amplamente comemorada pelo governo, inclusive em discurso do presidente Michel Temer nas Nações Unidas. Como agosto é um mês que costuma ter altos índices de derrubada de florestas, já que é período de seca na Amazônia, os dados sugerem motivo para otimismo.
Ainda não é possível saber o número oficial do desmatamento, calculado apenas pelo Inpe, mas Carlos Souza estima que o índice deve ficar acima dos 5.000 quilômetros quadrados por ano. Isso significa que 2017 reverterá a tendência de alta de 2016 e 2015 e voltará ao patamar de desmatamento de 2014. “É uma boa notícia, mas não tanto a ponto de festejar. Temos de ter a ambição de reduzir mais e buscar o desmatamento zero”, diz. É importante lembrar que, em 2014, as taxas de desmatamento já estavam estagnadas, com o governo enfrentando dificuldades para reduzir ainda mais a destruição da floresta na Amazônia.