Se não for tratada corretamente, a doença pode levar à cegueira e, em casos extremos, até mesmo à necessidade de um transplante de córnea
Um simples mergulho no mar custou ao instrutor de tênis Valdecir Rosa muitas noites mal dormidas. “Eu usava lente de contato rígida e, quando entrei na água, achei que ela tinha quebrado, porque estava sentindo uma dor muito intensa, parecia que tinha batido o olho”, relata. A dor, na verdade, era decorrente de um problema conhecido como “úlcera corneana” ou “úlcera de córnea”.
A lesão pode ser causada por bactérias, vírus, fungos ou um tipo de ameba, que foi o que aconteceu com Rosa. De acordo com um levantamento publicado na revista Open Ophthalmol em 2012, estima-se que países em desenvolvimento registrem entre 1,5 milhão e dois milhões de casos da doença todos os anos. A úlcera corneana é grave e, se não for corretamente tratada, pode levar à perda parcial ou total de visão e até mesmo à necessidade de um transplante de córnea. A oftalmologista especialista em córneas da Clínica Canto, Ana Paula Canto, explica que a úlcera pode se desenvolver “devido a uma infecção ocular, trauma no olho, olho seco muito severo ou distúrbios oculares. Mas um dos principais fatores de risco é o mau uso de lentes de contato”.
De acordo com Ana Paula, muitos pacientes não respeitam a data de validade limite indicada pelos fabricantes das lentes. Outra prática comum é dormir sem retirá-las. “Isso aumenta entre dez e 15 vezes o risco de infecção, mesmo em casos em que o fabricante afirma que a lente pode ser usada durante o sono”, diz a médica. Fazer a higienização correta desses objetos também é fundamental para evitar problemas.
Alerta
Muito variados, os sintomas da úlcera de córnea podem ser facilmente confundidos com os de outras doenças. Enquanto Rosa, o instrutor de tênis, sentiu uma dor aguda no olho, a dona de casa Carmela Iwasse, de 82 anos, notou uma irritação parecida com a causada por uma conjuntivite. Guilherme Müller, oftalmologista do Hospital de Olhos do Paraná, explica que os sintomas são “olho vermelho, secreção e sensação de sujeira nos olhos. Se há perda ou borramento visual, dor importante, ou alguma mancha esbranquiçada sobre a córnea é preciso procurar um oftalmologista com urgência”. Foi o que a filha de Carmela fez. No dia seguinte ao aparecimento da irritação, depois de tentar aliviar o problema com um colírio que já tinha em casa, ela notou uma mancha dentro do olho da mãe e correu para o médico.
Tratamento
Mais de um ano e meio depois da descoberta da úlcera na córnea, Rosa continua em tratamento. “Fui a uns quatro profissionais antes de chegar ao diagnóstico com a Ana Paula. Foram oito meses em tratamento intenso, pingando colírio de quatro em quatro horas, inclusive durante a noite”, conta. Após três meses a melhora já era significativa, mas ele continuou usando lubrificantes por mais seis meses. Agora ele precisou começar um tratamento porque a vascularização causada pelo parasita na córnea do olho esquerdo acabou acarretando perda de parte da visão.
Müller afirma que “a evolução da úlcera é que vai determinar a cura ou a possibilidade de sequelas”. No caso de Carmela, em pouco mais de dois meses de tratamento o problema foi praticamente corrigido, restando apenas algumas sequelas, como uma maior sensibilidade à luz.
Prevenção
Para prevenir a úlcera de córnea, alguns cuidados devem ser tomados, entre eles usar corretamente as lentes de contato, usar óculos de proteção quando for fazer atividades que envolvam risco e evitar coçar os olhos. “As demais causas infelizmente são acidentais, são coisas que fogem da possibilidade de evitar”, lamenta Ana Paula.