Investigação do MPF recuperou informações do sistema Drousys, usado pela Odebrecht para controlar o pagamento de propinas a políticos
A Procuradoria-Geral da República (PGR) conseguiu recuperar dados contidos no sistema Drousys da Odebrecht e elaborou relatórios nos quais diz haver provas de repasses de propina de R$ 13,3 milhões — em dinheiro vivo — aos ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria Geral da Presidência, Moreira Franco. Os dois são amigos íntimos e principais ministros do presidente Michel Temer. Os três despacham no Palácio do Planalto. Padilha, nos dados que estavam no Drousys, é “Fodão”, “Primo” e “Bicuira”. Moreira é o “Angorá”.
Os relatórios elaborados pela Secretaria de Pesquisa e Análise da PGR, na gestão de Rodrigo Janot, serviram para comprovação do que foi dito pelos delatores da Odebrecht. A perícia dos dados extraídos corroborou o que os executivos disseram nos depoimentos, como informam relatórios concluídos entre maio e o último dia 8.
O Drousys era um sistema paralelo de registro de informações utilizado pelo setor de propina da empreiteira. Um modo de garantir segurança à informação. Os dados inseridos em um terminal no Brasil eram registrados em um ambiente virtual hospedado na Suécia. Duas levas de HDs, com muitos terabytes de material, foram entregues à PGR. A gestão de Janot finalizou a perícia da primeira leva, de onde saíram as alegadas comprovações de entrega de dinheiro a Padilha e Moreira. A segunda leva ficou para análise pela gestão de Raquel Dodge.
O relatório mais recente produzido pela PGR detalha como R$ 200 mil foram entregues a Padilha, ou “Fodão”, como constava no Drousys. O dinheiro foi levado a Porto Alegre, e a senha para retirada era “comida”. Uma planilha no sistema da Odebrecht, recuperada por peritos da PGR, “mostra que os R$ 200 mil foram efetivamente pagos pela Odebrecht ao codinome ‘Fodão’ no dia 3 de agosto de 2010, na cidade de Porto Alegre”, como consta do relatório. “Fodão”, segundo os colaboradores, é codinome de Eliseu Padilha.”
MUITOS REPASSES E VÁRIOS APELIDOS
Já um relatório de julho, também produzido a partir do Drousys, aponta Padilha como o “Bicuira”. “As planilhas encontradas no sistema Drousys revelam sete pagamentos no total de R$ 1.490.909,00 no ano 2010 feitos pela Odebrecht em favor de ‘Bicuira’, que, segundo os colaboradores é o codinome de Eliseu Padilha”, conclui o documento. No mesmo mês de julho, a PGR identificou pagamentos ainda mais antigos a Padilha, no valor de R$ 612,6 mil, que teriam ocorrido em Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. Nesse caso, a alcunha usada foi a mais conhecida: “Primo”.
Em maio, a Secretaria de Pesquisa e Análise concluiu o relatório mais extenso sobre o suposto repasse de propina em dinheiro vivo a Padilha e Moreira, sempre a partir do que foi extraído do Drousys. O ministro da Casa Civil teria recebido R$ 4 milhões em 2014, com entregas em Porto Alegre e uso da senha “sardinha”. Uma entrega no Rio foi possível a partir da senha “águia”. A obra especificada é “aeroportos”, como consta no relatório.
Já Moreira, ou “Angorá”, recebeu sete pagamentos da Odebrecht que totalizaram R$ 7 milhões, conforme o documento produzido pela PGR. Os repasses também teriam ocorrido em 2014. Senhas como “OTP” , “foguete”, “pássaro”, “morango” e “árvore” foram utilizadas para a retirada do dinheiro, segundo os registros do Drousys. “Conclui-se, portanto, que os documentos obtidos no Drousys indicam pagamentos no montante de R$ 4 milhões destinados ao codinome ‘Primo’ e R$ 7 milhões destinados ao codinome ‘Angorá’, que, segundo executivos e funcionários da Odebrecht, referem-se, respectivamente, a Eliseu Lemos Padilha e Wellington Moreira Franco.”
Nem todos os relatórios produzidos foram reproduzidos na segunda denúncia de Janot contra Temer, por organização criminosa e obstrução à Justiça. O caso do pagamento dos R$ 4 milhões a “Primo” e dos R$ 7 milhões a “Angorá” está citado na acusação protocolada no Supremo Tribunal Federal (STF) há uma semana. Foram denunciados por organização criminosa Temer; Padilha; Moreira; o ex-ministro Geddel Vieira Lima; os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves; e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures.
Padilha e Moreira fizeram operação casada para receber propina, com um pedindo e o outro cedendo o escritório para receber as quantias, sustenta a denúncia. O episódio central envolvendo a atuação casada diz respeito a concessões de aeroportos que eram de interesse da Odebrecht. Moreira foi ministro da Secretaria de Aviação Civil, nomeado pela ex-presidente Dilma Rousseff, entre março de 2013 e dezembro de 2014. Foi sucedido por Padilha, que ficou no cargo até dezembro de 2015, quando deixou o governo de Dilma para organizar a busca por votos pró-impeachment no Congresso.
GEDDEL, BABEL E R$ 5,7 MILHÕES
Geddel, por sua vez, é “Babel” no Drousys e recebeu R$ 5,7 milhões, dizem os documentos. O dinheiro foi repassado entre 2008 e 2013. A PGR detalha que a maior parte das transações envolveu uma transportadora e aconteceu em Salvador.
Em nota, a assessoria de Padilha afirmou não ter notícias sobre o término das investigações: “Quando lhe for oportunizada sua defesa, o ministro rebaterá as acusações que ainda restarem.” A assessoria de Moreira, em nota, afirmou que o ministro não teve acesso aos documentos citados e que repudia a suspeita de repasses de dinheiro a ele: “Toda prova proveniente de uma delação fraudada, de delatores assumidamente criminosos, não merece credibilidade”. O advogado de Geddel, Gamil Föppel, disse que, por não ter o documento em mãos, não se manifestará. (Colaborou Patrícia Cagni)