Os relacionamentos, em Brasília, sempre surpreendem.
Vejam o caso de Débora Santos Pelella. Jornalista, 35 anos, ela se casou no dia 3 de janeiro passado com o procurador da República, Eduardo Botão Pelella, 40 anos.
Até aí, nada de mais.
A história ganha estranheza quando se sabe que Débora trabalha, como diz seu perfil no Linkedin, com "consultoria em comunicação social e gestão de crises" no gabinete de Edson Fachin, sendo paga pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, do próprio bolso. E fica mais estranha ainda quando, também, se sabe que o marido de Débora, Eduardo Pelella, é o braço direito e chefe de gabinete do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Vou dizer de uma maneira mais direta: a jornalista Débora e o procurador Pelella são um elo que une dois dos homens mais poderosos do País, e que, nesse exato momento, ditam o destino do Governo de Michel Temer. Janot tem a atribuição legal de propor ações contra o presidente e Fachin, de julgá-las. As denúncias de um só sobrevivem com a concordância do outro. Ou seja, Janot pode dispor de quantas flechas quiser, mas só serão certeiras se Fachin assim decidir.
Tudo isso sob o furacão da Lava Jato.
Ouvida pela coluna, Débora disse que "presta um serviço autônomo como outro qualquer". Enfatizou que atua como funcionária particular de Edson Fachin, sem qualquer vínculo profissional com o STF. Ela está com o ministro desde junho (portanto, já depois de Fachin ter assumido a Lava Jato). Até setembro do ano passado, ela era servidora comissionada do Supremo na gestão de Ricardo Lewandowski.
"Não há qualquer relação entre as funções exercidas por mim e pelo meu esposo. O ministro Edson Fachin sempre esteve ciente da relação conjugal, assim como os demais ministros quando atuei, entre agosto de 2014 e setembro de 2016, como secretária de Comunicação Social do STF, responsável pelo assessoramento inclusive do saudoso ministro Teori Zavascki, enquanto relator da Lava Jato", afirmou Débora.
A jornalista pode não ver conflito entre o casamento e a função que ocupa. Mas a situação é peculiar.
Por que, afinal, o ministro precisa pagar alguém para ajudar na "gestão de crises"? E por que Debora, justamente ela casada com o chefe de gabinete de Janot? Será que ninguém percebeu que esse cruzamento de interesses é um gigantesco produtor de desconfianças?
Nada disso parece ilegal. Mas que é esquisito é.