top of page

EXTRA: Um em cada 5 desempregados está há dois anos em busca de trabalho

Especialistas consideram esta a herança mais dura da longa recessão que começa a ficar para trás




O mercado de trabalho começa a ensaiar tímida recuperação, mas o número de brasileiros que enfrenta há mais tempo o drama do desemprego não para de crescer. Segundo dados mais recentes do IBGE, a parcela de trabalhadores em busca de vagas há dois anos ou mais cresceu na passagem entre o primeiro e o segundo trimestre e já está em 21,7%, ou um em cada cinco desempregados — o maior percentual desde o início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), em 2012. Já são 2,9 milhões de pessoas nesta condição, de um total de 13,3 milhões de desempregados, o dobro dos que estavam nessa situação em 2015.


Somados aos que estão parados há pelo menos um ano, o chamado desemprego de longa duração chega a atingir 5,2 milhões de brasileiros, ou quase 40% dos desocupados. Especialistas consideram esta a herança mais dura da longa recessão que começa a ficar para trás, principalmente porque, quanto mais tempo sem trabalho, mais difícil é conseguir uma oportunidade.


O fenômeno não é incomum em longas crises, lembra o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Na avaliação dele, é possível que parte desses trabalhadores simplesmente desista de procurar emprego:

— A grande preocupação de uma crise de longa duração é que a pessoa que está desempregada há muito tempo não está se qualificando e perde a experiência no posto. Ela vai ter dificuldade para voltar ao mercado. No passado, o desemprego caiu muito recuperando pessoas que estavam fora do mercado. Essas foram as primeiras a perder o emprego na hora do ajuste, e vão ter mais dificuldade para voltar. É a parte triste de uma crise tão longa. Cria um desempregado que está sem experiência.


Há 18 meses parada, Clariana Bozeggia Mota da Silva, de 29 anos, acorda cedo e dedica boa parte do fim de semana a tentar sair da estatística. Moradora de Magalhães Bastos, na Zona Oeste do Rio, ela vai ao menos uma vez por mês ao Centro da cidade distribuir currículos em agências de emprego. A rotina começa no domingo, quando procura na internet locais para visitar. A tarefa ficou um pouco mais fácil em maio, quando usou o dinheiro de uma conta inativa do FGTS para comprar um computador de segunda mão por R$ 450 e usa o WiFi cedido pela vizinha. Apesar de enviar currículos por e-mail e redes sociais, prefere entregá-los pessoalmente:

— É uma forma de mostrar interesse — explica.


*Colaborou Daniel Salgado, estagiário sob supervisão de Marcello Corrêa.

bottom of page