Quanto mais se usa, maior a chance de sofrer com efeito colateral; medicamento só é indicado para alívio em resfriados
Coriza que não cessa, sensação de sufocamento de madrugada, perda parcial do olfato e até aumento das arritmias cardíacas. Parece uma doença grave, não? Mas são só os efeitos do uso indiscriminado de descongestionantes nasais, que viciam e provocam sensações desconfortáveis que deixam até os médicos em uma saia justa na hora de recomendar ao paciente para parar de usar o medicamento.
Queridinho de muitos com rinite ou sinusite, o uso contínuo dos descongestionantes nasais é perigoso. Fausto Nakandakari, otorrinolaringologista do Hospital Sírio-Libanês, explica que o remédio não trata o problema, apenas os sintomas, e que isso faz com que a pessoa precise usar cada vez mais para obter alívio. Logo, é considerado um vício.
“Quem tem doenças crônicas como rinite e sinusite precisa de tratamento adequado. Tratando o sintoma, quando acabar o efeito do remédio o problema vai continuar lá. E é aí que está a grande contraindicação para o uso de descongestionantes nasais”, alerta, pois os efeitos colaterais vão surgir em quem faz uso exagerado.
De acordo com o médico, o remédio só é indicado em casos específicos, como um resfriado – e em quem não tem problemas no coração, já que pode provocar arritmias cardíacas em pessoas com alguma doença.
“O paciente tem o sintoma, mas quando o vírus for eliminado, o nariz vai voltar para a função normal. Indicamos para o conforto do paciente nesse período”, conta.
A complicação acontece quando quem tem rinite ou sinusite encontra alívio no descongestionante e passa a usar cada dia mais. “Os sintomas são muitas vezes parecidos com o de um resfriado comum, ou de uma gripe. O paciente não vai saber diferenciar um e outro, e às vezes começa a usar por conta própria. É aí que mora o problema”, alerta o Nakandakari.
Não vive sem? É vício
O otorrinolaringologista do Hospital CEMA, Cícero Matsuyama, esclarece que os descongestionantes viciam exatamente por provocar o efeito rebote, ou seja, a volta dos sintomas ou até piora deles, forçando a pessoa a usar uma dose até maior para obter alívio.
“Se a doença de base [rinite ou sinusite] não for tratada adequadamente, o efeito vasoconstritor diminui e a obstrução nasal vem em dobro, levando a sucessivos usos do medicamento”, preocupa-se.
Além de todos os sintomas de nariz entupido e sensação de sufocamento, ele também pode fazer com que a pessoa perca a capacidade plena de sentir cheiros.
Para largar o vício é preciso buscar ajuda médica
Quem resolve parar de usar mas acorda com todas aquelas sensações já descritas no meio da noite, precisa de ajuda. E ela vem de medicamentos que vão “acalmar” o nariz e fazer com que ele se adapte sem os fármacos descongestionantes, mas com conforto durante o abandono.
Nakandakari explica que quem percebeu que precisa dizer adeus a essa classe de medicamentos necessita passar por uma avaliação de um especialista.
“Normalmente receitamos corticoides nasais”, explica o médico, sobre controlar os sintomas da abstinência. A boa notícia é que em torno de 10 dias de uso já é possível deixar de sentir os efeitos adversos da falta do remédio.
Mas será que os corticoides que substituem o descongestionante nasal durante o tratamento viciam? Nakandakari explica que não. “Ele vai agir exatamente nas células inflamatórias dentro do nariz. Quando a pessoa suspender o remédio, não vai sentir os mesmos efeitos adversos do descongestionante, por isso o risco de ficar viciado não existe”, conta.
No entanto, ele alerta que há alguns tipos de rinites mais graves em que há a necessidade de uso contínuo de corticoides – mas nunca de descongestionantes nasais.