Grupo na Câmara forma frente contra emenda que muda forma de escolha de parlamentares; medida foi aprovada em comissão de reforma política
A emenda que prevê a implementação do sistema eleitoral conhecido como distritão, aprovada pela comissão especial da reforma política no início da madrugada desta quinta-feira (10) deve enfrentar resistência no plenário da Câmara dos Deputados. PV e PT já discutem ajuizar ações no Supremo Tribunal Federal contra a proposta. Já a criação de um fundo com recursos públicos, estimado em R$ 3,6 bilhões, para financiar as campanhas a partir de 2018 é consenso.
As medidas estão entre as principais aprovadas pela comissão especial, que deve terminar a votação do relatório da reforma política na próxima terça-feira. A expectativa é de que o texto seja levado a plenário em seguida.
Pelo modelo aprovado, Estados e municípios são considerados distritos, e o vereador ou deputado que obtiver mais votos é eleito. Segundo o modelo atual – o sistema proporcional –, o candidato mais votado não garante necessariamente um assento no Legislativo, uma vez que soma o número de votos no candidato e no partido para definir as cadeiras.
A proposta pode ser judicializada. A Direção Nacional do PV, em reunião virtual realizada nesta quinta-feira, decidiu se aliar ao PT e fechou questão contra o distritão. A legenda já tem um parecer jurídico para embasar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) a ser apresentada ao STF caso o distritão seja aprovado no plenário.
Segundo Vera Motta, dirigente nacional e responsável pela área jurídica do PV, o distritão fere cláusulas pétreas da Constituição. “Os congressistas estão votando contra a Constituição”, disse Vera. O PT também discute alternativas jurídicas contra o distritão
Aprovação
O distritão como modelo de transição a ser adotado em 2018 e 2020 foi aprovado com um placar apertado: foram 17 votos a favor, 15 contra e 2 abstenções. A tendência é de que o embate se repita no plenário. A partir de 2022, está prevista a vigência do sistema distrital misto. Parlamentares da oposição e da base, porém, formaram uma frente suprapartidária para trabalhar contra a proposta.
Para o relator da comissão, deputado Vicente Cândido (PT-SP), que é contra a proposta, “a base do governo tomou um susto” com o resultado da votação. Ele identificou uma pressão dos dirigentes sobre os deputados. “Qualquer dirigente sensato que faça a conta é contra o distritão. O dirigente que concordar está cassando a si próprio, porque os benefícios do partido somem”, disse Cândido.
Um levantamento ao qual o Estado teve acesso mostra que a proposta teria hoje o apoio de, no máximo, 320 deputados. Por se tratar de emenda à Constituição, o modelo precisa ser aprovado por, no mínimo, 308 votos.
Embora defensor do sistema eleitoral distrital misto, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), afirmou nesta quinta-feira que, caso passe pela Câmara, o distritão deve ser aprovado também no Senado. Segundo ele, as críticas ao modelo partem de quem “tem medo do voto majoritário”.
Fundo
Durante a aprovação do fundo bilionário, os deputados retiraram do texto a previsão de que caberia aos dirigentes partidários estabelecer os critérios de distribuição dos recursos do fundo. Agora, esses recursos serão divididos segundo regras a serem criadas em outro projeto de lei.
A classe política tem pressa para votar a reforma. Para que as mudanças nas regras passem a valer para as eleições de 2018, o texto tem de passar pelos plenários da Câmara e do Senado até o fim de setembro. Além dessa comissão, outros dois colegiados debatem mudanças nas regras eleitorais.