Falta de investimentos, ausência de vigilância e controle, ajudam o narcotráfico e entrada de armas clandestinas no país
Os três estados, Acre, Rondônia e Mato Grosso estão se transformando em novas bases para o crime organizado no país e as autoridades regionais estão com as mãos atadas. Sem recursos para investir em segurança pública, falta de efetivo policial e a total ausência do governo federal transformaram essas regiões, que já são geograficamente isoladas, em bases para criminosos de todo o país.
Apesar dos esforços isolados por parte das forças de segurança desses estados, o corte de verbas da Polícia Federal e Rodoviária Federal, agravaram ainda mais a situação. A BR 364, que interliga os três estados é praticamente uma ‘porteira aberta’ para os criminosos que trafegam sem ser incomodados.
Ao mesmo tempo, cidades como Guajará-Mirim e Costa Marques (RO), Brasiléia (AC), Cáceres (MT), que fazem fronteira com a Bolívia estão desguarnecidas. Apenas o Mato Grosso tem 122 quilômetros de fronteira seca, que, sem controle policial, se torna uma das principais entradas de drogas e armas no país. O Exército mantém um posto de controle em Corixa, com apenas 15 homens para cuidar de toda a extensão fronteiriça.
Membros do PCC morreram em tentativa de assalto na Bolívia
Chegada do PCC – Com a construção do presídio federal em Porto Velho (RO), que abriga criminosos como Fernandinho Beira-Mar, Marcola e lideranças do crime organizado no país, montou-se uma estrutura paralela de suporte. Familiares e comparsas passaram a frequentar a região. Em maio deste ano, um trabalho de inteligência entre a PM e Polícia Civil resultou na prisão de quatro membros do PCC na cidade de Vilhena (RO), onde eles se preparavam para matar criminosos do grupo rival, Comando Vermelho. Com os bandidos foram apreendidas quatro pistolas, várias munições, carregadores, e uma espingarda calibre 12.
Em janeiro, a Operação Carga Pesada, da Polícia Civil prendeu um membro do PCC em Ariquemes (RO). A polícia prendeu uma pessoa que também integra o PCC e era responsável pelo narcotráfico através da BR 364. A Polícia Rodoviária Federal ajudou nas investigações.
Em Rio Branco (AC), a capital acreana foi palco de uma série de ataques promovidos por facções criminosas, que resultaram na prisão de 26 pessoas. 23 presos apontados como membros de facções criminosas que cumprem pena no Estado foram colocados no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), considerado mais duro. Nele, os presos ficam isolados em celas individuais e só têm direito a poucas horas diárias de banho de sol.
Em outubro do ano passado, 18 presos foram mortos durante rebeliões em presídios de Boa Vista (Roraima) e Porto Velho (Rondônia) por causa da guerra. Por medida de segurança, integrantes do PCC presos no Rio foram transferidos para presídios ocupados por inimigos do Comando Vermelho.
Segundo o Ministério Público, a facção paulista já atua em todos os Estados do País. Em parte deles, disputa o domínio com facções locais. “Todos os problemas que acontecem fora de São Paulo são trazidos para a cúpula do PCC avaliar e determinar o que será feito”, disse um promotor. O serviço de inteligência apurou que o PCC enfrenta forte resistência nas regiões Norte e Nordeste, lideradas pelas facções Sindicato RN e Família do Norte (FDN), além de Estados do Sul, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde se destaca o Primeiro Grupo Catarinense (PGC).
Forças de segurança locais tentam conter o avanço do crime organizado, mas não conseguem
Corte de verbas
Mesmo com esse cenário aterrador, o governo federal segue cortando verbas da segurança pública. Em julho desse ano, o corte de verbas decretado pelo governo federal resultou na suspensão e redução de quatro serviços prestados pela Polícia Rodoviária Federal.
O orçamento aprovado foi 44% menor do que o solicitado pelo órgão. A redução foi publicada em março.
De acordo com a PRF o órgão agora atua com “limites para aquisição de combustível, manutenção e diárias”.
Os policiais deixam de desempenhar atividades de policiamento e resgate aéreo e reduziram os patrulhamentos terrestres. Os agentes deixam de fazer escolta de cargas superdimensionadas e escoltas em rodovias federais.
Também foram desativadas unidades operacionais da polícia.
A mesma redução foi aplicada à Polícia Federal, que com 44% a menos no orçamento determinado pelo governo, não tem dinheiro para bancar passagens aéreas e diárias de policiais em viagens pelo país, entre outras despesas essenciais nas grandes operações. Em geral, prisões, conduções coercitivas e buscas de provas dependem da mobilização de policiais em vários estados e não apenas de agentes e delegados do unidade sede da apuração. As missões interestaduais são uma tradição da polícia e tem por objetivo garantir o sigilo e a surpresa da própria ação policial.
O orçamento da Polícia Federal é sugerido pela própria instituição. Mas a reserva de recursos depende exclusivamente do governo. Recentemente, o Ministério da Justiça anunciou um corte de 44% , ou quase meio bilhão, na verba prevista inicialmente para a PF. Se a previsão já era considerada baixa, o corte deixou a polícia sem fôlego para manter a máquina em pleno funcionamento.
Em julho, porém, o governo federal repassou mais R$ 170 milhões e estão previstos R$ 70 milhões mês a mês para a PF, mas isso só aconteceu em função da suspensão da emissão de passaportes.
Jorge Viana denuncia descaso
Em discurso no Senado essa semana, o senador Jorge Viana (PT-AC) pediu a união das forças de segurança para combater o crime organizado na região Norte, veja: