Carlos Habib Chater afirma que foi pressionado a fazer delação. Ele cumpriu prisão em regime fechado e está solto desde outubro
Dono do Posto da Torre, que originou a Operação Lava Jato, o operador financeiro Carlos Habib Chater foi o primeiro preso da principal investigação da história do Brasil. Ele cumpriu um ano e sete meses de prisão em regime fechado e ficou um ano no semiaberto. Neste período, diferentemente de outros detidos na operação, não firmou acordo de delação premiada. No entanto, Chater afirmou que sofreu ameaças do ex-chefe da Polícia Federal, Márcio Anselmo, para se tornar um colaborador.
“Ele (Anselmo) disse que me envolveria com o narcotráfico, que eu ficaria mais de 20 anos na cadeia, que me livraria (da prisão) em uma semana caso eu dissesse quem eram os agentes públicos ou os políticos que recebiam (propina) aqui (no Posto da Torre)”, relatou Chater em entrevista ao UoL.
Segundo o empresário, dentro das celas do presídio de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba (PR), onde ele ficou preso, havia escuta ambiental. Ele sustentou que os investigadores, à época, não tinham autorização para instalar os grampos. Porém, não os denunciou à corregedoria da PF.
“Como o delegado Márcio Anselmo (responsável pela Lava Jato até o início de 2017) viu que eu não faria delação e não teria quem entregar, depois de várias tentativas, de insistências, de ameaças, ele disse que me mandaria para o presídio. No dia seguinte eu fui para o presídio”, contou. Procurado pela reportagem, o delegado Márcio Anselmo não se manifestou sobre as declarações de Chater.
Relembre o caso O “Posto da Lava Jato”, como ficou conhecido o estabelecimento de Chater, se tornou alvo de investigação em 2008. O local, onde havia uma casa de câmbio e uma lavanderia, recebeu da PF a alcunha de “caixa eletrônico da propina”. Isso porque o ex-deputado José Janene, morto em 2010, teria usado o lugar para lavar dinheiro.
Além disso, a PF interceptou conversas de Chater com o também operador financeiro Alberto Youssef, sobre suposta lavagem de dinheiro. O dono do posto enalteceu o “amigo”. Porém, negou ter operado propina do empresário.
Na entrevista, Chater alegou que tinha apenas operações de crédito com Youssef. E detalhou: “Eu tomava dinheiro emprestado e, na hora de devolver, ele ou indicava algumas contas ou pessoas que vinham aqui receber. Para onde ia esse dinheiro eu não posso lhe dizer”, descreveu o empresário.
Ele reforçou que a prática não caracteriza lavagem e que desconhece os políticos envolvidos na Lava Jato. Apesar disso, o ex-gerente do posto, Ediel Viana da Silva, após ser preso, contou que políticos frequentavam o local.
Cumprindo pena em liberdade desde outubro do ano passado, Chater nega as acusações. Ele voltou a administrar o posto. O empresário reconhece que operou ilegalmente na conversão de moedas na década de 1980, apesar de rejeitar a classificação de “doleiro”.
Na entrevista, Chater reafirma inocência e diz que os investigadores da Lava Jato até hoje não provaram que houve lavagem de dinheiro. A PF o acusa de ter movimentado ilegalmente R$ 10,8 milhões, de 2007 a 2014, por meio de 375 contas.
“Como eles podem ter provado que eu lavei tanto dinheiro, se fui condenado por uma lavagem de R$ 460 mil numa das sentenças? Numa lavagem de US$ 120 mil (convertidos nos R$ 460 mil) que só o juízo de primeira instância localizou e criou o mecanismo para dizer que foi lavagem. Cadê o restante do dinheiro?”, indaga.
Chater foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a nove anos e nove meses de prisão, pena confirmada em segunda instância.