Deputados agraciados com emendas e nomeações avisaram o presidente de que arquivamento da denúncia de corrupção não significa apoio a projetos impopulares
O presidente Michel Temer (PMDB) não economizou nas canetadas para conseguir arquivar a denúncia de corrupção passiva que foi votada nesta quarta-feira (2) na Câmara dos Deputados. Para o país, o custo dessa vitória do presidente pode ser o sepultamento da reforma da Previdência.
Deputados que participaram de reuniões com representantes do Palácio do Planalto já avisaram a Temer que o compromisso com o governo para votar pelo arquivamento da denúncia não significa continuidade desse apoio na reforma e outros temas impopulares, que podem colocar os deputados contra seus eleitores.
Participantes dessas reuniões, que ocorreram antes e durante o recesso parlamentar, afirmam que os deputados cobraram de Temer que ele utilizasse “o poder da caneta” para liberar recursos, aprovar projetos e fazer nomeações de interesse dos parlamentares, assinando decretos, projetos e nomeações. Por outro lado, a chancela de apoio a Temer mediante tais pedidos estaria restrita ao “sim” a Temer na denúncia.
O Ministério da Fazenda segue apostando que a reforma da Previdência será votada este ano. Em resposta à Gazeta do Povo, o ministério declarou que “acredita que a importante reforma da Previdência poderá ser aprovada pelo Congresso Nacional ainda em 2017”.
Reforma vai custar mais caro
Porém, com a sinalização clara ao auxiliares de Temer, tais parlamentares estariam deixando claro que o presidente precisará ter mais “tinta na caneta” se quiser ver a reforma da Previdência aprovada, para liberar mais projetos e obras e fazer mais nomeações.
O cientista político André César, da Hold Assessoria Legislativa, avalia que a reforma da Previdência está enterrada e que o governo já sabe disso. Outras reformas importantes, como a reforma política, também ficarão de lado caso o governo Temer sobreviva.
Para o analista, o governo está focado agora em voltar todas as suas forças para evitar a aceitação da denúncia contra Temer e outras que poderão ser apresentadas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, consumindo mais forças do governo para tentar convencer a Câmara a arquivá-las.
Primeiro, a sobrevivência
“A questão é agora. Curtíssimo prazo, como numa corrida de 50 metros. O governo está pensando na sua sobrevivência, depois vai tocar o arroz com feijão, o que exclui as reformas. Mesmo entre aliados de Temer já se fala que a reforma da Previdência fica só para 2019”, afirma o analista.
Superada a votação da primeira denúncia – há rumores de que Janot poderá encaminhar nova ou novas denúncias à Câmara –, Temer pode fazer algumas trocas no primeiro e segundo escalão do seu governo, acredita César, como por exemplo para apear o PSDB de ministérios.
Além da reforma da Previdência, estão em tramitação no Congresso mais de 20 medidas provisórias, entre elas a que muda a taxa de juro de financiamentos públicos, o programa de renegociação de dívidas com a Receita Federal, a mudança nas regras da mineração, entre outras.