Helder Barbalho, do PMDB, recebeu os valores do publicitário André Gustavo, preso na 42ª fase da Lava Jato. Titular da Pasta da Indústria, Comércio Exterior e Serviços recebeu os valores em dinheiro vivo. Fernando Bezerra Coelho Filho, do PSB, recebeu em dinheiro vivo e em notas frias. Ao todo, o ministro da Ciência e Tecnologia foi destinatário de R$ 43,4 milhões da empresa dos irmãos Batista e Bruno Araújo recebeu R$ 200 mil da JBS em 2014.
A capilaridade da JBS, com negócios em todo o Brasil, como supermercados, atacados e frigoríficos, rendia um fluxo de dinheiro vivo para a empresa e um fornecimento garantido para atender à demanda de políticos que escolhiam essa forma para receber propina. Boa parte dos pagamentos nessa modalidade era resolvida com uma ligação entre os encarregados pelos repasses na JBS. Seja no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, Demilton de Carvalho, o planilheiro da JBS, entrava em contato com o cliente e pedia que separasse um valor. Era comum que empresários e até políticos buscassem valores pessoalmente, tamanha despreocupação com a operação ilegal. Foi assim com o ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, do PMDB.
No Nordeste, onde a chaga do voto de cabresto ainda persiste e a facilidade para lavar dinheiro em postos de gasolina ou com a compra de gado é maior, Joesley Batista encarregou o publicitário André Gustavo, uma espécie de Marcos Valério de Pernambuco, para cuidar das entregas de dinheiro. Quando necessário, Joesley autorizava a contratação de um carro-forte e André recolhia o dinheiro nos clientes da JBS e transportava até o político que deveria ser beneficiado. Foi André Gustavo que, segundo a JBS, organizou a entrega de propina em dinheiro vivo para o ministro Helder Barbalho e seu pai, o senador Jader Barbalho, ambos do PMDB. André Gustavo foi preso na 42ª fase da Lava Jato, acusado de ajudar o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine a chantagear a Odebrecht, obter uma propina de R$ 3 milhões e lavar dinheiro.
Helder Barbalho nega o recebimento de dinheiro de origem ilícita. Em nota, a assessoria do ministério justifica que a JBS doou, legalmente, R$ 2,1 milhões à campanha de Barbalho ao governo do Pará em 2014. “A doação era prevista em legislação vigente à época, feita às claras, foi declarada e aprovada pela Justiça Eleitoral. A campanha não recebeu qualquer recurso fora do previsto em lei.” Questionado sobre as citações a seu nome e sobre as notas fiscais das empresas que receberam da JBS a pedido dele, Jader Barbalho afirmou que nunca ouviu falar em nenhum dos personagens e empresas citados na delação e que nunca recebeu “um centavo”. “Eu desafio que digam quando, onde e como eu tive algum contato com algum bandido desses”, afirmou o parlamentar em relação aos delatores do grupo J&F.
Documentos apresentados pelos delatores da JBS à Justiça, obtidos com exclusividade por ÉPOCA, mostram o repasse de R$ 4,2 milhões para Marcos Pereira, ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Segundo os executivos, parte do repasse foi feito em sete pagamentos de R$ 500 mil, em dinheiro vivo. O dinheiro foi recolhido em um dos açougues clientes da JBS. Em contrapartida, o ministro ajudou a JBS na liberação de empréstimos para a empresa na Caixa Econômica Federal.
De acordo com a contabilidade da JBS, foram oito repasses em cash: os sete de R$ 500 mil e um de R$ 700 mil – esse na casa de Joesley, em São Paulo, feito diretamente ao ministro.
Marcos Pereira disse, por meio de nota, que está “à disposição das autoridades para prestar os esclarecimentos necessários e afastar qualquer dúvida sobre minha conduta”.
Documentos entregues pelos delatores da JBS à Justiça, obtidos com exclusividade por ÉPOCA, revelam que o ministro Fernando Bezerra Coelho Filho, de Minas e Energia, recebeu um total de R$ 3 milhões em propina da empresa. De acordo com os executivos, foram R$ 2 milhões em dinheiro vivo e R$ 1 milhão em notas frias. Segundo a delação, o dinheiro era compartilhado entre o ministro e seu pai, o senador Fernando Bezerra, também do PSB.
A assessoria de Fernando Bezerra Filho alegou que não vai comentar a reportagem porque “o nome do ministro não aparece” em qualquer documento público referente às delações da JBS.
O ministro das Cidades, Bruno Araújo, do PSDB, foi um dos beneficiados pela máquina de financiamento de políticos da JBS. De acordo com documentos entregues pelos delatores da empresa para corroborar o que eles disseram em seus depoimentos, obtidos com exclusividade por ÉPOCA, Araújo recebeu R$ 200 mil em dinheiro vivo para sua campanha a deputado federal em 2014.
O lobista da JBS, Ricardo Saud, conta que teve a ideia de fazer o pagamento a Araújo por considerá-lo um político promissor. Saud conversou com Araújo: “Nunca demos nada para você. Vou mandar um dinheiro”. Araújo assentiu. O dinheiro foi entregue por André Gustavo, preso na 42ª fase da Lava Jato, acusado de ajudar o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine a chantagear a Odebrecht, obter uma propina de R$ 3 milhões e lavar dinheiro.
Procurado, o ministro respondeu por nota que “o documento é um registro em planilha, com informação corroborada por delatores”.
O ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicações, Gilberto Kassab, do PSD, recebeu R$ 43,4 milhões em propina da JBS, de acordo com documentos inéditos obtidos por ÉPOCA. Os papéis, entregues pelos executivos da empresa à PGR, corroboram o que eles disseram na delação premiada da JBS. Do total, R$ 18 milhões foram pagos por meio de uma empresa da família de Kassab, a Yape Consultoria e Debates Ltda. Foram 58 pagamentos entre agosto de 2013 e julho de 2016. A família de Kassab tem uma outra empresa, de transportes, que presta serviços para a JBS. A Yape, porém, não realizou nenhum serviço, segundo os delatores.
Do total recebido por Kassab em 2014, R$ 30,3 milhões foram pagos via caixa um, por meio de empresas indicadas por ele e por aliados, e, também, em dinheiro. A JBS debitou os R$ 30,3 milhões, segundo os documentos, da conta de propina mantida pelo PT junto à empresa, por benesses ilegais no BNDES. Estão aí incluídos R$ 4,9 milhões acertados com Wesley Batista e repassados para a empresa Yape.
Kassab foi generoso com o dinheiro arrecadado. Autorizou o repasse, em dinheiro vivo, de quase R$ 1 milhão ao deputado Fábio Faria, do Rio Grande do Norte. Outros R$ 11,3 milhões destinou a seu partido, o PSD. E R$ 940 mil foram para o PV de São Paulo.
O ministro das Comunicações diz que a empresa de sua família presta serviços à JBS há anos e que já enviou esclarecimentos à Receita Federal.