Fornecedores de matéria-prima do pão indicam que reajuste de até 10% chega já em agosto
Principal componente na fabricação do pãozinho francês, a farinha de trigo, negociada quase sempre em dólar, deve ficar mais cara nos próximos meses e deixar um pouco mais salgado o principal item do café da manhã dos brasileiros.
Dados recentes do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) mostram que o preço médio do trigo no Paraná apresentou uma alta de 3,18% no mês de junho, cotado a R$ 664,17 por tonelada.
Nesta terça-feira (25), a instituição já apresentava a tonelada do grão vendida a R$ 671,46, maior valor desde setembro de 2016.
O diretor comercial da Nita Alimentos, Marcos Pereira, afirma que o repasse da valorização do trigo será "inevitável" a partir do mês de agosto, causando um efeito no mercado de pães. Segundo ele, a necessidade dos moinhos produtores do grão é de uma alta "em torno de 10% ou mais".
— O impacto no pão eu acho que vai começar a ter a partir de agosto ou setembro, dependendo do que vai acontecer com o trigo nacional. [...] A safra gaúcha, que começava a ser colhida em agosto, vai ser explorada só em meados de setembro. Isso só vai começar a ter reflexo [no preço do pão] do meio de agosto para frente, mas, com certeza, vai ter.
Ao avaliar que existe uma manutenção no preço do pãozinho francês, o presidente do Sindipan (Sindicato da Panificação), Antero José Pereira, destaca que os moinhos nacionais estão em busca de trigos mais baratos.
Ele garante que as padarias pagam pela saca de farinha de trigo o mesmo valor de quando o dólar estava cotado a R$ 2,20, mas não descarta um reajuste futuro para ajustar os preços de acordo com a inflação.
— A manutenção do preço da farinha faz com que o quilo do pão permaneça estável, embora hoje a farinha hoje represente apenas 20% do preço total do pão. Logo, logo, mesmo sem ter aumento da farinha, há a necessidade de repassar os custos de mão de obra, energia elétrica, água e alugueis.
Marcos Pereira diz que o preço do grão deveria ter sido reajustado nos primeiros meses de 2017 e destaca que a situação de países produtores do trigo torna a alta irreversível.
— O setor da deveria ter mudado o patamar de preço no começo do ano e agora as evidências são muito mais fortes vai ser inevitável ter que repassar o preço àquele custo que você tem. [...] Se você olhar o preço cobrado pelo quilo do pão, observa que esse deveria ser o preço que a gente deveria estar praticando na venda do trigo.
Outro item presente na composição do pãozinho francês é o fermento, que ajuda o alimento a crescer ao ser colocado no forno. O coordenador da área de fermento da Festpan, Mauro Luis, afirma que o preço do item é seguido pela cotação do dólar, impossibilitando um diagnóstico futuro.
— Se o dólar subir, o preço do fermento sobe. Se cair, [o valor] abaixa junto.
O vice-presidente do Sindipan-AM (Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Amazonas), Wellington Moreira, ressalta que a queda da demanda fez com que as panificadoras segurassem o preço dos produtos, independentemente do aumento com os custos de produção.
— O fermento baixou de preço, mas eu tive um aumento de 200% no valor da energia. Como eu vou conseguir diminuir preço de produto final se eu tenho custo fixo aumentando cada dia mais. Acaba não existindo nenhuma perspectiva para baixar o preço do pão. Na verdade, precisava era aumentar porque a lucratividade das empresas caiu consideravelmente nos últimos anos.