A maior parte das vítimas protestava contra atividades ligadas a empreendimentos de energia hidrelétrica, mineração e empresas do agronegócio
Historicamente, ambientalistas têm sido alvo de ataques por suas ações em defesa da natureza, dos direitos dos povos tradicionais e por denunciarem injustiças no campo. Mas a violência está escalando: quatro pessoas foram assassinadas por defender suas terras, florestas e rios contra atividades danosas a cada semana em 2016, o ano mais mortal para ambientalistas.
O novo relatório da ONG Global Witness, divulgado nesta semana, constatou que os assassinatos de defensores da terra não só estão crescendo, mas também estão se espalhando: pelo menos 200 ativistas foram mortos em 24 países no ano passado, em comparação com 185 em 16 países em 2015.
Quase 40% dos assassinados eram indígenas. A maior parte das vítimas protestava contra atividades ligadas a empreendimentos de energia hidrelétrica, mineração e empresas do agronegócio.
O assassinato é apenas uma série de táticas usadas para silenciar os defensores da terra e do meio ambiente, incluindo ameaças de morte, prisões, agressões sexuais e ataques agressivos, não raro respaldados pelo poder público.
Segundo a Global Witness, os governos têm parte de culpa na violência, ao criminalizar ativistas que organizam movimentos de resistência. “Encontramos evidências fortes de que a polícia e as forças armadas estavam por trás de pelo menos 43 assassinatos”, diz o relatório.
“Ironicamente, são os próprios ativistas que são pintados como criminosos, enfrentando acusações criminais falsas feitas por governos e empresas que procuram silenciá-los”, diz a ONG.
“Há agora um incentivo esmagador para destruir o ambiente por razões econômicas. As pessoas em maior risco são aquelas que já são marginalizadas e excluídas da política e da justiça e são dependentes do meio ambiente”, disse ao The Guardian, John Knox, relator especial da ONU sobre direitos humanos e meio ambiente. “Os países não respeitam o estado de direito. Em todo o mundo, os defensores enfrentam ameaças.”
Um dos casos trágicos na América do Sul foi a morte de Berta Cáceres, ativista ambiental e líder indígena, assassinada em sua cidade natal de La Esperanza, em Honduras, no dia 3 de março de 2016. Ela havia recebido no ano anterior o Prêmio Goldman, considerado o Nobel do meio ambiente, por sua militância contra a construção de uma represa hidrelétrica no Río Gualcarque. O empreendimento tinha como sócia a maior empresa construtora de represas do mundo, a chinesa Sinohydro, e ameaçava a permanência dos povos indígenas em seus territórios ancestrais.
Países mais mortíferos
Seis em cada dez assassinatos registrados em 2016 ocorreram na América Latina. O Brasil foi mais uma vez o país mais mortal em termos absolutos, com 49 assassinatos, muitos deles na floresta amazônica. A produção de madeira foi implicada em 16 desses casos, uma vez que a taxa de desmatamento do país aumentou 29%. Segundo país mais mortal, a Colômbia viu 37 mortes em 2016, um aumento de 40% nos assassinatos.
Defender os parques nacionais agora está mais arriscado do que nunca, particularmente na África, onde a República Democrática do Congo viu 20 guardas de parque e guardas florestais assassinados em 2016.
Metade das vítimas trabalhavam no Parque Nacional do Virunga, declarado Patrimônio Mundial pela Unesco e lar de alguns dos últimos remanescentes dos gorilas das montanhas. Além da ameaça constante de caçadores, nos últimos anos, o parque tem sido alvo de atividades extrativistas.
A entidade destaca, ainda, que para cada assassinato documentado, há outros que não podem ser verificados ou não são declarados. Muitos ativistas assassinados vivem em aldeias remotas, dentro das florestas tropicais ou de montanhas.
Só em 2017, 98 ativistas já foram mortos, segundo a ONG.