Guaranis-caiovás são vítimas do vício, de trabalho escravo e até se transformam em criminosos na região nas terras entre Brasil e Paraguai
O indígena C. assistia a um jogo da Copa do Mundo quando apareceu uma oferta de trabalho tão imprevisível quanto a partida, na qual iranianos apertavam argentinos naquela tarde de sábado de 2014. O “homem branco” que bateu a sua porta falava guarani – língua comum a índios e paraguaios – e disse que lhe pagaria R$ 40 por dia pelo plantio de eucalipto no Paraguai, cuja fronteira fica a 40 quilômetros dali, a aldeia Limão Verde, em Mato Grosso do Sul. Ele partiria imediatamente, era pegar ou largar. A área da Limão Verde é de 660 hectares para 1.600 guaranis-caiovás, o que dá o equivalente a apenas meio campo de futebol para cada um plantar e criar gado. Como C., a maioria sobrevivia do trabalho fora da terra indígena, mas a mecanização do corte da cana pelas usinas deixou ao menos 200 desempregados. Aos 40 anos, com quatro filhos para sustentar, ele não pensou duas vezes. Colocou algumas roupas na mochila, mal se despediu da família e subiu na carroceria do Saveiro branco, onde já estavam outros sete índios. O transporte ilegal na carroceria não encontrou polícia na rodovia que leva a Coronel Sapucaia. Chegando lá, bastou atravessar uma rua para entrar em Capitán Bado, cidade paraguaia que o juiz federal Odilon de Oliveira – expoente no combate ao narcotráfico – chama de a “capital mundial da maconha”, tamanha a produção da droga. O Saveiro parou e os índios pularam para um Toyota Hilux, que se embrenhou Paraguai adentro. Por volta de 1 hora da manhã, os índios desembarcaram no meio do mato. Percorreram 1 quilômetro e meio por uma trilha rasgada no milharal. Pularam cerca, andaram mais um pouco, até que encontraram dois homens armados que vigiavam um grupo de índios brasileiros, a maioria adolescentes entre 12 e 14 anos. Não havia plantio algum de eucalipto. “Aqui é o serviço, a colheita de maconha”, disse o patrão paraguaio.
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Logo no primeiro dia, C. percebeu que a lida era trabalho escravo. A jornada começava às 5h30 e acabava às 21 horas. Cozinhavam o almoço numa mesma panela, que primeiro recebia feijão, depois arroz, macarrão e por fim banha de vaca – e nem sempre a gororoba indigesta era suficiente para todas as 120 pessoas, grande parte índios brasileiros dos municípios de Amambai, Coronel Sapucaia, Antônio João e Caarapó, na região de fronteira. Como bandeirantes do século XVII, dez homens armados com rifles e pistolas vigiavam o cativeiro onde índios no século XXI trabalhavam sob o regime abolido (com enorme atraso) no século XIX. Os trabalhadores dormiam ao pé das árvores na falta de espaço no barracão armado no meio da mata. Durante o dia, era ali que C. e outros índios manipulavam as flores de maconha, esmigalhadas depois sobre uma mesa. O material triturado ia então para a prensa ganhar o formato de tabletes. Só numa noite, os índios carregaram uma caminhonete com 3.500 quilos.
C., seus companheiros de infortúnio e centenas de outros índios que passam por isso participam do processo que faz do Paraguai um dos cinco mais importantes fornecedores de maconha para o mercado internacional, de acordo com dados da ONU. A área onde C. esteve faz parte do território hoje dominado pelo PCC, o Primeiro Comando da Capital, a maior organização criminosa do Brasil, que avança no Paraguai desde que eliminou o traficante Jorge Rafaat Toumani, em 2016, como ÉPOCA mostrou na semana passada. Lá são produzidas algumas das toneladas de maconha que a facção envia para o Brasil e outros países, num negócio que movimenta mais de R$ 240 milhões. Na cultura da planta que se transforma em um produto ilegal, o trabalho – por óbvio – não é legalizado, não segue regras. Os índios – até mesmo crianças – ficam à mercê de criminosos profissionais.
Sem notícias após oito dias, as mulheres de C. e de seus colegas índios procuraram o capitão da aldeia, como é chamado o líder dos guaranis-caiovás. Nelson Castelão tinha experiência em detectar malvadezas contra seu povo. Ligou para o número de celular que o contratante deixara de contato. O homem disse em guarani que estava tudo bem, que em breve enviaria para as mulheres o adiantamento semanal dos maridos. Mais alguns dias sem notícias, e Castelão comunicou o desaparecimento à Funai, Fundação Nacional do Índio, que alertou a Polícia Federal. Já circulavam informações sobre o aliciamento de índios nas aldeias Amambai, próxima à Limão Verde, e Taquaperi, em Coronel Sapucaia, a 40 quilômetros dali, para trabalhar na colheita de maconha. A Polícia Federal conseguiu contatar um índio que fugira do cativeiro. Ele contou que os trabalhadores eram forçados a fumar maconha, além de trabalhar na colheita, e deu indicações de onde ficava a fazenda. A partir das informações da PF, a polícia paraguaia fez uma operação em Capitán Bado e resgatou oito índios da aldeia Amambai. Mas nem sinal de C. e seus companheiros da Limão Verde. Poucos dias depois, Castelão recebeu uma ligação. “Você aguarde, espere que nós vamos aparecer aí na sua casa, viu?”, disse um homem. “Mandou polícia atrás de nós, né?” O aliciador registrara o número do capitão no celular.
A polícia paraguaia chegou por volta das 4 horas da manhã ao acampamento onde C. e os outros guaranis-caiovás estavam havia 15 dias. Assustados com o tiroteio, eles se esconderam na mata, de onde avistavam a fumaça negra que exalava da plantação incendiada pelos policiais. Por volta das 10 horas, criaram coragem para voltar ao acampamento. C. encontrou suas roupas queimadas. Os seguranças armados transferiram os índios para outra área de plantio. “Obrigaram a gente a correr igual cavalo por cada brejo, que nossa! A água ficava por cima da cintura. Perdemos roupas e sapatos no caminho”, diz C., que chegou descalço à nova lavoura. Um dos homens lhe deu uma pistola para vigiar o grupo, mas sua intenção era fugir assim que clareasse. Chamou os outros índios da Limão Verde para acompanhá-lo. Mais velho, João Ferreira disse que não conseguiria segui-los e ficou no cativeiro. Os fugitivos chegaram à estrada no meio da tarde. Um camponês arrumou chinelos para C. Mais adiante, um guarda do cativeiro se aproximou de moto e pediu a pistola de volta. C. sacou a arma da cintura, retirou as balas e a devolveu. Na tarde seguinte, quando chegaram à sede da fazenda onde havia plantação de maconha, passava o jogo do Brasil com a Alemanha pela Copa, o inesquecível 7 a 1.
Reservas indígenas na fronteira do Brasil com o Paraguai se tornaram territórios livres para a atuação de traficantes
Por cinco dias, os índios ficaram em um quartinho e sem acesso a banheiro. Cansados de esperar por transporte de volta, eles caminharam dois dias enfrentando chuva e fome. Já próximos da fronteira, o motorista de uma caminhonete acenou para que subissem. Foi assim, novamente de carona em uma carroceria de caminhonete, que voltaram a Coronel Sapucaia, após 24 dias no Paraguai. Contaram a policiais federais sobre o trabalho na lavoura. C. foi festejado pela família, que o julgava morto. João Ferreira, que ficou para trás, ficou 60 dias na plantação até “o patrão” deixá-lo na linha de fronteira. Cobrou que voltasse na próxima safra. Ferreira mentiu que regressaria. Ganhou apenas R$ 1.000. Três anos depois, o capitão Nelson Castelão ainda teme que os traficantes apareçam para se vingar. Afinal, eles estão sempre por ali.
Terra indígena do PCC
Um investigador conhecedor do submundo da região afirma que “a área indígena é território livre” para o PCC hoje. Pobres, desempregados e sem terra para plantar, os indígenas da região são mão de obra fácil – e abundante e promissora – para incrementar os negócios criminosos. Presentes dos dois lados da fronteira, índios das etnias guarani-caiová participam de todos os ciclos da droga na área onde o crime organizado brasileiro se expande. Índios são trabalhadores escravos, são consumidores, são traficantes, são presidiários. Alguns deles, para surpresa de policiais, já estão até formalmente filiados à facção criminosa, como os bandidos das cidades. A tatuagem de caveira no estilo hip-hop no braço esquerdo combinaria melhor com alguém maior que Estéfano Ortiz Benitez, um guarani-caiová de apenas 1,58 metro de altura e cerca de 60 quilos. Indinho, como é chamado – por motivos óbvios –, tem pelo menos dez anos de militância na bandidagem, sempre no tráfico de drogas. Em 2011, ele se “batizou” no PCC, com o aval de três padrinhos, ganhou o número 8.875 e passou a exercer a função de “disciplina”, o encarregado de julgar integrantes que cometem pequenos desvios de conduta. Passou depois a membro do jet, o conselho que cuida do pavilhão de um presídio, analisa e julga informações repassadas pelo “disciplina”.
Indinho foi preso pela primeira vez em 2006 e de novo em 2010, quando foi condenado a 12 anos por tráfico. Mesmo preso, começou a mexer com cocaína, chamada de “100%” na linguagem da facção, uma droga mais rentável que a maconha. Indinho também organizava o cadastro de membros da organização para a festa de Natal e participava das rifas, que visam arrecadar dinheiro para o PCC com o sorteio de carros e motos entre presidiários de todo o Brasil. Contribuiu com R$ 35, em dezembro de 2015, na disputa por cinco motos, mas ninguém de Dourados ganhou. Os prêmios saíram para cadeias no Paraná, Mato Grosso do Sul (cidade de Três Lagoas), Minas Gerais e “Bolívia”, segundo anotações em um caderno da facção. No final do ano passado, Indinho passou ao regime semiaberto para trabalhar com serviços gerais numa empresa de engenharia. Fugiu três dias depois.
A explosão de criminalidade nas aldeias fez surgir uma expressiva massa carcerária de índios condenados pela Justiça – eles podem ser presos como qualquer cidadão, desde que compreendam a ilegalidade de seus atos. Com as mãos para trás e o rosto virado para a parede na penitenciária de Dourados, F., de 25 anos, conta que fez a triste transição de alguns de seus conterrâneos. Em 2012, num final de tarde, a polícia descobriu por acaso a “boca” na casa onde ele, um índio da etnia terena, morava na aldeia Jaguapiru e vendia drogas. Detido, condenado a cinco anos por tráfico, F. continuou em liberdade. Em 2014, policiais o prenderam de novo, desta vez dirigindo um Astra sem habilitação e com 14 gramas de pasta-base de cocaína. Recebeu pena de seis anos de prisão. Continuou mais algum tempo em liberdade até a polícia encontrar quase 70 gramas de pasta-base de cocaína em sua casa. Aí não houve jeito. Há um ano F. está preso. Lembra que começou a fumar maconha aos 12 anos e aos 20 viciou-se em crack, consumido livremente numa “balada” na saída da aldeia. “Vendi minha casa por R$ 8 mil e fui morar de aluguel. A bem dizer, eu fumei tudo, fumei quase uma casa”, diz. A pedra de crack custa R$ 10 e a caixa com 10 gramas sai por R$ 150 na aldeia, segundo F. A única visita que ele recebe é da mãe, aos domingos. Presa duas vezes com ele, mas sem condenação, sua mulher o abandonou e casou-se de novo. F. nunca mais viu os filhos de 5, 3 e 2 anos.
Já são tantos os índios presos que o governo de Mato Grosso do Sul criou uma ala só para abrigá-los na penitenciária de Dourados, a principal cidade daquela parte da fronteira. Em 2011, a ala abrigava 55 índios. Em maio passado eram 120 – encarcerados por homicídio (40 presos), estupro (38), roubo (22), tráfico (14), lesão corporal (4), associação criminosa (1) e furto (1). A ala tem um líder que leva reivindicações para a direção da cadeia, pede assistência à Funai, como kits de higiene, e evita brigas. A., de 41 anos, um sujeito tímido, de falar baixo e gestos contidos, está condenado a 43 anos de prisão por quatro tentativas de homicídio e um assassinato a tiros, durante brigas na aldeia Bororó. “Sempre falo para os que saem para não voltar mais para cá”, diz ele, que cursa no presídio o 3o ano do ensino médio. “Hoje quem mata na aldeia são guris de 13 e 14 anos. Matam até para roubar uma bicicleta, um tênis bom, porque não têm de onde tirar o que precisam.” A. nunca quis virar liderança na aldeia, mas dentro do presídio assumiu esse papel.
As dez celas dos índios ficam num setor que abriga detentos menos perigosos, idosos, homossexuais e internos que trabalham na cadeia. O pátio do pavilhão se resume a uma quadra de futebol onde os presos convivem bem. Recentemente, três índios preferiram migrar dessa parte mais calma para a ala destinada aos detentos batizados no PCC, temidos pelos demais. Os presidiários da facção agem de forma diferente e são tratados com mais cuidado pelos carcereiros nos procedimentos rotineiros. Quando estão no pátio, os presos comuns entram nas celas assim que soa um sinal do final do horário do banho de sol; em seguida, os carcereiros entram no pátio e trancam as portas. A turma do PCC permanece acintosamente fora das celas mesmo ao ouvir o toque de recolher; só se mexe para entrar depois de ouvir um segundo toque de recolher. Suas celas têm uma particularidade: um sistema de tranca acionado por fora, no qual uma longa barra de ferro trava as portas. Só depois disso carcereiros entram no pátio e passam um cadeado em cada porta. De cinco anos para cá, cresceu o consumo de drogas entre os guaranis-caiovás, diz a pesquisadora Rosely Pacheco, que há 15 anos estuda os conflitos nas aldeias. “Os guaranis-caiovás são pacíficos, mas há o efeito da droga”, diz Rosely. Há mais índios presos por tráfico e viciados, na mais recente desventura desses povos.
Ao longo da história, o embate com fazendeiros dizimou aldeias inteiras, como no ciclo da erva-mate do século XIX que confinou as tribos em pequenas ilhas no meio do latifúndio. Surgiram as reservas indígenas que juntaram à força etnias e costumes diferentes. Muito antes das drogas, comerciantes passaram a vender cachaça aos índios, o que disparou casos de alcoolismo. Na década de 1990, ao menos 270 índios cometeram suicídio, entre eles crianças. Entre 2005 e 2007, a desnutrição matou pelo menos 49 crianças em um estado que é grande produtor de alimentos.
Os guaranis-caiovás são cerca de 46 mil a viver em aldeias demarcadas de apenas 60.000 hectares no sul de Mato Grosso do Sul, boa parte em áreas na fronteira com o Paraguai. Como mostra o caso de C., faltam espaço e condições para plantar e sobreviver. As aldeias Jaguapiru e Bororó, vizinhas de Dourados, são áreas superpovoadas onde 12 mil habitantes dividem 3.500 hectares. Alguns poucos índios, porém, detêm a posse de grandes áreas. Demarcada em 1917, a reserva mais parece uma favela cercada pelos bairros que cresceram em volta. Sempre foi uma área problemática pelas chagas históricas de miséria, alcoolismo, suicídio e mistura de etnias. O tráfico de drogas se encarregou de piorar tudo com a disseminação do crime e do vício entre os indígenas.
A névoa se desmancha no céu azul da manhã de domingo, 7 de maio. Alguns índios caminham às margens do asfalto da rodovia que corta a aldeia Taquaperi, em Coronel Sapucaia. As duas meninas de cabelos aloirados pelo sol, o homem a cavalo, a mulher a pé atrás dele e o índio vestido de branco estranham forasteiros. O bucolismo da cena dura só até surgir a lembrança que a rodovia é rota do tráfico de drogas. Traficantes invadem sem cerimônia a terra indígena, onde a polícia não entra, para despistar a lei. Como as outras aldeias guaranis, Taquaperi não tem as ocas cobertas de sapê como antigamente. As casas de alvenaria escura, de madeira ou barracos de lona preta se espalharam entre o que sobrou da floresta e a praga do capinzal que cobre o Tekoha, como os índios chamam suas terras. Pequenas estradas tomadas por atoleiros e mato levam às moradias.
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Diante de uma dessas casas, vestido de calça jeans, sapato e camisa branca de manga longa, o capitão Oswaldo Rodrigues coloca o cocar de penas vermelhas e azuis para falar. “Já foram seis crianças mortas. Não vou falar que são mortas, mas há dois anos, três anos, estão desaparecidas. Elas foram levadas ao Paraguai para trabalhar na plantação de maconha”, diz. “No Brasil, criança não pode trabalhar, mas no Paraguai não tem essa lei. Por isso, levaram daqui.” As crianças aliciadas estavam na faixa dos 12 anos e estudavam na escola local. O capitão Rodrigues comunicou o desaparecimento a procuradores da República que estiveram na aldeia no início do ano. Os procuradores determinaram a abertura de um inquérito criminal e de outro cível para apurar o caso. Pediram uma lista de possíveis desaparecidos à Funai, que mantém um cadastro nas aldeias por meio de agentes de saúde. As duas investigações correm em segredo de Justiça, mas a procuradoria adianta que o relato dos índios é bastante consistente. Segundo um delegado, a Polícia Federal ainda não chegou a nenhum dos aliciadores porque os índios têm dificuldades em descrever os suspeitos. Outro entrave é que muitos guaranis-caiovás não têm documentos: só em Taquaperi há 250 adultos e ao menos 39 crianças sem registro de nascimento. Assim, é mais difícil encontrá-los.
O capitão diz que os traficantes também recrutam adolescentes de 14 a 17 anos. Acredita que cerca de 300 indígenas de Taquaperi, a maioria nessa faixa etária, estejam nas lavouras paraguaias atualmente. “Eles não têm como realizar seus sonhos dentro da aldeia”, diz. Querem roupas novas, um celular e, quando mais velhos, almejam uma moto para vencer a distância da aldeia até a cidade, localizada a alguns quilômetros de distância. Os pais têm poucas condições financeiras para satisfazer os filhos. Professor de ensino fundamental da aldeia, Amaro de Souza Rocha diz que os próprios garotos indígenas ajudam no aliciamento dos colegas. Segundo a Polícia Federal, um adolescente de 14 anos, que passou a viver no Paraguai, recruta gente na aldeia para o plantio da maconha. “Os índios na fronteira têm de ser mais protegidos. Estamos em perigo por causa dos traficantes armados”, afirma o capitão Rodrigues. Ele quer do governo ao menos uma caminhonete para servir de “viatura” à equipe de segurança da aldeia, formada por índios armados com facões.
Em 2013, o capitão Nelson Castelão flagrou um menino de 9 anos de idade com 12 quilos de maconha para distribuir na aldeia Limão Verde, principalmente a estudantes da escola local. Flagrado novamente, agora com 500 gramas, acabou despachado para uma área mais distante da fronteira. As crianças de até 9 anos de idade representam quase 31% da população de guaranis-caiovás. Como característica mais marcante, os indiozinhos têm grandes olhos negros que expressam meiguice. Eles surgem às dezenas do meio do capinzal seco, curiosos para ver os visitantes que chegam à aldeia. Estão sempre de roupas puídas, sujas de poeira. Enfrentam o alcoolismo dos pais, a desnutrição, toda sorte de privações na aridez da terra e agora a ameaça do tráfico de drogas. Só lhes resta acreditar que Nhanderu, o deus guarani, possa protegê-los.