Senador peemedebista corre o risco de ficar fora e ainda prejudicar a candidatura da esposa, Marinha
O cenário político para 2018 é um dos mais emblemáticos e nem mesmo os palpiteiros mais especializados arriscam prognósticos. Uma coisa vem sendo dada como certa, a dificuldade que muitos políticos, principalmente do legislativo terão de se reeleger. Os fatores são vários, mas um deles desponta com força, o descrédito da classe política junto à população e o outro ponto também relevante é a força das redes sociais.
Com isso, a vida de quem já acumula 15 anos no cargo de senador (dois mandatos) o desgaste é evidente. Valdir Raupp de Matos teve uma carreira política meteórica, foi vereador em Rolim de Moura, dois anos depois elegeu-se primeiro prefeito da cidade. Candidatou-se ao Governo em 1990, perdeu para Osvaldo Piana e em 92 novamente foi eleito prefeito em Rolim. Em 1994 foi eleito governador do Estado, perdendo em 1998 para José Bianco. Em 2002 foi eleito senador, reeleito em 2010. Chegou a ser vice-presidente nacional do PMDB, a maior legenda do país, o que mostra que ele conseguiu seu “lugar ao sol” no restrito cenário político nacional, composto por meia dúzia de lideranças (maioria do PMDB, como Renan Calheiros, Michel Temer, Romero Jucá, entre outros).
Como todo político, responde a ações no Supremo Tribunal Federal que se arrastam há pelo menos uma década e claro, não poderia deixar de aparecer na Lava Jato, a operação que envolve mais de um terço do parlamento nacional. E é nesse ponto que o senador vem enfrentando seu maior desafio, o de provar que não é culpado.
Acusado pelo Ministério Público Federal de ter recebido R$ 500 mil de propina em forma de “doação eleitoral”, que Raupp afirma terem sido declarados e gastos na campanha de 2010, ele foi citado em depoimento de delação premiada do doleiro Alberto Youssef, que afirmou ter operacionalizado o pagamento, e, segundo o doleiro, o valor teria saído da cota do PP e seria decorrente de sobrepreços em contratos da Petrobras.
Para complicar ainda mais, em 5 de setembro de 2016, a Polícia Federal apontou indícios de que o PMDB e os senadores e Valdir Raupp, Romero Jucá (RR), Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA) receberam propina das empresas que construíram a usina de Belo Monte, no Pará, por meio de doações legais, segundo relatório que integra inquérito que corre no Supremo Tribunal Federal.
Um dos indícios é o volume de contribuições que o partido recebeu das empresas que integram o consórcio que construiu a hidrelétrica: foram R$ 159,2 milhões nas eleições de 2010, 2012 e 2014. O relatório da PF ainda junta a versão com informações de outro delator, o ex-senador Delcídio do Amaral, de que senadores peemedebistas comandavam esquemas de desvios de empresas do setor elétrico. A conclusão do documento foi de que todos os quatro receberam as maiores contribuições de suas campanhas não de empresas, mas do PMDB.
Em 08 de março de 2017 a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), na relatoria do ministro Dias Toffolli, recebeu a denúncia ofertada pela PGR, reconhecendo que pode haver pagamento de propina disfarçado de doações eleitorais registradas. Este entendimento é a base de diversas denúncias apresentadas pelo MPF na Vara Federal de Curitiba e no STF.
“Tudo declarado”
Raupp se defende, afirmando que todo o dinheiro que recebeu foi declarado e gasto em campanhas. Para o senador, tão importante quanto se justificar para a justiça é convencer o eleitorado de Rondônia. Antes de ser citado na Lava Jato, a reeleição, segundo pesquisas internas, estava “tranquila”, mas depois disso, o nome do senador passou a enfrentar forte rejeição.
Por conta disso, nos últimos meses, Raupp intensificou sua presença em Rondônia e nas redes sociais. Ele se reinventou em termos de apresentação. Antes da Lava Jato, Raupp não aparecia em postagens, limitava-se a participar de eventos mais relevantes e entrevistas pontuais em programas de abrangência estadual. Essa mudança também tem outro fator, a reeleição de sua esposa, Marinha Raupp, deputada federal desde 1994, sendo reeleita ininterruptamente. E ela também passou a sofrer o desgaste do marido, agravado por deslizes, como o confronto com o presidente do Hospital do Câncer de Barretos, Henrique Prata em uma briga pelo cadastramento do hospital para receber recursos da União no Estado.
Rejeição e críticas
Em função do complicado cenário político brasileiro, a situação do casal Raupp complicou. O que antes era um exemplo de longevidade política, vem se tornando um entrave, já que o eleitor não quer saber do “político profissional”. Com o crescimento das redes sociais, apesar das limitações impostas por algoritmos geográficos, os eleitores abriram um ‘canal direto’ com a classe política. Postagens são rapidamente questionadas, perguntas são feitas, críticas e por vezes até ofensas pessoais.
O senador normalmente responde aos questionamentos, ignora os “mal educados” e vai tocando a vida nas redes sociais. Resta saber se ele vai ter fôlego para as urnas em 2018 e como vai ser o comportamento do eleitor.
Possíveis candidatos
Em 2018 alguns nomes já despontam com intenção de disputar as duas cadeiras no Senado Federal. Além de Raupp, candidato à reeleição, existe a possibilidade do ex-senador Expedito Júnior entrar na briga. Na semana passada, aqui em Brasília durante audiência pública na Comissão de Infraestrutura, o senador Acir Gurgacz anunciou o nome do atual prefeito de Ji-Paraná, Jesualdo Pires como um possível nome. Outro que também pode tentar uma vaga é o governador Confúcio Moura, que nega a possibilidade, mas fontes garantem que é jogo de cena.