Mudança no cenário afeta a vida de concurseiros que sonham com emprego estável. Emenda que congela gastos públicos dá perspectiva negativa para a abertura de novos concursos.
O sonho de voltar para a cidade natal foi interrompido por causa da crise financeira. O fluminense Vinícius Fundo morava em São Paulo e colocou para si mesmo um objetivo: passar num concurso público que o levasse de volta à terra natal. Só que, justamente em 2015, enquanto ele se preparava para os concursos, o estado mergulhou numa crise financeira. O resultado foi uma parada geral na abertura de novas vagas e uma mudança nos planos:
"Voltei a estudar para a área fiscal, com o objetivo de fazer concurso para fiscal do estado do Rio De Janeiro. Só que o estado acabou ficando numa situação complicada e não havia nenhuma previsão de concurso. Acabou saindo um edital para concurso de fiscal de tributos do município de Niterói em 2015. Eu queria voltar para o Rio de Janeiro e eu resolvi que ia estudar para esse concurso."
E de 2015 pra cá, o cenário de concursos só piorou. Em todo o país, há dois anos, eram mais de duzentas mil vagas. Neste ano o número não deve passar de 85 mil, uma queda de mais de 50%. E a tendência é de mais redução, com a emenda que congelou os investimentos públicos por 20 anos. Um teste para as emoções de quem dedica a vida aos estudos. Para disputas mais complexas como cargos no Poder Judiciário ou
Legislativo, há quem fique anos diante dos livros. E com a disputa mais apertada, é o preparo emocional que precisa ganhar investimento. Luiz Claudio Nogaroto é coordenador do Coaching Concursos e sabe que o equilíbrio emocional é essencial para quem busca um cargo público:
"A gente faz um plano de ação de modo a reforçar esse equilíbrio emocional necessário porque há uma tendência, diante de tanta notícia de corte de gasto, de não haver uma previsão concreta, que muitos concurseiros entram em estado de depressão. São pessoas que largaram o emprego na iniciativa privada acreditando nesse projeto, e esse projeto teve as regras mudadas. E isso aí abate muito esse aluno, e é nisso que a gente entra com as ferramentas."
Para o professor de administração pública da Universidade de Brasília José Matias Pereira, é necessário pensar no perfil do concurso e na situação fiscal do município, estado ou união. Isso porque vários deles mal conseguem suprir a folha de pagamento dos atuais servidores:
"Uma série desses estados hoje, eles estão à beira de uma bancarrota. Tem estados que a arrecadação não consegue pagar sequer pagar a folha de salário. E quando isso acontece, para que esses estados tenham ajudas, eles recebam ajudas do governo federal, eles têm que tomar uma serie de medidas de restrições, de contenção de gastos, entre elas a questão da não contratação de novos servidores, e isso efetivamente impacta na vida dessas pessoas que já estavam se preparando."
Para quem sonha com a estabilidade no mercado de trabalho, a espera por um concurso pode ser dolorosa. Mas os verdadeiros "concurseiros" vão aproveitar esse período para se dedicar aos livros e se preparar para quando a crise passar.