O novo procedimento é realizado sem cortes, via endoscopia e atualmente só está disponível de forma experimental, por um protocolo de pesquisa
Pacientes com obesidade moderada (IMC acima de 30) poderão tratar o excesso de peso com uma nova técnica de redução de estômago aprovada, de forma experimental, recentemente no Brasil. Ao contrário da cirurgia bariátrica tradicional, indicada apenas para pacientes com IMC acima de 35 (associado à comorbidades), a gastroplastia endoscópica não é uma cirurgia propriamente dita, embora seja realizada em centro cirúrgico e com anestesia geral.
Na nova técnica, um endoscópio flexível com uma câmera de alta resolução é inserido no paciente por meio da boca até chegar ao estômago. Uma agulha com um fio altamente resistente costura parte do órgão, diminuindo seu tamanho para cerca de 60% do original e o deixando em formato de tubo. “Dessa forma, o estômago fica mais restritivo e com menor complacência, ou seja, não consegue dilatar”, explica o endoscopista Eduardo Grecco, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da técnica. No período de um ano, a perda de peso estimada é de 20% a 25%.
Segundo o especialista, o tempo de “cirurgia” também é reduzido – cerca de 50 minutos, ante duas horas no procedimento tradicional -, o que diminui os riscos de complicações no pós-operatório. Além disso, a recuperação é mais rápida, pois o paciente pode ir para a casa no mesmo dia e retomar as atividades normais em menos de uma semana. Na bariátrica convencional, o tempo de internação fica em torno de três dias e é necessário um repouso maior antes de retomar as atividades.
Uma opção a mais
Para Caetano Marchesini, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), a gastroplastia endoscópica é uma técnica que vem complementar as opções existentes para o tratamento da redução de peso e não compete com a cirurgia bariátrica por apresentar resultados muito diferentes. “Esse procedimento se aproxima mais dos resultados do balão intragástrico e não da cirurgia.”
Segundo Marchesini, a restrição alimentar promovida pela cirurgia bariátrica tradicional é muito maior do que na técnica por endoscopia porque na cirurgia parte do estômago é realmente separada, o que altera também hormônios ligados à fome e saciedade. “A perda de peso na cirurgia bariátrica gira em torno de 40%, enquanto na endoscópica é 25%”, afirma.
Custos
Por se tratar de um procedimento novo, a gastroplastia endoscópica ainda não tem cobertura dos planos de saúde e será oferecida apenas para pagamento particular. Segundo Grecco, o procedimento todo gira em torno de R$ 40 mil.
Em nota, o Conselho Federal de Medicina (CFM) informou que a gastroplastia endoscópica ainda não consta do rol de procedimentos bariátricos reconhecidos pelo órgão. Informa ainda que, até o momento, não houve formalização de pedido para reconhecimento dessa técnica junto ao CFM e, por enquanto, o procedimento pode ser realizado apenas por meio de protocolos de pesquisa.
Diante disso, no momento, o procedimento pode ser realizado em apenas 30 pacientes – dos quais oito já foram operados -, pela Faculdade de Medicina do ABC. Mas a ideia é expandir ainda mais o protocolo, para que mais pessoas sejam beneficiadas.
Enquanto isso não acontece, Galvão Neto, também responsável pelo desenvolvimento da técnica, percorre o mundo treinando médicos para o uso da técnica, enquanto Grecco comanda os procedimentos no Brasil. No mundo todo, mais de 3.000 procedimentos já foram realizados em cinco anos, 300 deles pelo grupo de Galvão Neto.
Primeiro brasileiro
O empresário Laurindo Gonçalves Cirqueira, de 57 anos, foi o primeiro brasileiro a se submeter ao procedimento, há um ano, dentro do protocolo de pesquisa. Ele soube que a faculdade estava selecionando voluntários e a filha o inscreveu. Na época, pesava 119 quilos e tinha obesidade de grau 1. Em um ano, o empresário perdeu 27 quilos (22,6% do peso original).
“Mesmo sabendo que eu seria o primeiro do Brasil, topei fazer o procedimento. Eu já tinha tentado todos os tipos de regime e não conseguia perder peso. Tomava remédios, fazia dietas, tomava chás, fazia de tudo e não conseguia emagrecer”, diz Cirqueira. Além disso, o empresário conta que sentia muita dor nos joelhos e tinha de usar uma bengala para conseguir se movimentar. “Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida. Hoje, graças a Deus, voltei à minha vida normal, faço caminhada, frequento a academia. Não tive dor nenhuma no pós-operatório e a recuperação foi ótima.”
(Com Estadão Conteúdo)