Problemas se acumulam para a multinacional americana de transporte privado urbano, que também deve enfrentar grandes prejuízo
Abusos, sexismo, roubo de tecnologia e conflitos de todo tipo: os problemas se acumulam para a multinacional americana de transporte privado urbano Uber, que também deve enfrentar grandes prejuízos econômicos.
No escândalo mais recente, um funcionário da Uber obteve um parecer médico de uma mulher estuprada em 2014 por um motorista da empresa em Nova Délhi, na Índia, e o entregou ao presidente do grupo, Travis Kalanick, com a finalidade de desacreditar o relato da vítima, segundo a imprensa americana.
O agressor da jovem foi condenado à prisão perpétua no ano seguinte e o funcionário, Eric Alexander, foi demitido. Alexander "já não faz parte da empresa", disse um porta-voz da Uber à AFP na quinta-feira, sem especificar os motivos nem a data de sua saída.
O novo episódio Uber acontece em meio a uma crise vivida há meses pela companhia, acusada por alguns funcionários de tolerar uma cultura machista e violenta.
- Demissões e renúncias em série -A Uber, que promoveu uma ampla investigação interna sobre esses casos, informou na terça-feira da semana passada ter demitido 20 funcionários, depois de 215 queixas dentro da empresa relacionadas a abuso sexual e discriminação.
O diretor técnico do grupo, Amit Singhal, foi forçado a renunciar depois de ocultar a queixa por abuso sexual que lhe foi dirigida pela Google, onde trabalhava antes.
Outro funcionário, Jeff Jones, deixou seu cargo em março, cerca de seis meses depois de ter sido contratado pela Uber, por discordar sobre a estratégia do grupo.
Diante da avalanche de polêmicas e deserções, a empresa com sede em São Francisco anunciou nos últimos dias a contratação de duas mulheres na tentativa de melhorar a sua imagem: uma professora de economia de Harvard, Frances Frei, e uma ex-executiva da Apple, Bozoma San Juan.
"Sei onde estou me metendo", declarou a última em uma entrevista ao site especializado Recode, referindo-se às muitas controvérsias que cercam a companhia, afirmando que quer melhorar a imagem da marca Uber.
Para analista Robert Enderle, do Enderle Group, o "maior problema" da Uber é financeiro. Em 2016, o grupo perdeu 2,8 bilhões de dólares, em um volume de negócios de 6,5 bilhões.
Para Enderle, é "difícil resolver problemas enquanto a empresa perde tanto dinheiro" e enquanto seu CEO Travis Kalanick permanece no cargo. "Parece que a maioria dos problemas vêm dele", opina o analista.
Kalanick, que tem fama de personalidade impetuosa, tendência ao confronto e facilidade para se gabar sobre suas conquistas femininas, teve que apresentar um pedido de desculpas em março, depois de uma briga com um motorista da sua própria companhia. "É a primeira vez que admito isso, preciso de ajuda em um nível de gerência e tenho a intenção de recorrer a isso", disse.
Outra preocupação para a Uber é o processo por um suposto de roubo de tecnologia.
Em fevereiro, a Waymo, filial da Alphabet (Google) encarregada do desenvolvimento de carros autônomos, acusou um de seus ex-diretores, Anthony Levandowski, de ter roubado informação técnica ao se separar da empresa para fundar sua própria companhia, Otto, posteriormente adquirida pela Uber.
A Uber anunciou no final de maio que havia despedido Levandowski, acusando-o de não querer cooperar com a investigação que foi aberta como resultado deste litígio.
Software espiãoAinda neste âmbito legal, o governo dos Estados Unidos abriu uma investigação penal contra a Uber, suspeita de ter utilizado um software para que seus motoristas evitem ser detectados pelas autoridades nas áreas onde seus carros não podem trabalhar.
Presente em 500 cidades no mundo, a Uber enfrenta frequentemente problemas legais com seus motoristas (mal remunerados em Nova York), com os táxis (na Argentina, na França, na Polônia, na Espanha, no Brasil entre outros países) e com as autoridades.
Em maio, o Tribunal de Justiça da União Europeia afirmou que a companhia precisa ser licenciada e ter autorizações, como os táxis regulares, para poder funcionar.
Com um modelo de negócios bastante questionado, a Uber, que começou em 2010, não opera na Bolsa, mas é avaliada em 70 bilhões de dólares, com base na captação de fundos realizada entre os investidores.
Por enquanto, domina o mercado, mas seu concorrente Lyft, fundado em 2012, faz o papel de empresa "modelo" e multiplica as associações com fabricantes de automóveis e desenvolvedores de software.