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PLANTÃO: Autoteste para o HIV chega até o fim do mês às farmácias

Produto é o primeiro do tipo aprovado pela Anvisa para produção e comercialização no país



Até o fim deste mês, farmácias em todo país vão começar a vender o primeiro autoteste para detecção do HIV, o vírus causador da Aids, autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para fabricação e comercialização no Brasil. Batizado Action, o produto feito pela Orange Life é mais uma importante arma para o cumprimento aqui da chamada estratégia 90-90-90 do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) para acabar com a epidemia da doença, acredita o médico italiano Marco Collovati, fundador da empresa, sediada em Vargem Pequena, Zona Oeste do Rio. Isto porque o primeiro pilar da estratégia é justamente que até 2020 ao menos 90% das pessoas contaminadas pelo vírus saibam de seu status de soropositivas, continuando então para que pelo menos 90% delas recebam tratamento antirretroviral, de forma que no mínimo 90% dessa s tenham supressão de sua carga viral.


— O Brasil sempre foi líder mundial no combate e prevenção do HIV, passos à frente de outros países, mas o último que faltava era liberar os autotestes, já aprovados nos EUA, Reino Unido, França, Austrália e outros — diz Collovati, destacando estimativas que apontam que cerca de 500 mil brasileiros com o vírus não sabem que são soropositivos. — Por isso acredito que no Brasil os autotestes terão maior impacto que no resto do mundo. Não que sejam características exclusiva dos brasileiros, mas temos aqui traços culturais de machismo e preconceito que tornam os autotestes fundamentais para esta estratégia.


Collovati cita como exemplo disso um indivíduo que more numa cidade do interior “onde todos se conhecem” e tema expor sua condição de soropositivo ou outras questões privadas à comunidade ao buscar testagem numa instituição de saúde ou laboratório local.


— Por ser um vírus transmitido principalmente pela via sexual, há muito tabu em torno do HIV — lembra. — Assim, bem ou mal esta pessoa vai se sentir exposta qualquer que seja o resultado, positivo ou negativo. Então o que ela vai fazer? Vai numa outra cidade? Não faz o exame? Com os autotestes, ela poderá ter sua resposta com bem menor exposição.


Outros casos importantes que os autotestes podem ser muito úteis vislumbrados por Collovati são pessoas que voluntária ou involuntariamente acabaram em uma situação de maior risco de contaminação, como o não uso ou o rompimento de preservativos numa relação sexual.


— Muitas vezes estas pessoas ficam com medo de se diagnosticarem, não querem enfrentar o assunto, pois sabem que uma vez que fizerem o exame estarão numa posição de decisão — conta. — A privacidade do autoteste pode ajudá-las a enfrentar esta realidade, mudarem seu jeito de ser, fazer e viver, protegendo a vida dos outros. Os testes de HIV deviam ser uma coisa rotineira, como qualquer outro exame, de colesterol, por exemplo.


Neste sentido, Collovati acredita que tecnologias como autotestes ou os chamados testes laboratoriais remotos (TLR) — realizados nos locais de atendimento de pacientes, como postos de saúde ou consultórios médicos, com o uso até de smartphones — podem revolucionar as estratégias de saúde pública para prevenção e controle de epidemias, tanto do HIV quanto de doenças como hepatite C, dengue, zika e chicungunha, entre outras.


— Tenho uma visão oposta à centralização dos exames em grandes laboratórios, que é levar a máquina ao paciente, e não o paciente à máquina — defende. — Com isso, podemos ir muito além de um simples positivo ou negativo, agregando uma série de informações ao resultado, como o local do diagnóstico, onde o paciente mora, trabalha e foi infectado etc que permitirão às autoridades fazerem intervenções cirúrgicas contra estas epidemias. Ao usarmos o resultado só para dizer se o paciente tem aquela doença ou não, a gente joga fora 90% das informações que estes testes podiam nos dar. Além disso, quanto mais capilarizarmos estes diagnósticos fundamentais para a saúde pública, mais vamos criar demanda para os grandes laboratórios, com exames de confirmação, e os médicos. Mas se barrarmos estes avanços, será ruim para os médicos, os laboratórios e muito pior para a sociedade.

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