MPF diz que ex-presidente da estatal responsável pela via continua a lavar dinheiro após ser condenado; filho e advogado são alvos de mandados de prisão.
O Ministério Público Federal e a Polícia Federal realizam nesta quinta-feira (25) a Operação De Volta aos Trilhos, que investiga lavagem de dinheiro de propinas pagas durante a obra da ferrovia Norte-Sul. Há dois mandados de prisão preventiva, sendo um contra Jader Ferreira das Neves, filho do ex-presidente da Valec Juquinha das Neves, estatal responsável pela construção da via, e outro contra o advogado Leandro de Melo Ribeiro.
Também devem ser cumpridos 7 mandados de busca e apreensão e 4 de condução coercitiva em Goiás e Mato Grosso.
O G1 tenta contato com a defesa de Jader Ferreira das Neves e de Leandro de Melo Ribeiro.
O MPF alega que Juquinha e Jader "continuaram a lavar
dinheiro da propina" mesmo depois de condenados à prisão, "produzindo provas falsas no processo para ludibriar o juízo e assegurar impunidade, além de custearem parte de sua defesa técnica (advogados) com dinheiro de propina".
Neste ano, pai e filho pegaram, respectivamente, 10 e 7 anos de reclusão, por formarem quadrilha e lavarem de dinheiro nas obras de construção da Ferrovia Norte-Sul, praticados por Juquinha quando presidiu a Valec. Ambos aguardam o julgamento de seus recursos em liberdade.
Segundo o MPF, o advogado é suspeito de ser laranja de Jader e Juquinha, além de auxiliá-los na ocultação do patrimônio.
O MPF informou que também foi pedida a prisão preventiva de Juquinha das Neves, mas a solicitação foi indeferida pela 11ª Vara Federal da Sessão Judiciária de Goiás, que considerou não haver, neste caso, provas suficientes de atualidade criminosa. Apesar disso, o Poder Judiciário determinou a condução coercitiva, quando a pessoa é levada a depor, contra Juquinha.
A operação De Volta aos Trilhos é um desdobramento das investigações da Lava Jato e nova etapa das operações O Recebedor e Tabela Periódica. Conforme os procuradores da República, a ação baseia-se em acordos de colaboração premiada assinados com o MPF pelos executivos das construtoras Camargo Corrêa e da Andrade Gutierrez, que confessaram o pagamento de propina a Juquinha das Neves.
De acordo com o MPF, a ação também é embasada em investigações da Polícia Federal que levaram à identificação e à localização de parte do patrimônio ilícito mantido oculto em nome de terceiros (laranjas).
Assim, os procuradores destacam que um dos principais objetivos da operação é o sequestro e apreensão dos seguintes bens:
Apartamento no edifício IT Flamboyant, no Jardim Goiás, em Goiânia
Apartamento em construção no Edifício Residencial Applause-New Home, no Setor Coimbra, em Goiânia
Cinco casas populares localizadas no Condomínio Residencial Pôr do Sol II, na cidade de Bela Vista, Goiás
Aeronave King Air, prefixo PT-WFNAeronave Neiva Seneca III, prefixo PT-VOV
Nota promissória emitida no valor de R$750 mil
Cotas do capital social de Noroeste Imóveis Ltda., bem como dos imóveis registrados em nome dela: loteamento Jardim Noroeste, com quase 300 lotes, em Água Boa (MT); duas glebas de terra nos municípios de Breu Branco e Goianésia do Pará.
O MPF estima que com esses bens tenham sido lavados pelo menos R$ 4,4 milhões provenientes de propina, em valores de 2012. Porém, somente após a avaliação do patrimônio é que se chegará ao seu valor real.
A Valec, informou, em nota, que "as irregularidades que motivaram a operação referem-se a períodos em que a empresa era gerida por outra Diretoria. Quando foi deflagrada a operação “O Recebedor”, a atual diretoria da Valec instituiu internamente uma Comissão Especial de Acompanhamento e Apuração com a finalidade de acompanhar fatos investigados e mantém seu compromisso com a probidade, a ética e a transparência no exercício da atividade pública".
Ferrovia Norte-Sul
A Ferrovia Norte-Sul foi inaugurada no dia 22 de maio de 2014, depois de cerca de 25 anos do início das obras. O trecho entre Palmas, no Tocantins, e Anápolis, em Goiás, tem 855 quilômetros de trilhos.
Apesar da inauguração, a primeira viagem só foi feita em dezembro de 2015. Devido à demora da obra, a Valec não soube precisar quanto de dinheiro já havia sido gasto. A estatal estimou, na época, a quantia de US$ 8 milhões. Denúncias de irregularidades marcaram a construção.