As informações constam no termo de colaboração número 35 da delação de Valdir Aparecido Boni.
Segundo o diretor da JBS, sua empresa recolhia menos ICMS que o estabelecido por lei referente aos ativos da Guaporé Carnes, em Rondônia, por meio de pagamentos mensais para Edgar Nilo Tonial, o Edgar do Boi, hoje vice-prefeito de Porto Velho. As informações constam no termo de colaboração número 35 da delação de Valdir Aparecido Boni.
Em 2012, a JBS arrendou quatro frigoríficos junto ao grupo Guaporé Carnes em Mato Grosso e em Rondônia. Quando foi fechada a transação, o contador da Guaporé encontrou o delator, Valdir Boni, na sede do Partido Social Democrático Cristão (PSDC), em Porto Velho, com o contador e proprietário de escritório de contabilidade denominado Rio Madeira Contabilidade Empresarial, Clodoado Andrade, e o Edgar do Boi. Na reunião ficou acertado que a JBS recolheria menos ICMS e a contrapartida seria o pagamento de um percentual do imposto não recolhido ao Edgar e ao Clodoaldo. Parte do valor da propina seria repassada aos fiscais da Secretaria Estadual de Receita.
A companhia passou a recolher ICMS inflando artificialmente os créditos presumidos e, com isso, diminuindo o valor a recolher. Em paralelo, a companhia passou a pagar uma propina mensal de 30% do ICMS não recolhido.
Do segundo semestre de 2012 até o fim de 2014, foram pagos cerca de R$ 2 milhões em espécie, com entregas mensais. Os montantes eram entregues em mãos a Clodoaldo. O esquema mudou em 2015, quando passou a ser pago por meio de notas emitidas pela empresa Rio Madeira Contabilidade Empresarial, sem contrapartida de prestação de serviços, por meio de TED de empresa a empresa. Nesse período, que durou até agosto de 2015, foram pagos cerca de R$ 1,8 milhão.
Nas tratativas, ficou estabelecido, ainda, que a JBS não seria fiscalizada por essa operação de ICMS pelo período de dois a três anos e, quando o fosse, a fiscalização envolveria a homologação fraudulenta nos lançamentos.
Em agosto de 2015, com as mudanças políticas e a tensão no país, a JBS sinalizou que queria abrir mão do esquema e iniciou um processo gradual para encerrar a sonegação de ICMS. Em dezembro de 2016, Valdir Boni esteve em Porto Velho para tratar com Clodoaldo uma retomada do esquema nos moldes originalmente acordados. Por mensagem de Whatsapp, Clodoaldo solicitou por volta de R$ 2,5 milhões para que fiscais não autuassem a companhia. A propina foi renegociada por Boni e ficou em R$ 1,2 milhão. O pagamento, segundo o delator, está pendente até hoje e ainda é cobrado por Clodoaldo.