Material deve revelar mais detalhes sobre a relação da empresa com políticos. Em áudio, empresário diz a Temer que tenta obstruir Justiça
As gravações feitas pelo empresário Joesley Batista durante conversa com o presidente Michel Temer continuarão a fazer estragos nesta sexta-feira (19/5). Após o levantamento do sigilo do diálogo, determinado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin na quinta (18), a Corte prometeu divulgar novos trechos da delação feita por sete executivos da maior produtora de proteína animal do mundo. Além de Temer e do senador Aécio Neves (PSDB-MG), outros nomes de peso podem ser afetados, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
Se o que vier pela frente tiver conteúdo no mínimo parecido com o de quinta (18), os ecos da delação da JBS vão ecoar forte nos bastidores do poder. No áudio divulgado ontem, por exemplo, Joesley e Temer conversam por mais de 30 minutos e uma grave acusação contra o presidente foi revelada: o peemedebista sabia e agia com naturalidade diante das tentativas de Joesley Batista de obstruir investigações da Polícia Federal e do Ministério Público.
Em um trecho da conversa, gravada no dia 7 de março no Palácio do Jaburu, o empresário demonstrou preocupação com os avanços da Operação Lava Jato e fez referência ao pagamento de suborno a juízes: “Então, aqui eu dei conta de um lado do juiz, então eu dei uma segurada, do outro lado do juiz substituto”. Temer questiona se Joesley “está segurando os dois” e, ao ouvir que sim, o peemedebista demonstra aprovação: “Ótimo, ótimo”.
Logo depois, Joesley Batista diz que tem um informante dentro da força-tarefa da Operação Lava Jato — identificado como o procurador da República Angelo Goulart, preso nesta quinta (18) — e conta que tenta trocar o procurador responsável por uma das ações contra a JBS.
“Então eu consegui dentro da força-tarefa que também está me dando informação. É lá que eu estou para dar conta de trocar o procurador que está atrás de mim”, afirma o empresário. O presidente, mais uma vez, não esboça reação e continua a conversa sem maiores impedimentos.
Confira a transcrição
Michel Temer – Tudo bem?
Joesley Batista – Tudo bem?
Temer – Pensei que você estava fora do Brasil.
Joesley – Tô ficando muito, muito… Como é que está a correria? Antes (inaudível)
Temer – Sabe que eu era tão feliz [inaudível]. Não sei você sabe, eu tô fazendo 10 meses, mas parece que foi ontem, né? Parece que foi ontem [inaudível], e são duas coisas. Tem uma oposição terrível no começo. Eles lançaram aquele negócio de golpe, golpe, golpe, não passou. E a economia não vai dar certo, não vai dar certo e começou a dar certo. Então os caras estão num desespero. Primeiro que não têm apoio do Congresso.
Joesley – Muito grande.
Temer – Se não têm apoio, estão ferrados, estão ferrados. Não têm apoio da imprensa. Mas vai dar certo. Nós vamos atravessar isso aí, você vai ver. Nós vamos chegar no final deste ano já muito melhor. Em 2018, vamos comemorar.
Joesley – Com certeza. Sabe que nós vamos chegar, isso mesmo. Vamos chegar no fim deste ano olhando para frente.
Temer – Já começou modestamente, já começou. Coisa que eu não esperava que começasse agora.
Joesley – Muito rápido, foi muito rápido, porque você está falando de 10 meses, mas na realidade… Então teve aquele período muito duro, que não podia fazer nada.
Temer – Seis meses como titular. E olha o que nós já fizemos. O teto dos gastos, aprovamos a DRU… Eu acho que estava lá há 10 meses para ser votado. Aprovamos dezenas, aprovamos a reforma do ensino médio, a admissibilidade da Comissão de Constituição e Justiça… Fizemos um grande acordo de natureza trabalhista das centrais sindicais.
Joesley – É, muito rápido. Muita coisa, muito rápido. A economia está bem. Vai ter que baixar os juros muito rápido, porque a expectativa foi muito rápida, né? A reversão da expectativa.
Temer – Mas eu tenho a impressão que a turma detesta [inaudível].
Joesley – [inaudível] …Tem que deixar o mercado com a sensação de que foi pouco. O mercado tem que ficar na sensação [inaudível]. E pode tomar a dianteira, porque você vê, o Banco Central abaixou 25, depois 25. Aí ele deu um depois. Quando ele deu 75, o mercado deu uma animada. Só que aí já esperava um e deu 75, é muito. Aí ele deu um e o mercado ô, agora vai dar um e o mercado vai achar pouco. Pô, mas só um? Tinha que ser um e meio. Não, está bom presidente, à tarde, deixa eu te falar, primeiro eu vim aqui por dois, três motivos. Primeiro que eu não tinha te visto, né? Desde quando você assumiu.
Temer – E tem mesmo.
Joesley – Desde quando você assumiu.
Temer – Quando eu assumi, não, antes.
Joesley – Eu estive no seu escritório uns 10 dias antes. Quando estava naquela briga ainda. Aquela guerra pelas redes sociais e não sei o quê.
Temer – Tem razão.
Joesley – Negócio de golpe… E aí, mas tudo bem. E aí, enfim, de lá pra cá, eu vinha falando com Geddel (Vieira Lima), enfim, aí também não quis lhe incomodar.
Temer – Deu aquele problema, foi uma bobagem, sem consequência nenhuma.
Joesley – Queria te ouvir um pouco, presidente. Como está nessa situação toda, Eduardo, não sei o que, Lava Jato.
Temer – O Eduardo resolveu me fustigar. Você viu que… Eu não tenho nada a ver com a defesa. O Moro indeferiu 21 perguntas dele, eu não tenho nada a ver com a defesa dele. Eu não fiz nada [inaudível].
Joesley – Eu queria falar assim. Dentro do possível, eu fiz o máximo que deu ali, zerei tudo, o que tinha de alguma pendência daqui para ali, zerou tudo. E ele foi firme em cima e já estava lá, veio, cobrou, tal, tal, tal. Pronto. Acelerei o passo e tirei da fila. O outro menino, o companheiro dele que está aqui, porque o Geddel sempre estava [inaudível] Geddel é que andava sempre ali, mas o Geddel também com esse negócio eu perdi o contato, porque ele virou investigado e eu não posso encontrar ele. […] O que que eu mais […] O negócio dos vazamentos, o telefone lá do Eduardo com o Geddel volta e meia citava alguma coisa meio tangenciando a nós. Eu tô lá me defendendo. Como é que eu, o que eu mais ou menos dei conta de fazer até fazer até agora. Eu estou de bem com o Eduardo…
Temer – Tem que manter isso, viu…
Joesley – Todo mês, também, eu estou segurando as pontas, estou indo. Esse processo, eu estou meio enrolado aqui né, assim, no processo [inaudível]…
Joesley – É investigado. Eu não tenho ainda denúncia. Então, aqui eu dei conta de um lado do juiz, então eu dei uma segurada, do outro lado do juiz substituto que é um cara que ficou…
Temer – Está segurando os dois?
Joesley – Estou segurando os dois.
Temer – Ótimo, ótimo.
Joesley – Então eu consegui dentro da força-tarefa que também está me dando informação. É lá que eu estou para dar conta de trocar o procurador que está atrás de mim. Se eu der conta, tem o lado bom e o lado ruim… O lado bom é que dá uma esfriada até o outro chegar e tal e o lado ruim é que se vem um cara com raiva e não sei o quê… O que está me ajudando está bom. O que está me investigando eu consegui colar um no grupo. Tô tentando trocar.
Temer – Ótimo, ótimo. O que está em cima…
Joesley – Está meio assim. Ele saiu de férias e estya semana fiquei preocupado, saiu um burburinho que poderiam trocar ele. Assim, estou assim, me defendendo e segurando e tal. Mas o Geddel estava aqui e aquele negócio da anistia quase não deu.
Temer – Quase, quase não deu [inaudível]. Se todos se reunirem e fizerem isso…
Joesley – Você sabe que eu estive até naquele dia com o presidente Lula, naquela época com o PT, que parte do PT. Ele: “ah o Paulo Pena”. Ah presidente, eu quero uma aguinha… Ah todo mundo [inaudível]
Temer – [inaudível]
Joesley – Isso foi um negócio… O negócio da autorização era outro [inaudível]. Eu não sei o quanto você está alto assim, de corpo de verdade para essas coisas. É uma brutalidade, um negócio. Há duas semanas atrás, três semanas atrás, outro que nunca ouvi falar, que trabalhava lá com Lúcio, parece era financeiro lá. Nunca vi, ninguém nosso nunca viu. O menino disse assim “ah, eu ouvi falar do Lucio que não sei o quê”…
Joesley – Pô, me rendeu um Fantástico, um Jornal Nacional e não sei o que e uma confusão. Ainda bem que eu tenho boa relação com a imprensa e consegui rapidamente e… Quietou. Foi um dia, dois e pronto, parou. Mas puta merda, viu? Mas tudo bem. Sobre esse ponto aí estamos indo, estamos tocando. É o seguinte: estou fazendo R$ 50 mil por mês e me dá essa informação. [inaudível] O bravo é… mas vamos lá. Queria falar sobre isso, falar como é melhor contigo, como é a melhor maneira… Olha só, e o Geddel… Eu não vou lhe incomodar, evidente… Eu sei disso por isso que… É o Rodrigo?
Temer – É o Rodrigo.
Joesley – Então, ótimo. Se for alguma coisa que eu precisar [inaudível]. Eu prefiro combinar assim se for alguma coisa que eu precisar eu falo com Rodrigo… Se for algum assunto desse… Funciona super bem à noite, 23h da noite, 0h, 22h30, vem aqui, conversa uns 10 minutinhos, meia horinha.
Temer – [inaudível]
Joesley – Tá. Falar de outra coisa aqui. O Henrique, como é que você está com o Henrique?
Temer – Ele concorda com isso. O que vai acontecer, tem razão. Vai fazer o que…
Joesley – [inaudível] muito trabalhador. Ele é trabalhador, nossa senhora.
Temer – É inacreditável, é inacreditável.
Joesley – E ele gosta. Você não chama ele para ir pra paraia. Se você for para praia e chamar ele ih… Agora, se você falar vamos trabalhar… Tenho Henrique como disciplinado, lógico, relação ótima com ele, e disse que está tudo bem. Eu não sei. Já andei falando com ele alguns assuntos, pensando ele, ele é… Pra caramba. E um dia falei com ele: “Henrique, e você está lá no Banco Central, como é que está e tal… E ele: “É, não, aquilo lá o Wiler (Tomaz) faz as coisas e tira foto. E não é você que manda nessa merda? E eu tiro a foto não faz as coisas. E ele: “É aquilo lá, o Wiler faz as coisas. Você que manda nessa merda? o Wiler lá…”. Aí que eu quero, um dia eu falei assim: “Preciso mexer na Receita Federal. Está cheio de gente há tanto tempo, aí põe um outro cara mais dinâmico aí. Um monte de coisas para fazer. Ele: “Ih, não posso mexer… Aí BNDES é o Planejamento, mas foi você que botou a Maria Silva (Bastos Marques, presidente do BNDES)… Não, não, mas é do Jucá”.
Temer – [inaudível]
Joesley – E eu ter alguma sintonia contigo para poder falar com ele (Henrique) e ele não jogar “ah não, presidente, não quero”.
Temer – Não deixo.
Joesley – Não deixo, não quero e tal. Pô, Henrique, eu tô sambado há duas semanas, porra… Eu falei com ele … aí era o presidente do Cade ia mudar, sei lá… Ia mudar.
Temer – Mudou.
Joesley – Ele botou alguém aí. Henrique queria dizer o seguinte. Resumindo, eu também não sei se é hora de mexer com a coisa porque dentro do contexto geral também não quero importunar ele. Se eu for mais… Eu trabalhei com ele quatro anos, se eu for mais firme, acho que ele corresponde. O meu e até voltando um pouco a questão do Eduardo… Ó, briguei lá para ó… Agora tem que ver se… Tudo bem aí ele uns 15 dias antes ele vem e deu uma cobrada em mim: “Agora tem que trabalhar, né?”. Falei que não era assim.
Joesley – Ele tem interesse, Fazenda… Banco Central perdeu status de ministro, o Henrique ficou muito prestigiado. O Henrique também não vai sair fazendo… Ele é… Só eu te dar um toque em relação a isso. Eu não sei quanto eu vou mais firme no Henrique ou quanto eu deixo ele com essa pepineira aí e tal, enfim… Ele joga para cima de você eu posso bancar e não… Qualquer coisa eu falo com ele.
Temer – (inaudível)
Joesley – Pode, pode… Eu não vou falar nada descabido. Agora, seria isso… Importantíssimo para o Cade ponta firme…
Temer – Já foi, já foi. Em janeiro agora, aí eu falei pra ele… Foi nomeado presidente.
Joesley – Ele foi? Então não sei. Por exemplo, agora está o presidente da CDN pra trocar… É outro lugar. E eu queria assim: se eu falar com ele e ele empurrar para você eu poder dizer… Só queria ter esse alinhamento para a gente não ficar e para ele não perceber que nós estamos… Quando eu digo de mais firme isso é: Henrique, você vai levar? “Vou”. Então ele vem… É esse alinhamento. Só queria ter todos os termos mais ampliados e genéricos. Quando eu falar um negócio, pelo menos vai lá e consulta. [inaudível] BNDES, Geddel falou que teve todo o empenho, esforço. Não deu de um jeito, mas deu de outro e pronto, está certo. O BNDES está bem travado, esse negócio do BNDES é outra influência. Hoje tem que… Está falando com quem está problemático.
Temer – [inaudível] não pode mexer, eles têm medo de mexer em qualquer coisa. Isso aí para o BNDES é o que?
Joesley – Isso que eu quero. Consulta lá e me fala… No final de contas eu fiz o Henrique aqui, BNDES… Geddel você tem visto?
Temer – Falei com ele hoje por telefone.
Joesley – O Marcelo não vai voltar. Como é que vai financiar 2018?
Joesley – Tem um (ditado) casa que falta pão… Não tem nenhum remédio melhor que as coisas andando financeiramente. Todo mundo acalma.
Temer – [inaudível] …Consciência política, primeiro… Segundo… Terceiro a improcedência.
Joesley – Então tá bom. Puta que pariu. É duro o presidente… Igualzinho esse senhor aqui também. A gente fica equilibrante igual esse prato. Tem a empresa, tem o concorrente, tem os Estados Unidos, tem o dia a dia, tem a imprensa… Aí você vai ver tem que parar por conta de resolver coisa. Eu falo para o procurador. Ô doutor procurador, você quer me investigar não tem problema não, mas não fica dando solavanco não… Não fica dando solavanco e fazendo medidas e divulgando para a imprensa. Doutor, eu posso estar certinho, mas eu vou chegar lá morto de tanto solavanco que você me der. E, se eu estiver 100% certo, eu estou morto. Para com isso. Da última vez eu até pedi para ele…”me denuncia por alguma coisa”. Aí ele disse: “Mas eu não tenho nada”. Então eu falei: “Inventa, mas para com isso. Se o senhor ficar desse jeito, você vai me quebrar”. Nós somos do couro grosso né?
Temer – A vida toda assim
Joesley – Temos pé no chão… Lógico que passamos, passamos e vai passar, faltando talvez… Quando estava falando em anistia, o negócio da autoridade, a gente tinha uma coisa objetiva para lutar…. Tem que pensar o quê? Se não for atrás de algo positivo, esses meninos não têm juízo, eles não param… Eles vão ficar um delata um, que delata o outro, que delata um, que delata o outro. E a delação é a verdade, não precisa provar aquilo nada. É o seguinte: eu até perdoo… Já teve uns quatro, cinco que delataram uns nossos. Aquele Sérgio Machado. Uns caras que nunca vi na vida… Eu vi o vídeo, o que fala assim: “Fala aí da JBS”, “mas eu não tenho nada”. “Mas então vai preso ou vai embora.” “Eu não conheço esse povo, lembra aí senão não fecha.” Eu vi o vídeo do Sérgio Machado, ele comemorando o último capítulo que era a JBS. Quando acabou, ele comemora: “Ah, acabou”… Nunca mais passa perto da Petrobras, da Transpetro. Nunca vi o Sérgio Machado nem os filhos dele nem nada. “O procurador fala: “Fala, senão”… Aí o cara…
Temer – [inaudível]
Joesley – Eu fico imaginando… Teve um menino nessas operações que estava preso. Ele teve que falar alguma coisa nova, ele contando “gente, vocês não sabem, eu fiquei 15 dias humilhado na cadeia porque não tinha nada para falar”. O caso de tudo que aconteceu conosco teve só o tal do PIC (procedimento investigativo criminal). Não tem uma prova, não tem um dinheiro que eu depositei no exterior. Teve um dia que estava nos Estados Unidos e liguei para o meu advogado: “Olha, não precisa se preocupar não… É um PIC, procedimento investigativo criminal, é só um procedimento investigativo. Está bem. Em meia hora bloqueou as contas, passou mais meia hora e os bens estão bloqueados. Que coisa, não é problema? Coisa não é problema e mais meia hora está recolhendo os passaportes… Não pode viajar. Daqui a pouco no procedimento você é preso. Foi quando ouvi lá no procurador, dei um seguro garantia de um bilhão e meio e pronto. Resolveu o meu problema e imagina se não consigo fazer um negócio desse. É muito desproporcional. Então eu acho, presidente, tem que criar alguma agenda… Estava lendo o PSDB, agora estão se mexendo, não sei o quê…
Temer – [inaudível]
Joesley – Não vou tomar mais o seu tempo não.