Mais de U$ 35 milhões foram pagos em propinas para índios, ONGs, sindicalistas e políticos propineiros nas obras em Rondônia; Odebrecht pagou até férias de duas semanas da família Cassol nos EUA
Quem acompanha PAINEL POLÍTICO não ficou surpreso com as denúncias de pagamentos de propina que vieram à tona com a delação do executivo da Odebrecht Henrique Valadares sobre os pagamentos de propina a sindicalistas, políticos e outros agregados durante as obras das usinas do Madeira.
Ivo Cassol, então um dos maiores interessados, chegou a fomentar através de entidades empresariais um movimento intitulado “Usinas Já”, atropelando qualquer tipo de debate sobre licenciamentos ou compensações para Porto Velho e para o Estado. Com as delações vindo à público, ficou evidente que as compensações pessoais eram as que mais interessavam. E não por acaso, já que em 15 de junho de 2011, “Dallas”, como era conhecido Cassol na lista da propina, teria recebido nada menos que U$ 252.828,52. A Odebrecht também teria pago os advogados de Cassol, para que eles o defendessem em processos nas instâncias superiores.
Um assessor de Cassol, identificado nas planilhas como “Anjo”, teria recebido, em nome do então governador, quatro pagamentos, de pouco mais de U$ 6 mil em datas distintas, uma espécie de “mesada”.
Férias em família
O departamento de Comunicação do governo de Rondônia anunciou com pompa, em 2011, em release enviado à imprensa, que “numa solenidade simples, realizada na residência do governador Ivo Cassol poucos minutos antes dele e sua família se deslocarem para o aeroporto Jorge Teixeira – de onde saíram para uma viagem aos Estados Unidos – Cahúlla assumiu o que considera uma das mais importantes missões da vida: comandar Rondônia como governador em exercício durante o período de férias do governador titular”. O que o DECOM não contava no texto é que as férias de duas semanas da família Cassol nas terras do Tio Sam eram um “mimo” da Odebrecht ao governador. A revelação foi feita pelo delator, que identificou o pagamento na planilha como “Nova York”. Custaram U$ 59.908,94, passagens, diárias e “um dinheirinho para ajudar nas despesas”.
Mas “Dallas” não estava, como ele fala, “suzinho”. O ex-prefeito de Porto Velho, Roberto Eduardo Sobrinho (PT) também teria recebido propinas e segundo o delator, eram pagas “ao homem de confiança do prefeito, Odair Cordeiro em contas na região sudeste”. Cordeiro era chefe de gabinete de Roberto e faleceu em decorrência de um câncer em 2011. Também na planilha aparece o ex-presidente da Assembleia Legislativa Valter Araújo, identificado como “Árabe”.
Boni
O delator também se refere a José Bonifácio, que era o diretor de contratos da obra de Santo Antônio, que não está mais na empresa. Ele é apontado por Henrique Valadares como “a pessoa que convivia com políticos locais” e também seria responsável por pagamentos de propinas em Rondônia.
Manipulação
Durante as revoltas dos trabalhadores, os sindicatos “nadaram de braçada” na propina. Na época, PAINEL POLÍTICO mostrou intensa movimentação e reuniões ocorridas no hotel Vila Rica entre diretores sindicais e executivos das construtoras para tratar da revolta, já que os trabalhadores eram submetidos à condições de semi-escravidão. Porém, ao invés de representar os interesses dos trabalhadores, os dirigentes enchiam os bolsos. Dezenas de pagamentos foram efetuados para que os representantes sindicais “acalmassem” os revoltosos.
Para quem não lembra, em 2012 explodiu uma revolta em Jirau, os trabalhadores atearam fogo nos alojamentos e abandonaram o canteiro de obras.Os dirigentes sindicais convenceram que eles estavam errados.
Os valores eram depositados diretamente em suas contas correntes. Os valores de R$ 5 mil, correspondem aos pagamentos efetuados a Raimundo Enelcio Pereira, Altair Donizete de Oliveira e Ademilton Santos Borges. Já os valores de R$ 2,5 mil se referem aos deposites em favor de Valdeci da Costa Braga e Francisco das Chagas Costa. Também recebia propina, o presidente do Sticcero, Raimundo Soares da Costa, vulgo “Toco”, com mesmo objetivo de evitar vandalismo no canteiro.
Outros que também nadaram na lama da corrupção foram os índios. Antenor Karitiana, chefe dos karitianas, recebia propina mensal de R$ 5 mil para Antenor Karitiano (c/c da esposa), R$ 2 mil para Orlando Karitiano, R$ 2 mil para a Associação dos Povos Karitianos, e R$ 1,5 para pagamento de pequenas solicitações dos mesmos.