Governo recomendará apenas a 1ª dose, com dispensa da 2ª após 10 anos
O Ministério da Saúde passará a recomendar, a partir deste mês, apenas uma dose da vacina contra febre amarela para áreas do país onde a imunização é indicada.
Até então, o Brasil adotava o esquema vacinal de duas doses, sendo a segunda recomendada dez anos após a primeira.
A mudança foi divulgada nesta quarta-feira (5). O novo modelo segue o padrão já recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) desde 2014.
Segundo a coordenadora do PNI (Programa Nacional de Imunizações), Carla Domingues, a decisão por mudar o esquema vacinal ocorre devido ao aumento no número de estudos que apontam que a proteção contra a febre amarela é mantida por toda a vida, mesmo que com apenas uma dose da vacina.
"Quando se tomou a decisão na OMS em 2014, o Ministério da Saúde avaliou que os estudos que haviam naquele momento ainda não eram suficientes. E tomamos a decisão de fazer uma segunda dose cautelar. Mas à medida que os estudos foram atingindo mais evidências, vimos que era o momento de tomar essa decisão", afirma.
Nos últimos meses, no entanto, o ministério já vinha buscando soluções para aumentar a oferta de vacinas contra febre amarela em meio ao surto que atinge a região Sudeste do país.
O principal fornecedor, o laboratório de Bio-manguinhos, da Fiocruz, já vem operando em capacidade máxima nos últimos meses, com produção superior a 8 milhões de doses mensais.
A pasta também adquiriu 3,5 milhões de doses de um fundo estratégico internacional da OMS.
Questionada, a coordenadora nega que haja falta de vacinas, mas admite que houve aumento da demanda.
Atualmente, 3.529 municípios, distribuídos em 19 Estados e Distrito Federal, fazem parte da área de recomendação permanente para a vacina contra febre amarela.
Segundo Domingues, com a mudança, pessoas que já tomaram a primeira dose não precisam mais tomar a segunda. Em geral, a estimativa da pasta é que 30% das pessoas que tomam a 1ª dose já deixavam de tomar a 2ª após dez anos.
A pasta também calcula que 29 milhões de brasileiros que vivem nas áreas de recomendação permanente para a vacina, no entanto, ainda não tenham sido imunizados.
FRACIONAMENTO
Além da adoção de uma dose única, o Ministério da Saúde já se prepara para a possibilidade de fracionamento das doses da vacina contra febre amarela ainda neste ano em alguns Estados.
Para isso, a pasta tem organizado treinamentos para profissionais de saúde do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia e adquiriu 3,5 milhões de seringas especiais, utilizadas para ampliar as doses. A pasta também já faz estudos para ampliar a compra para 20 milhões.
Se aplicado, o fracionamento permite que uma dose da vacina seja dividida em até cinco. A diferença está no volume, que é de 0,1 ml na dose fracionada.
"Com um frasco com cinco doses e que hoje vacinamos cinco pessoas, poderemos em curto espaço de tempo vacinar 25", afirma Domingues.
A proteção, no entanto, é menor –estudos apontam que duraria apenas por um ano, enquanto a dose-padrão é capaz de proteger por toda a vida.
Apesar da preparação, a pasta nega que já haja uma decisão sobre a adoção do fracionamento.
De acordo com o secretário de vigilância em saúde, Adeílson Cavalcante, a ideia é adotar a medida apenas em casos de epidemia, e apenas em locais onde houver necessidade de medidas de controle.
Inicialmente, a medida é estudada como alternativa para os Estados onde houve recentemente a confirmação de circulação do vírus de febre amarela em mais cidades –caso do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia–, em locais que hoje não fazem parte da área de recomendação de vacinação.
"Ele não será utilizado em todo o país, só onde houver necessidade", afirma Carla Domingues.
Crianças, idosos e pessoas que vivem nestes locais e pretendem viajar para outros países, no entanto, continuam com a recomendação de uma dose completa.
Desde dezembro, já foram confirmados 586 casos de febre amarela no país, incluindo 190 mortes. Há ainda outros 450 casos em investigação, segundo o Ministério da Saúde.
Para Cavalcante, o cenário atual indica que a febre amarela está sob controle. "A curva de casos é descendente nos Estados que registraram o surto", afirma.